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terça-feira, novembro 10, 2009



Velório é afrodisíaco

A criatura humana é um sofisma de si mesma, por isso mesmo sempre abre precedentes interessantes, as vezes estranhos, eu gosto de estranhezas, aquela sensação que não se sabe bem o que é e nem tão pouco de onde vem.
Em tais momentos, a caixa de pandora se abre e o que espera ?
Mesmo as bizarrices precisam ser equânimes para que se tornem divertidas, pecar por excesso estraga a piada, mas a verdade que gostamos de passar o tempo, e como diz o poeta o tempo nos enterra.
Joelmir sempre fora boa pessoa, ao menos que se sabia dele(as vezes o que não se sabe de uma pessoa, a torna respeitável), tinha uma certa discrição nos atos, naturalmente se tornara pessoa melhor agora que um infarto havia tolhido sua vida assim, tão de-repente.
Foi no escritório, uma dor aguda no peito e caiu como se fosse um ator hollywoodiano, em câmera lenta, uma representação soberba do fim. A comoção foi geral, com quarenta e dois anos?
Era um jovem como dizem os mais velhos( o conceito de juventude evolui a medida que envelhecemos, tenho a impressão que seremos todos jovens com uma centena de anos...).
Deixara uma viúva jovem de trinta e seis primaveras, absolutamente linda, charmosa e com uma elegância que os próprios participantes do velório se entreolhavam em um consentimento silencioso.A verdade porem, que ela enquanto choravam o morto era apreciada digamos por outros ângulos, o vestido negro algo justo marcava uma bunda generosa, que certamente enquanto o morto era devorado por larvas, ela estaria sendo um profundo desperdício.
Uma coisa eu afirmo, ninguém conhece ninguém, e na hora morte, bem menos ainda, tudo se torna uma incógnita, nebuloso e esquecido.
As pessoas iam chegando uma a uma, falavam com a viúva, que estranhamente não deixava correr uma única lagrima, se tinha alguma dor era tão profunda, mas tão profunda que não foi possível encontra-la, alguns comentavam a boca pequena:
-Pobre mulher, tão traumatizada, um choque não consegue nem chorar.
Concordavam outros com aceno de cabeça.
Não tinha filhos, os pais já haviam morrido, de forma de que dona Marli, estava só, talvez mais que só. Aqueles óculos negros, possivelmente ocultavam mais ainda, ficava ali impassível, e em dado instante dava sinal de alguma impaciência, sorria triste com muita discrição.
Em determinado instante foi no banheiro, por muitos motivos, tentar aliviar a dor e a bexiga, no caminho depara-se com um homem que dava ares de seu marido morto, os olhos se fixaram, e o homem, um destes vagabundos de cemitério, ocioso, fumava e tinha um sorriso enigmático, percebia a viúva gostosa.
Ela passou perto dele, entrou no banheiro, lá dentro, uma sensação estranha a dominava, uma espécie de confusão mental, saudades de Joelmir? O amor entre eles era estranho lembrava, mesmo com uma mulher tão bela, ele não a tocava muito, o sexo era como feriados em ano bissexto, naturalmente entre a dor e a fome tudo termina por confundir-se, com a saudade e o amor.
Enquanto mijava abundantemente, lembra-se que Joelmir não era tão bom assim, um desfile de defeitos vinham a memória, justificativas era verdade.
A noite vinha caindo, e as últimas gotas de urina pingavam no vaso.Marli queria expulsar aquele sentimento malsão, quando o banheiro ficou quieto, solitário.
Acariciou-se, sentia –se molhada, excitada, aquele homem lá fora a olhara com desejo, entregou-se a um prazer solitário, mentalmente imaginava o caixão do marido rodeado de flores, os amigos canalhas de Joelmir que chegavam, aquelas velas lindas,as rosas, as coroas de flores, por fim aquele homem que sorria, gozou rapidamente,sem culpa.
Sempre gozava só, Joelmir enfim agora estava duro, as vezes o prazer vem depois, muito depois.
Até que a morte os separe.

Luis Fabiano.

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