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domingo, novembro 29, 2009



Minha noiva, é um cadáver.

É claro que ninguém mais se surpreende com nada. Os acontecimentos mais bizarros da vida, são narrados como uma serenata cotidiana, um desfile de notícias estranhas, que pelo contato terminam por parecer comuns. Cai tudo numa vala de indiferença.
Morte, sangue, crimes de diversas montas tudo fica muito semelhante, comum e sem graça. E foi exatamente assim que dei-me conta de minha estéril vida de “casado”, sinceramente não gosto desta palavra “casado”, sempre soa pesado demais.Não gosto de pesos.
Mas o que era um inocente namoro, converteu-se naturalmente em uma vivencia em comum.Com direito a eu te amo e tudo.
Tenho este terrível vicio de deixar o barco correr, não tomo decisões, deixo elas transitarem, e as vezes sou arrastado a abismos e doutras guindado aos céus. Em primeira instancia Viviam era “maravilhosa”. Como gostaria que tudo permanecesse em primeira instancia. Nada é assim.
Três meses depois de estarmos morando juntos, havia em mim um tédio sem fim. Chamem do que quiser, um amor instantâneo, uma paixão e um tesão que acabou mais rápido que tudo. Penso nisso com um pouco de raiva as vezes, mas me acalmo, não tem porque, mais uma relação das infinitas que tive.Vala comum das indiferenças.
Não agüentava aquela casa sempre em festa,cheia de gente. Horrível, chegava a noite queria descansar a cabeça, talvez receber um abraço, um beijo carinhoso, muito carinhoso. Não acontecia. O local onde morava, uma espécie de porto seguro do inferno, repleto de educação, sorrisos, boa noite, abraços fracos,tapinhas nas costas e mais sorrisos, claro, tudo regado a bebida, sempre tinha bebida.
Nada contra a bebida,ela me foi um grande auxiliar, porque embriagado tudo tinha sentido, uma vida que não era a minha, mas que ia se adaptando como baratas se adaptam a qualquer ambiente.Estes dias vi uma barata dentro da geladeira, viva, estava viva! Fiquei feliz por ela.
A relação começou a morrer, definitivamente foi quando o sexo que já era meio fraco, simplesmente acontecia apenas uma vez por semana, quando acontecia. Não sei porque Viviam gostava de quarta feira, eu já sabia tudo de cor.Aprendo padrões rapidamente.
Era hora de deitar, ela deitava-se nua, essa era minha deixa, deveria acontecer beijos, uns abraços, e a coisa ia para um papai e mamãe, detesto esta posição. O que mais me aborrecia era a ausência de paixão, de tesão, de cheiros fortes, de uma pegada mais ousada.Ela era certinha demais.Não gosto disso.Sexo deve ser entrega com voracidade, sem limites ou restrições morais, não foram poucas vezes que broxei com ela.
Viviam não tinha cheiro, nenhum cheiro, sou do tipo primitivo.Acho que a boceta deve cheiro de boceta, aquele aroma de urina, suor e sucos vaginais, este é o cheiro perfeito,perfume dos que entendem de prazer.
Posso dizer que cada mulher tem o seu, todos são maravilhosos.Viviam não tinha cheiro.Tédio, trepavamos por alguns minutos, ela gozava, as vezes eu gozava, e estranhamente ela levanta-se para lavar-se, não gostava de dormir melada, como me dizia em tom solene.
Aquela limpeza toda era um verdadeiro nojo. Tão limpa, tão sem cheiro, tão nada,e eu, tão ausente.
Com meio ano de relacionamento, tinha a certeza que nada daria certo, mas sou do tipo que esgota tudo, deixo chegar ao meu limite e vou embora, não gosto de explicar, explicar o inexplicável? Trocar ofensas, xingamentos e alimentar ódios sem fim. Sou mais odiado que amado, sei que gostar de mim não é muito fácil, nem quero que seja.
Um dia no alto de uma bebedeira olhei para Viviam, lembro que a vi rindo com todas aquelas pessoas, tinha uma plastia de felicidade, um risada ensaiada artística, falsa.
Ali ela morreu para mim. Estou acostumado com a morte, já a vejo como um evento natural e sem problemas, tudo morre, crianças morrem, coelhinhos peludos morrem, tubarões também, e alguns seres humanos já estão mortos em vida, fechar os olhos é apenas um ignóbil detalhe.
No dia seguinte fui embora, peguei minhas poucas coisas, e parti, como todos os aspectos desagradáveis que envolvem uma separação. Separação sempre é uma merda, gostaria que as coisa ocorressem simultaneamente, silenciosamente e em paz.Um espécie de nado sincronizado de emoções.
Mas não é assim, o adeus envolve uma guerra, envolve orgulho ferido, egoísmos machucados, perda de tempo e a caça de um culpado.Sempre tem que ter um culpado.Não tenho problemas com culpa.
Viviam, a noiva cadáver, fez o que pode para me prejudicar, se ela tem razão ou não isso não faz o menor sentido.O tempo passa, e consome tudo, lágrimas secam,arrependimentos vêem a tona, mas não comigo.Fico só e em paz,só o quero é ficar assim, com alguma tranqüilidade e vivo de alguma forma.

Luis Fabiano.
Chama da paz.

3 comentários:

Anônimo disse...

Fabiano, este texto é biográfico literalmente?
Responde por favor.

Dóris disse...

Bom texto Fabiano, não importa se é biográfico ou não.
Gostei inclusive que você encontrou uma barata dentro da geladeira, rs rs, certamente a pobre estava com muito calor.
Abraço meu caro.

Anônimo disse...

Cara ta muito bom. Ao meu ver estas melhorando a cada dia,verdadeiro,fictício não importa.

Sérgio.