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terça-feira, maio 05, 2009



A espera

Existem coisas que acontecem em nossa vida que parecem seguir por assim dizer um determinismo oculto, como se quiséssemos que algo acontecesse mas simplesmente não ocorre, e ai ficamos a nos questionar o estaria errado?Onde erramos? A bem da verdade nosso querer não é onipotente, somos simples almas, em um planetinha perdido nos confins do universo tentando apenas sobreviver e apenas isso, reduzir o ser humano a sua verdadeira dimensão é ter noção profunda de nossa irrelevância ,nada mais.
Tereza descobriu isso naquela fatídica manhã quando fora pegar o exame de gravidez, sua vida tomaria outro rumo fatalmente, tentaria evitar “aquilo”é certo, como tentou ao sair com aquele maldito papel entre os dedos, numa reação previsível de ansiedade e raiva, foi procurar o “pai” daquele que seria seu rebento, claro queria uma solução afinal 27 anos e ela ia ser mãe? Deus me livre dizia, sentia ojeriza de sí...
A algumas noites anteriores a isso... Tereza entregara-se a Pedro de forma bruta e apaixonada, ambos estavam bêbados e a responsabilidade fora para os ares, foda-se o resto pensavam, estavam altos demais para decidir seja lá o que for, os sentidos aguçados e o prazer chamava, e era preciso não escutar mais nada, nada, nada, bem agora tudo ia mudar...por que as coisas são assim ou mudam por nossa vontade própria ou pelos terremotos que a natureza nos presenteia em plena vida por vezes nos obrigando a mudança de comportamento, para melhor, para pior...
Naquele momento Pedro não tinha nada a dizer, estava irritado com aquela vagabunda que iria ser mãe de um filho seu, foi digamos sutil dizendo:
-Seguinte Tereza, tira essa merda, afinal ainda é apenas um bola se sangue mesmo, não tem corpo, não se mexe e nem é uma pessoa mesmo ainda, aquela foda tava boa mas isso? Não.
Pedro era de uma profunda ignorância, entendia apenas de tijolos e argamassa, transar com Tereza foi um golpe de “sorte”, encontraram-se em uma festa e aquele dia Tereza estava com muito tesão e era de um temperamento inconseqüente quando meio alta, bem deu no que deu...Pedro deu uma grana e disparou:
-Bem, te vira não quero saber de filho, tira essa porra e deu, fim de historia.
Sua cara fechada deixava claro que ambos haviam feito merda e agora era preciso resolver, era preciso resolver de algum jeito.
Tereza saiu dali e foi falar com umas amigas que já eram experimentadas nisso, em técnicas de aborto e tal, ela conseguiu umas tais pílulas e correu para casa pois iria tomar e segundo os efeitos corretos teria um sangramento horrível e tudo terminaria em um mar de sangue e paz afinal!
Esse era o esperado, porem não foi nada assim, ela tomou o remédio e como pílula de açúcar foi totalmente sem efeito, nada, ficara bem e tranqüila.
Havia raiva, dela mesma, do futuro pai e claro daquela criança maldita que lhe começava a dar enjôos, a mexer-se como um peixe dentro de si, aquilo era horrível.
Perguntei a Tereza como ela se sentia grávida?
Ela foi muito fria e tranqüila ao dizer que estar grávida é uma merda, que algumas mulheres poetizam isso, mas que de longe até poderia ser, seu corpo estava ficando horrível, tinha enjôos homéricos, uma fome que não cessava, aquilo na barriga dela mexia-se de um lado para outro,não há poesia nisso, é chato demais, para dormir é outro transtorno, meus seios estão enormes e cheios de leite, e sexo ? Bem ai não pode ser mais sexo tem que ser amorzinho” gostoso, porque não posso fazer todas as posições ou mesmo rolar um sadomaso, tudo deve ser devagar...bem, onde esta a poesia?
O drama seguia, agora começava a travar uma guerra silenciosa, o tempo havia passado e agora Tereza não sabia mais se queira tirar aquela criança, pois é assim, mesmo quando se é um ser humano desprezível, não se consegue ser absolutamente desprezível, algo em nós nos chama a uma espécie de manifestação do bem que alguns chamarão de presença Divina, mas a verdade que Tereza questionava sua consciência se devia matar aquela criança...ali começava a nascer uma mãe, e então como se fora um parto ao contrario o filho em seu ventre começava a gerar um ser humano melhor e havia uma simbiose de mãe que tornava-se filha, e filho que tornava-se mãe.
Foi um momento ela teve aquele instante de lucidez e logo mórbidos pensamentos poluíam a sua mente novamente, pensava nas dificuldades, seria uma mãe solteira, a questão financeira, os impedimentos que sua vida sofreria, as mutilações, problemas, problemas, problemas, mas estranhamente seguiu em frente,até aquele momento não tinha ido a nenhum medico, começou a ir, a cuidar-se um pouco, aquela criança eventualmente mexia-se dentro de si, agora já cogitava em um nome.
Tereza estava começando a aceitar a idéia, embora com surtos eventuais de raiva por aquela situação não era de forma alguma o que planejara para sua vida,mas a vida muda e nos mudamos com ela, então quando começaram a chegar os presentes para o seu futuro filho, amigas presenteavam com roupinhas de criança, aquilo era tocante e novos pensamentos bons invadiam sua mente e tudo se renovava. Por fim já estava uma mãe pronta, tinha pensado nos nomes e agora estar grávida ate tinha sentido para ela, sentia-se melhor, uma pessoa melhor.
Naquela noite dormiu feliz, mas estranho seu filho não se mexera como antes...
Tereza acordou com um dor no baixo abdômen e com um sangramento descomunal, estava sozinha em casa, a solidão tem dessas coisas, ela chamou o taxi, foi auxiliada por estranhos até chegar o hospital, foi atendida de emergência, mas era tarde demais.
Ela foi sedada para ficar mais tranqüila, quando acordou horas mais tarde um medico educado em tom melancólico lhe daria a noticia trágica, houve um problema,e Tereza perdera seu filho em um aborto espontâneo, fizemos uma cesariana para remover o feto.
Quando Tereza acordou definitivamente a sua vida havia mudado novamente, não era mais mãe, e ela agora queria ser, tocava a barriga vazia, onde estava aquele carinho quentinho que sentia ?Não mais.
Quando saiu do hospital e voltou para sua casa, sentia um vazio profundo pegou as roupinhas que seriam de seu filho,sim era um menino, chamar-se-ia...as lagrimas vieram e os olhos ficaram marejados um soluço rasgou o silencio, e como dores do parto as avessas Tereza nascia para ser uma outra mulher.
A emoção é um redemoinho, nos traga, engole e fatalmente nos transforma.

Carinhosamente as mães anônimas.

Luis Fabiano.