Pesquisar este blog

quinta-feira, outubro 29, 2009



Insuportável amor.

-Não vou me vangloriar pessoal, detesto ufanistas, mas quando se tem uma vasta experiência amorosa como eu, posso dizer de pronto; conheço o capenga deitado e zarolho dormindo!!
Aquilo mais parecia um comício, Péricles já lubrificado pela cerveja, falava alto e ria toscamente como riem os bêbados (nada contra o santo álcool, defendo que por vezes ele torna as pessoas interessantes, e faz casamentos durarem a eternidade...), aquela roda de amigos era um palco.
Contava a respeito de Kátia uma de suas ex-mulheres, namorada, amante, concubina e etc...e dizia:
-No inicio sabem como é, não é, eu era o Adão mais feliz do mundo, aquela mulher era uma verdadeira gueixa importada,fazia tudinho pra mim, e sempre, absolutamente sempre dizia que me amava muito, isso é bom de se ouvir as vezes confesso, afinal dizem que relacionamento deve existir algum amor, ou pelo menos um que ame, não é?!
Riu-se, dando uma enorme cusparada no chão, era um canalha profissional com todos os achaques que o deboche permite, porem todo o bom canalha eventualmente sente algo, por isso sempre digo, todo o canalha tem um bom coração, isso o salva, isso o redime.
Então, veio a pergunta a Péricles:
-Cara, se a tal mulher tu gostava,eras apaixonado, ela era tudo isso que tu disse, então que houve? Isso é o que todo mundo quer, paz em uma relação...
Péricles, obtemperou com a interrupção, serviu mais um copo de cerveja,e o pouco de sua consciência ouvia o nobre questionamento, respondeu:
-O Carlão, qual é? Tais parecendo mulher com estas perguntinhas, assim até me lembras a Kátia...mas tudo bem, vou responder em respeito a este copo:
-Mesmo Adão teve problemas com Eva, e aquela nossa vidinha era perfeitinha demais sabem, trabalho, casa, almoço, janta, aquela transadinha de meio de semana,meia foda, e confesso que sair de casa pra trabalhar era um alivio, não vê-la por aquelas horas me fazia bem, mas saudade não tornei a sentir é verdade.
Isso era uma coisa.
O pessoal se animou, numa expectativa, ali naquela roda de semi bêbados e inúmeros canalhas aspirantes a traidores, queriam saber o desfecho.
Limpou a garganta e seguiu Péricles:
-Uma coisa eu digo, felicidade demais é uma espécie de escravidão, era tudo tão bom que de alguma forma doía meu coração, eu já estava em conflito existencial, eu gostava dela, ela era tão perfeitinha né? E sempre dizia: Péricles eu te amo...muito. Péricles eu te amo muito...
Como já disse aquilo era bom de se ouvir, assim eventualmente, porem o que estava acontecendo, que pelo menos aos meus ouvidos a voz de Kátia parecia, fanha ou algum problema de dicção, mas a verdade quando ela me falava, eu te amo, me dava uma espécie de nojo, asco mesmo...
Risadas de todos, nojo de amor? Que isso...
Como se sentisse alguma espécie de reminiscência, remoendo e abrindo calejadas feridas, buscou na memória, o rosto de Kátia se desenhava, e a voz: eu te amo com aquele som anasalado...
Voltou a si.
-Mas era verdade, a pá de cal no relacionamento foi o dia ela me disse eu te amo, algumas vezes, como uma tortura atroz, inventei uma desculpa qualquer e fui embora, sem lenço e sem chapéu!
Não aguentava mais aquele Eu te amo, ninguém aguenta ser amado assim, é a era muito chato, tenho para mim que amar assim é uma espécie de indiferença por si, um egoísmo travesti...
Aquela ultima frase causou frisson naquela turba divertida que ria de tolas emoções humanas, quem ri ou é muito estúpido ou sábio.
Ecos de risadas.
Mas nunca, em nenhum momento alguém perguntou por Kátia,apenas pediram mais cerveja.

Tim-Tim.
Paz profunda.
Luís Fabiano.


2 comentários:

Dóris disse...

Ufa...rs rs, ainda bem, um conto...é a isso que me refiro...texto e não poesia....dependendo de como é o texto, ele já é uma poesia....
Mas gosto destes teus contos irônicos...assim, se aprende um pouco mais sobre o universo masculino...rs rs rs.

Anônimo disse...

O autor varia muito os temas,imagino que a convivência com o mesmo seja uma montanha russa.
Escrevemos sempre o vai no coração.

Vera.