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quarta-feira, novembro 11, 2009



Valéria

Todos temos pecados, uns mais outros menos, particularmente não é problema, infâmias existem entre atos carinhosos, resquícios de um primata a guisa de homem evoluído, mas por dentro, por dentro uma brasa queima em emoções sem fim, dolorosas as vezes e raivosas outra,e com ternura raramente.
Existem momentos que não se quer pensar em nada,alma calcinada e tudo é dor, Valéria saiu de casa, sem rumo, pela praia a noite, havia chegado ao ápice de tudo. Aquela casa, os móveis aquele conforto sem fim, o marido que a matava com seu amor, jamais tivera imaginado que amor também ”mata”.
Vira na novela hoje, a personagem, espelho de suas angustias:
-Numa relação o amor não é tudo...
Riu seco.
Tudo que sempre acreditou era o amor, imaginava que amor devia ser eterno, o casamento indissolúvel, aquelas juras todas, isso era tão perfeito quanto as fotos defronte o bolo, sorrisos em uma festa. O problema talvez fosse a perfeição, em demasia.
Marco sempre foi tão atencioso , ele é tudo que uma mulher quer, tudo mesmo: profissional bem sucedido, gentil, educado, amoroso, inteligente e o corpo tava legal, isso deveria ser felicidade certa.
Não somos seres que apreciam a perfeição, uma reta interminável, somos seres de mão dupla essa é nossa dor e alegria também. Valeria respeitava Marco, e o amou, mas porque o amor foi fenecendo como as estações que se vão?Não entendia. Se tudo era tão bom, isso não deveria ser estragado nunca. Mas não.
Via os dias passarem, e o amor de Marco parecia aumentar, e o dela escorria por um ralo, seu desespero era saber uma causa especifica, causas especificas não funcionam bem quando se trata de coração humano, somos movidos por tantas coisas que calam fundo em nós, e as vezes por rasteiros pensamentos que nos arrastam por ai...
Marco ia se tornando insuportável, aquele amor todo machucava...Marco, por favor me deixa um pouco só?
Ele sorria, gentil, feliz e dizia sempre:
-Claro, depois falamos.
Era tudo que eu não queria ouvir.
Talvez nos faltassem problemas, todo casal tem algum problema, e o problema deveria nos irmanar, nos fortalecer criar uma cumplicidade a mais. É faltavam problemas.
Sentia-se boba pensando nisso, sabia que o amor não se cria em um pote, ou ele nasce pelas combinações químicas do corpo e da alma ou ele não é nada.
Valeria tivera dois homens em sua vida, um namorado da juventude, inocente e depois Marco preencheu todos os espaços de seu coração, em sua lembrança ele era tudo em sua vida. Tudo? Cuidado com isso.
Porque tudo desbota?
A saudade do passado espreme lagrimas, nunca é possível voltar no tempo, vamos sendo empurrados, tocando gado pela vara dos dias a frente sempre a frente. Gostaria de esquecer tudo isso, tanto dilema, e simplesmente abraçar Marco como antes?
O amor dele me machuca tanto, vou me sentindo uma pecadora sem redenção, uma Maria Madalena apaixonada pelo nada, pelo desconhecido, porque precisava ser assim? Dizer para Marco que estava indo embora, é terrível demais, queria tanto que ele a mandasse embora como uma cadela, seria mais fácil, com indiferenças é sempre mais fácil lidar, mas quando se ama e você precisa ir embora, destruir o coração de alguém, como se faz isso com delicadeza?
Mentir seria muito pior.
Amor acaba sim, e não precisa ter uma causa, nem traição, nem diferenças sem fim ou violência, sentia isso na pele, as noites são sempre terríveis, como se sombras soprassem coisas más.Voltarei para casa, e pela manhã iria dizer a Marco que tudo estava acabado.
Fim.

Nunca se tem como medir uma dor, o que para ti é picada de uma agulha no dedo, para outro é uma lança cravada no peito.

Luis Fabiano.

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