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quinta-feira, janeiro 31, 2008

O advogado das amantes

Meritíssima, senhoras e senhores do júri e assistência em geral...
Em primeiro momento colegas e membros do júri, que neste momento antes de qualquer coisa,antes mesmo de percebermos e evidenciarmos nossa ojeriza por tal causa ou mesmo pela ré aqui presente, possamos fazer breve mergulho em nossas consciências e avaliarmos dentro da verdade e da sinceridade que tanto exigimos das pessoas que se nos acercam, aquela exigência inflexível e direta ante os nossos próprios erros e os erros alheios, Srs. que por um pequeno instante tentemos pensar como pensa a vitima e a ré, e por favor não sejamos falsos inocentes considerando-nos completos e não conspurcados pelo “pecado” original a tal ponto que, sem um pré julgamento sejamos absolvidos instantaneamente de todo e qualquer litígio, não mesmo senhoras(res),não sejamos hipócritas, quem de nós que nunca sofreu tentação alguma, pecaminosa ou não? Sejamos sinceros, quem de nós, quem, esteve sempre satisfeitos e plenos, plenificados em suas relações formais, feliz, em todos os momentos da sua vida familiar,tranqüilo?Quem de nós nunca teve ou sofreu ou esteve exposto a alguma interferência pecaminosa e poderíamos ate dizer carnal? Quem de nós nunca se sentiu carente ou mesmo triste ante uma situação complexa de sua vida, e assim sendo mesmo que de forma inocente e despreocupada não intencional, depositou suas lagrimas em ombro alheio? Possivelmente em primeira instancia não façamos a junção de tal comportamento ao respectivo ato ou efeito do que se presume o libelo da traição.
Neste momento senhoras e senhores isto não nos deve ser relevante pois quero que consigamos sentir o que aqui a acusada sente em sua solidão mais presente que o prazer, mais vivendo em fantasia e imaginação que de fato uma presença real e integral, praticamente alimentando-se de “farelos emocionais”, restos o qual a então esposa oficial deixa no exíguo tempo, ela a acusada sabe exatamente o seu posicionamento secundário e fica passivamente feliz a isto, não reclama pois sabe que o seu amor é incondicional, cabendo aqui de passagem mencionar que a esposa cobra este amor “ilimitado” como por divida a sua dedicação, tempo, juventude, filhos, o corpo, a estrutura familiar e naturalmente o contexto social incluso numa postura faradisíaca de direitos adquiridos naturais.
Hora Senhoras e senhores, tenho noção que não podemos entrar em discussões filosóficas das regências sociais até aqui desenvolvidas, mas antes sim perceber que estão em julgamento emoções humanas, sentimentos humanos, pensamentos humanos e que portanto a razão pode nos dizer muito pouco, há razão para o amor? Nossas leis são para julgar a legitimidade ou não que uma coisa ou que uma situação podem ter, mas quando entramos no impalpável terrenos do coração humano nosso julgamento deve ser flexível e possivelmente desvinculado dos condicionamentos impostos como corretos da nossa sociedade vigente.
A Senhora X, aqui apresentada como amante e acusada de influenciar a vida familiar do senhor Y, é antes sim também mais vitima que ré desta ação, uma vitima de si mesma, vitima do amor, quando o cupido a flechou em sua sentimentalidade mais verdadeira e profunda, não ,não tiro os méritos da esposa, mas reconheço e vocês o reconhecerão os também méritos da amante, mulher de propriedade pessoal no campo dos valores morais sujeita a deslizes como cada um de nós, que embora no curto espaço de tempo que tem com o senhor Y, dedica-se inteiramente a tentar fazer-lo feliz, as vezes uma felicidade breve, física mesmo, mas que lhe da felicidade por ver o semblante feliz de seu “companheiro emprestado”, ela de fato acredita no senhor Y, ela escuta os seus reais problemas, já a esposa com o passar do tempo torna-se surda aos problemas do marido, de fato como e transformando a relação em um ambiente de estranhos, onde então a legalidade é imposta não pelo amor em sua profunda manifestação de beleza e docilidade, mas pelos rituais do consórcio que em seu aparato social cria a então demoninação casamento.
É nos braços dela, a amante que o senhor Y deposita suas lagrimas, e ela que fica só em algumas horas ou minutos depois, é ela que anseia e ficará sem uma família “normal”, instituída, ela que em a maioria dos casos fica sem o amor de um filho, é ela que acredita e ela que vai deitar-se com a sua solidão a noite, quando ele volta para o seu lar emulando uma “normalidade” de vida e vivencia familiar, não pense que estou inocentando completamente a acusada,ela sabe perfeitamente sua condição e fez sua escolha, como cada um de nós fazemos as nossas boas ou más escolhas e naturalmente somos responsáveis as nossas próprias custas, não gostamos do papel que ela representa é certo, mas por puro e prévio preconceito estratificado em nossa consciência, e por querer o melhor da “ordem” ainda que por vezes esta ordem rasgue nossas emoções e deforme nossa alma e nos deixe triste.
Acho que este julgamento é errôneo, creio não estamos voltando nossa atenção ao verdadeiro culpado, creio piamente que nem amante ou esposa devem ser aqui mencionadas nos autos ,embora ilegal nestas circunstancia o procedimento judicial o qual tenho a intenção de dar inicio, que colocando nesta instancia sem uma petição formal, mas que ao termino deste Meritíssima, irei dar prosseguimento legal.
Rogo a deus para que abramos nossas emoções e pensamentos e dentre um entendimento do senso comum possamos flexibilizar sentimentos, refinar pensamentos e naturalmente aprimorar atitudes, que não tenhamos formulas estratificadas e irredutíveis da realidade que possamos anelar a paz, a felicidade e a serenidade de nosso coração onde quer que esteja porque é de nossa essência humana, que possamos nos dar tal chance.

Paz e luz em teu caminho.
Com minha profunda intenção
Fabiano


Ninguém nega a existência do crime passional, negá-lo seria negar a paixão a mais vibrante das realidades humanas, ninguém nega a lagrima, a suplica, a angustia, o desespero a exaltação, o delírio, e o amor as vezes é tudo isso, uma tempestade desencadeada dentro de uma alma.”

Mario Bulhões Pedreira - Citado por Mandrake Episodio 3 - EVA

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