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quinta-feira, março 20, 2008


Farmacinha

Amanhecia mais uma manhã daquelas “normais” sem entrarmos no conceito de normalidade que sempre é algo complexo de ser entendido a primeira vista, ela acordava e antes de mesmo catar tateantemente os óculos já procurava o seu Toptil(equilibra humor na depre) para possivelmente evitar alguma recaída, então pegando os óculos começava a distinguir a manhã,entre realidade e sonhos de uma noite difícil, era mais um dia! Nunca e jamais era igual aos outros, então mais que rapidamente pegava o Viril Force(estimulante físico) para então evitar um possível descaso em relação a vida e vontade de não ter vontade.Medo?
Era quase sempre assim, então começava uma bizarra melodia em que ao em vez de musica, remédios, era marcada por um estranho desfile, esdrúxulo desfile que faria sem duvida Papus,Nicolas Flamel e Paracelso ficarem “blush”,quase em fila e organizados em ordem alfabética segundo suas indicações e posologia: Buspirona 20mg(o anti ansiolítico),afinal aquela sensação devia sessar e talvez por um breve instante o paraíso acenasse com um sorriso, então vinha agitação o coração disparava, então o Bromazepam 6 mg(calmante) se juntava ao desfile fazendo cambalhotas na caixa em sua estranha cor, mas a inveja é algo esquisito meus amigos, mas afinal que pensariam os outros 28 medicamentos?
O cortejo era imenso, agora podia-se ouvir o som da banda ou da bunda, então o Dimeticone 40mg(para flatulência)entrava em ação para acalmar ânimos e amenizar odores,e olhando para o céu agradecia a benesse da medicamentação, quase em aleluias, afinal ELE detestaria os tais odores...
E um silencio se fez em seu quarto enquanto sorvia não de paz, mas remédios e muitos, bem, ai de quem falasse que ela era hipocondríaca? Nada disso era apenas prevenida,ledo engano, afinal eram apenas uns remedinhos que mal poderiam fazer? O sorridente desfile seguia,agora os orientais Ginkgo Biloba 120mg(estimulante cerebral)precisava ativar aquela mente que arrastava-se tentando lembrar algo, gostava de pensamento lépidos como o papa-léguas,a vezes a velocidade era tanta que alem dos limites perdia-se em si, tanta rapidez para chegar a onde? Isso era estranho,maluca?Impressão sua.
Então levantou-se da alcova,dando alguns passos e a cabeça lhe ardeu,como um chocalho de criança o cérebro debatia-se, então entrava agora um novo cortejo fantasiados de vermelho la vinham, onde esta o meu copo d’água ?
Um ronco no estomago se fez ouvir no silêncio profundo, seria fome? Não, nada disso, era preciso fazer a limpeza intestinal? Onde estaria ele? Disciplinada certamente ao alcance de sua mão...tranquilamente.
Organizadíssima, sua gaveta de remédios era tudo aquilo que sua vida não era,reta, limpa, organizada remédios perfilados em ordem unida, é claro que por vezes ficava irritada com isso! Mas é outro assunto, afinal pessoas inteligências se aborrecem com o corriqueiro, é sempre assim.
Pensou um pouco e descansou, a cabeça em turbilhão observava-se procurando algum sintoma estranho, é claro que estaria sentindo alguma coisa, mas o que ? Queria sentir, precisa sentir, para que pudesse perceber a vida em si, é estranho as vezes, mas infelizmente é pelo contraponto que se vive a possibilidade do um entendimento porque a simples manifestação daquilo que é, nunca é suficiente em função de nosso devaneios pessoais seja de saúde ou doença, sejam elas reais ou imaginarias.
Onde se adoece mesmo ?
Mas que isso importa afinal? Com tantas pílulas mágicas capazes de fazer sua magia curar,salvar e melhorar porque importar-se? Tudo isso passava em sua mente enquanto sorvia uma pastilhinha para garganta, já tava dando um dorzinha, agora estava feliz, uma breve sensação!
Aquele dia seria difícil,ela sempre sentia pela manhã como as coisas iriam andar sua acurada inteligência não lhe permitiria o descanso obnubilado da razão e bom senso, então um sorriso amarelo dizia tudo, queria rir as gargalhadas como uma pomba gira em surto,mas não aquele dia!
Então vasculhou sua mente,com a gaveta cheia de remédios que poderia lhe acontecer, estava preparada para tudo!
Mas opa,mas onde esta minha roupa ? rs.



Fraternalmente
Luis Fabiano

2 comentários:

Anônimo disse...

Fiquei extasiada com tanta gentileza e delicadeza na descrição hipocondríaca da gaveta da mesa de cabeceira ao lado da cama, teu humor agudo fez com que pareçesse um excesso desnecessário, quando na verdade não é. Infelizmente. Hábitos são hábitos, difíceis de serem erradicados, principalmente qdo médicos dão apoio e estimulam o consumo, acabamos acreditando neles, fazer o quê? O que esqueçestes de dizer é que 2/3 desses remédios/vitaminas não são usados, ou se são, só raramente. Os que comentastes são controlados, não tem como escapar de não tomar, tem que ser em jejum, em seguida que acorda. Mas o que me intriga, é como sabes que a roupa vem bem depois...estás lá, espiando pelo buraco da fechadura? Ou alguém te contou a cena teatralmente?? Muito estranho...
Luz na tua espada...

Fabiano disse...

Nem tanto ao mar e nem tanto a terra,isso é budista certamente,quando se sabe deduzir as coisas na sutilidade da intuição probabilativa(digna de Omar Kaian essa), portanto sem fechaduras,melhor sem portas.Meu sardonico senso de humor disfarça muitas coisas o principal é um abismo natural,nenhuma importancia nisso.Quanto aos medicamentos não usados, bem todo desfile que se preza tem os inuteis que so fazem numero no cortejo,e são apenas numero, sem sentido ou significado, os controlados são mais divertidos precisam da chancela de um abalizado para seu uso,isso para si só não é uma imensa piada?
Com profundo respeito a inteligencia.
Fraternalmente.