“Existem sonhos de varias formas, tamanhos e consistências. Bons, ruins, mais ou menos e constituídos de coisas que não valem nada.Porém,há sonhos nos quais cabe o mundo inteiro,num lugar onde o longe é perto, envolto em luminosas teias de luz.Aquela noite,que começara com a cidade atolada a minha garganta, por milagre transformou-se em noite de veludo,tenra e quente.É isso aí.Eu sonhava um sonho bom.Tanto lá fora – tudo limpo luminoso - como dentro do apartamento, as coisas me pareceram na mais perfeita ordem.Móveis,livros, CDs...objetos grandes ou pequenos, apesar de quase destruídos ,possuíam o mesmo padrão de organização.Mágica interativa.

Deixei o quarto, me sentando a frente do piano. Corri os dedos pelo teclado destruído, calma e estranhamente. Senti-os tenros, macios; textura epidérmica, quente. Ah! Tocar blues! Desses blues gemidos, recendendo a suor de corpos no frenesi do amor, mercê da mágica do piano. Meus dedos acariciavam as teclas, arrancado-lhes um blues luminoso,libertando-me da solidão.”

Manoel Magalhães - Vampiros.