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sábado, fevereiro 02, 2019

O Rabo Sujo



O gosto é algo cinzento
Um beijo nas vagas intempestivas
Um beijo no intestino
O abraço de um bêbado
Forte odor de sovaco vencido
E nossa fuga desmedida do real

Todo o perfume
Toda a maquiagem
Toda a mentira
Tudo

Fedemos todos...
Esteja em paz então
Mas é melhor não... ou nem tanto
Pois o que realmente fede
Não desaparece jamais
Nem que enfiemos
Toneladas de desodorante no rabo...

Ela juntava as coisas...
E deixou para trás no banheiro
Umas calcinhas sujas...
Ela não gostava muito de trocá-las todos os dias
Eu gostava disso
Gosto do cheiro de rabo sujo de mulher
Éramos os porquinhos alados da consolação suprema
Perguntei onde ia?
-Vou por ai... a procurar...
-Vais procurar o Cartola?
-Não... vou me perder, me jogar e me deixar feder até que o céu se queime todo
-Eu fiz algo errado?

Ela sorri cínica, com dentes cariados
-Não... eu vou porque não sou de ficar mesmo
-E o que fica então?
Então ela virou de bunda pra mim...
Baixou as calcinhas limpas...abriu bem a bunda
Encostou o meu nariz no seu rabo fedorento de três dias sem banho
-Respira Fabiano, respira...
Aquele cheiro adentrou minha alma
E por um breve instante
O oxigênio do mundo havia acabado
Eu me senti o homem mais feliz do mundo

Ela sai
A porta bate
Tudo ficou um aterrador silencio
Pego as calcinhas sujas... manchadas de algo denso
Algumas placas brancas
E fico ali
Os restos dela, brilham como estrelas
Um carinho rescende devaneio
E por vezes o amor
É a falta do teu terror
É a saudade das lágrimas
É o que você não fez...na hora certa
E agora se foi.



L.F



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