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domingo, julho 19, 2020

Um pouco de família - A família que não tenho


 A merda é uma situação inevitável repleta de detalhes, mas o que incomoda é o fedor. Creio que isso não me perturbe mais. Eventualmente é preciso respirar, diante de tudo que estamos vivenciando.

 

Não adianta eu auscultar a mim em busca de um breve interesse real pela atual situação dramática do mundo?

Como tudo, que se torna repetitivo naturalmente torna-se cansativo e previsível. Não estou preocupado com Covid, nem com o câncer, não estou preocupado com 78 mil mortes... não é possível preocupar-se com 78 mil mortes não sejamos cínicos, nem sequer fazemos ideia o que seja isso...78 mil famílias que perderam alguém... como se preocupar? Se nos preocupássemos, ninguém mais dormiria a noite.

 

Você está preocupado com o próprio rabo(assuma), talvez com alguém da tua família...e a coisa fica por aí, porque os seres são rasos inclusive em seus sentimentos. Essa é a verdade. Neste pensamento eminente a qualquer momento podemos ser os próximos.

 

Me pego pensando nisso, simplesmente algo tão grande não cabe dentro de mim. E olha que eu costumo acomodar coisas bem grandes em mim...

 

Faço a minha parte, entre máscaras e álcool em gel...e fico longe apenas para que não me encham o saco, gosto de ficar invisível, faça tudo certo e ninguém vai te incomodar por tudo de errado que você faz é assim.

 

Respiro minha merda agora enquanto falo com você, escrevendo o texto e dando uma cagada maravilhosa e sentindo um pouco de paz. Então recordo porque comecei esta merda de texto.

 

Neste finde eu assisti muitos filmes que retratam famílias, bebendo whisky calmamente enquanto minha mãe faz seu show de insanidades, mas por agora esta tranquila, o que é bom.

E dentre todas as famílias que assisti e absolutamente todas, das mais ecléticas as mais tradicionais algo me chamou muito atenção: a coisa de importa-se com o outro, a coisa de mesmo não se gostando muito estar ali próximo sobretudo em situação de “pênalti” que seja doenças, momentos festivos, outros momentos tristes...as famílias se apoiam e isso é o esperado.

 

Como um despertar hipnótico me dei conta profundamente e desde antes da patologia de minha mãe, meus familiares são a completa ausência, não somaram nada ao longo de uma vida, é apenas parentes que por essa natureza estranha nascemos na mesma família, com o sangue e apenas isso. Nenhuma recordação feliz, nada que ao lembrar sinta que valeu a pena

 

É estranho  tudo isso, me senti estranho e algo a mais se fragmentou dentro de minha fria estrutura.  É verdade que nunca tive grandes emoções, realmente esse é meu natural e nunca me incomodou. Mas ao ver estes filmes algo a mais se embruteceu dentro de mim, ou morreu finalmente.

 

Não existe revolta, não sou de revoltas sou afastamentos sem brigas porque considero briga algo deselegante, gritos, descontroles, berros, choradeiras etc...não são naturais, não é algo esteticamente aceitável, este drama desenfreado, passional eu deixo para as peças teatrais como arte eu entendo.

 

Como um iceberg tivesse tocando minha alma e todo o pensamento que passa é de uma tranquilidade profunda mergulhando em mim, e lentamente vendo todos os meus parentes próximos ou não, todos sumindo dentro de mim como se nunca tivessem existido, estranho de descrever isso porque sinto tão verdadeiro. Desaparecem, tios, tias avos, primos...tudo. Um silencio plenificado me preenche. Agora e hoje mais do que nunca me sinto totalmente sozinho e me sinto bem.

 

Como se um disfarce para comigo mesmo tivesse caído...afinal todos alimentamos muitas ilusões ainda mais em questões familiares e ideais, que nem sequer nos damos conta, alguns jamais se darão conta porque somos assim.

 

Deste silencio surge apenas um pensamento, existindo ou não outras vidas...(e eu espero que não, uma vida só já é foda pra suportar) meu único desejo é que jamais torne a encontrar a nenhum deles, esse é o pensamento que passo a alimentar hoje e sempre, de preferencia nem nos confins do inferno onde estarei não desejo absolutamente nada deles  quero encontrar outras pessoas, mas vocês jamais, vocês são pessoas horríveis e claro não tem culpa de nada.

L.F


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