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quinta-feira, julho 23, 2009



Estava lendo esta magnífica obra de meu amigo Magalhães, sensacional,não resisti a coloca-lá no blog, pois a identificação é espontânea em muitos níveis com o blog, apreciem sem moderação:


“... vitima da involuntária sensação de onipresença; apesar da tardia hora moleques mal-ajambrados brincam nas adjacências e fazem companhia aos hediondos animais,e varias mulheres,fastidiosamente conversam sentadas nos portais dos prédios,e de quando em quando espouca uma ou outra gargalhada, e o riso histérico se perde entre os casarões envelhecidos, e há muito carentes de altivez;ele entra no hotel e logo, vê a um canto um balcão de madeira, atrás do qual esta gorda mulher, seios a mostra, folheando distraidamente um exemplar de revista pornô, e a megera ergue os olhos de sapo(cuja cor ele não consegue definir),que coaxa algo ininteligível ;há suspicácia nas pupilas dilatadas;olha-o firmemente, reforçando a desconfiança; que pensamentos engendrariam a mente dessa tipa asquerosa, pensa ele, e com vontade de apertar esse pescoço gordo, suarento,onde há enorme e preta verruga; que falta ela fará á humanidade? “ Desembucha,nanico!” exclama ela, e ao ouvir o coaxo da puta sente de imediato a velha e tradicional ulcera lhe dilacerando o estomago, e ele quis ser um rolo compressor e passar por cima desse corpanzil cheio de gases, e transformá-lo em papel higiênico, papel, alias que limparia as bastardas bundas que infestam o planeta. A gorda ergue a sobrancelha esquerda e reforça o azedume, guardando mecanicamente a revista debaixo do balcão; depois fica a espreita, morta-viva lhe desafiando; “ És tira?”, indaga ela tamborilando grossos dedos sobre o sujo tampo do balcão, e ele fica ainda mais serio,totalmente petrificado, e ela cada vez mais inquieta; “Se és tira vai dando o fora daqui,nanico...Ta tudo limpo no hotel, se que sabe...” “ Não sou tira, não...Só quero uma mulher...”;”Ah, o diminuto ta procurando sarna?”; “É ,quero trepar...” “ E eu sirvo?” e o serve brota impensado , e quando ele se da conta a gorda sai de trás do apodrecido balcão, volumosa bunda sacudindo, sorriso retorcendo os pusilânimes lábios, e o enlaça, carregando-o corredor adentro, corredor escuro, tênue lâmpada esparramando pelas paredes e chão pálida luminosidade,e de súbito se dentro de um abafado quarto com uma pequena e cerrada janela, cheiro de suor e urina, e a um canto há desarrumada cama,lençóis manchados,e entre os quais enorme e gorda barata caminhando apressadamente;” Ta aqui nosso ninho, fofura,!”grasna a gorda,e antes que ele fosse vomitar a mulher lhe tapa a boca com aguaxado beijo ,e sua mão suada,firme, libera encolhido membro,e ele não consegue evocar a imagem da desconhecida,e fica a mercê da mulher ouvindo de quando em quando em estridentes gargalhadas,e talvez longínquos pardais aos chilros, quem sabe também o badalo de sino numa noite de aflito silencio..."

Dois textos Marginais - Manoel Magalhães.

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