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quinta-feira, julho 17, 2008



Fragmentos do cotidiano

Olhos verdes: Da beira de um lixo.

Caminhar é uma experiência excelente para quem sabe desfrutar da paisagem, para quem sabe observar o ambiente “comum”e enfadonho da cidade, meu olhar embora eu seja completamente míope, estão sempre procurando algo interessante, o mundo dentro do mundo, as vezes isso é fugaz e apenas sensório não chegando a inspirar nobres pensamentos, mas com toda certeza existem situações que passam despercebidas de nosso cotidiano e que embora sejam por vezes dramáticas, possuem sua plasticidade estética quase imperceptível abalroada pela nossa indiferença, contra-ponto do viver. Nem tudo é bonito, isso é certo.
Nas proximidades da Barroso, numa daquelas vielas tinha uma caçamba de lixo destas que ficam entulhadas quase a beira da calçada com todo tipo de lixo possível,eu caminhava lentamente e por instante vi que algo se mexia naquela caçamba, pensei comigo:será um rato enorme? Ratão? Me aproximei para matar a curiosidade vã, quando cheguei a beira da caçamba tinha uma garota de aproximadamente quatorze anos remexendo sacos de lixo, abrindo-os em busca de comida, algum utensílio alguma coisa...qualquer coisa.Então ela olhou para cima e seu olhar encontrou o meu, na moldura encardida de sua face, lábios assados, nariz sujo, cabelos negros e grudados, grossas sobrancelhas e olhos, olhos verdes brilhantes, lindos, um olhar repleto de vida, intensidade que me encarou diretamente.
Eu sorri e disse:Oi, e ai tem alguma coisa ai? Eu disse rindo meio que querendo breve papo. O olhar da criança se desarmou e disse: é to procurando né, mas as vez tem!
Ai perguntei o nome dela, chama-se Heloisa, com H, ela me falou, eu sorri mas claro que entendi a mensagem do H, a letra que significava sua dignidade seu ser de si mesmo, o não ser abjeto.
Conversamos um pouco, mais e ai o restante você pode fazer idéia, drama existência de cada um, que se repete a milhões de pessoas, condições difíceis, miséria, vícios no lar e coisas correlacionadas, vida sem beleza e sem brilho, drama de existir conseguir sobreviver.
Lembrei de minha infância,claro nunca passamos fome e fui ensinado a aproveitar bem as coisas ate o fim e limite, não desperdiçá-las em vão, porque de alguma forma era o entendimento de não sentir-se culpado por de certa forma usurpar quando não faz uso devido,daquilo que nos abunda no medonho desequilíbrio do mundo, a falta ao que não é diferente de mim, tão humano como eu, ainda que chafurde como um rato.
Passaria indiferente sim, como quantas vezes se passa, mas você entende que existe o momentum, em de alguma forma a dor alheia é tua dor também sem que isso seja psicopatológico,pois afinal, não é e nunca será bonito ver entes humanos em meio ao lixo, confundidos com o lixo.Minha mente vôo longe com o olhar de Heloisa com H.
Penso que este mundo mesmo é um ambiente hostil feito para o crescimento e os que não conseguem crescer, respirar não vitimas de um caótico sistema, são partes dele e que lhe falta a compreensão disso,a culpa não é minha, não é tua ou de Deus, não existe culpado, a batalha de cada um é guerra de cada um e por vezes é preciso endurecer as coisas,criar uma carapaça, e por outra afrouxar aliviar,Heloisa era o símbolo disso,espero mesmo que ela sobreviva. Pelo que vi, ela esta mais viva que muitos que conheço de olhar apagado e sombrio, estado da alma.
Canta em silencio a musica da miséria, não tocas em alva e macia seda, mas rastejas imitando abjetos seres,mas brilhas em olhos de esmeralda esperança viva,quente de sonhos que não se partem ainda que em brava hostil seja agredida vida.

Carinhosamente.
Paz e luz em teu caminho - Heloisa.
Luis Fabiano.

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