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quarta-feira, novembro 18, 2009



Sede de amor.

Impossível deixar de lembrar de Sônia. Mesmo agora que o tempo já encarregou de destruir a mulher que ela era, não preciso repetir, o tempo passa, e tudo cai, bundas caem,seios caem, os cabelos e os dentes também, a flacidez toma conta é como se fossemos nos transformando em gelatina...
lembranças ficam.
Quando a conheci ela exercia a mais antiga das profissões, ou por outra como diz meu amigo Magalhães; “ ela era uma prostituta vocacionada”. Adorava o que fazia e fazia muito bem, posso falar por experiência própria, este tipo não existe mais, sem romance, sem carinhos ,sem chamar de meu amor, sem nada, só dinheiro pouco ou muito, só dinheiro.
Ela começou com essa vida por que quis,nada destas desculpas mitológicas da atualidade: ela esta fazendo para pagar a faculdade; é apenas por um tempo; não pretendo ficar fazendo isso, e outras tantas asneiras, a busca de uma justificativa qualquer. Verdade seja dita, dar é muito fácil, é dinheiro garantido rápido, praticamente no ato!
Quando as coisas ficavam “duras” demais, nada que um gel lubrificante não resolva...escorrega para dentro gostoso, ao som de uma caixa registradora, a cada orgasmo a gaveta abre, cédulas se espalham.
Mas Sonia era diferente, amava o que fazia, saiu de casa com dezenove ou vinte anos e ganhou a rua da cidade, franguinha nova, natural que abutres lhe dessem a direção certa para o erro, estranhamente o erro, o pecado, a infâmia torna-se apaixonante, os vicios do amor.
Logo meteu-se em uma casa dessas, que guardam putas a granel, todos os tipo, cores e sabores.E ali tornou-se eximia, falava baixinho, tratava os clientes como esposas e namoradas não tratam, sim, carinhosa ao extremo e sem pudores,sem limites, a cada cliente um amor diferente.
Não foram poucos que quiseram arrancar Sonia daquele lugar, dar-lhe o lugar da esposa rançosa, opaca e indiferente. Nunca quis, não estava a procura de marido, mas amor...
Eles sempre voltavam. Ela linda, perfumada e com olhar de pecado, aqueles longos cabelos negros soltos,e minúscula lingerie, amor a primeira vista .
Atendia apenas três por dia, nada mais, fazia parte das suas regras, fazia com tempo.
Eles chegavam com flores, jóias, dinheiro e até a aliança do casamento, ela sorria suave, dizia para guardar a aliança, porque ele iria precisar dela mais tarde, quando voltasse para casa. Como toda profissional Sonia era especialista em oral, fazia com tanta maestria que raros agüentavam até o final, gozam antes, com profundo sofrimento.
Dirão os mais incautos:Sonia era só mais uma chupadeira, nada mais.
Ledo engano amigos. Isso é uma verdadeira arte, capaz de arrancar-nos a alma e elevá-la as alturas, como qualquer coisa que se faz com vontade plena, colocando o coração e a plenitude do ser, isso é capaz de nos guindar a transcendência, uns pintam, outros escrevem,outros interpretam e Sonia suga,e naqueles breves segundos, existe silencio em nossa alma.
Certa feita, após o ato consumado com antigo cliente, este muito tranqüilo e abraçado a Sonia, pergunta-lhe coisas tolas, ela em silencio, mas uma pergunta termina por levar Sonia a falar:
-Sô, porque você não vai embora daqui? Ter uma vida normal, como uma mulher comum? Seria tão mais simples.
Um breve silencio e Sonia responde:
-Que mulher quer ser uma mulher comum? Eu não quero.Quero ser feliz, mesmo que seja por pouco tempo. Não quero carinhos mornos de um marido de anos, não quero ver-lhe todos os defeitos e sorrir dizendo que esta tudo bem, não quero que o tempo faça ele esquecer a mulher com quem se casou.Nada disso. Dou-lhes um pouco de minha vida,seus casamentos seguem felizes e eu encontro a paz aqui, onde quer que eu esteja.
Beija-lhe a boca, beijo longo e molhado.
Ele olha no relógio, já havia passado mais de três horas, sentia-se feliz, alma plenificada. Acostumara-se a Sonia, mas era preciso ir embora, agora.

Luis Fabiano.

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