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terça-feira, setembro 16, 2008

Meu Amigo


Meu amigo,não sou o que pareço.
O que pareço é apenas uma vestimenta que uso - uma vestimenta cuidadosamente tecida, que me protege de tuas perguntas e te protege de minha negligencia.
Meu amigo, o Eu em mim mora na casa do silencio, e La dentro permanecerá para sempre, despercebido, inalcançável.
Não quereria que acreditasses no que digo nem confiasses no que faço - pois minha palavras são teus próprios pensamentos e meus feitos,tuas próprias esperanças em ação.
Quando dizes: ”O vento sopra do leste”, eu digo:”sim,sopra mesmo do leste”, pois não quereria soubesses que minha mente não mora no vento,mas no mar.
Não podes compreender meus pensamentos , filhos do mar, nem eu gostaria de que compreendesses.Gostaria de estar sozinho no mar.
Quando é dia contigo, meu amigo, é noite comigo. Contudo, mesmo assim falo do meio-dia que dança sobre os montes e da sombra de púrpura que se insinua através do vale:porque não podes ouvir as canções de minha trevas nem, ver minhas asas batendo contra as estrelas – e eu prefiro que não ouças nem vejas.Gostaria de ficar a SOS com a noite.
Quando ascendes a teu céu, eu desço ao meu inferno - mesmo então chamas-me através do abismo intransponível.”meu companheiro, meu camarada”, e eu te respondo “Meu camarada, meu companheiro” - porque não gostaria de que visses meu inferno.A chama queimaria teus olhos, e a fumaça encheria tuas narinas.E amo demais meu Inferno para querer que o visites.Prefiro ficar sozinho no inferno.
Amas a Verdade e a Beleza e a Retidão. E eu, por causa, digo que é bom e decente amar essas coisas. Mas, no meu coração, rio-me de teu amor.Mas não gostaria de que visses meu riso.Gostaria de rir sozinho.
Meu amigo, tu és bom e cauteloso e sábio. Não, tu és perfeito - e eu,também,falo contigo sabia e cautelosamente. E, entretanto, sou louco. Porem, mascaro minha loucura.Prefiro ser louco sozinho.
Meu amigo, tu nãos és meu amigo,mas como te farei compreender?Meu caminho não é teu caminho.
Contudo,juntos marchamos, de mãos dadas.

Gibran Khalil Gibran – O LOUCO

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