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domingo, março 20, 2016

Almoço


Almoço

Almoçar poderia ser somente engolir a comida e ponto, mas nem sempre é isso... almoço fora todos os dias, gosto de rotina matemática, milimétrica, patológica repetitiva como uma sensação de sobriedade plena, muito embora a falsidade seja natural, pois não há rotina, nada é igual nunca. Foda-se.

Sento-me em minha mesa de sempre, frente a televisão, sozinho como gosto. Antissocial convicto. Por favor não conversem comigo no almoço ou no elevador, não precisa.

Então o casal da entrada a mesma sala, ela tem a voz alterada ele tenta falar normalmente, mas na verdade ambos gritam inconscientes e a discussão está em pleno andamento:

-Porque tu vais comer salada de maionese? O que tu tens contra a que eu faço em casa? Ou isso pode ser uma represália porque eu fiz algo errado – Diz a mulher realmente nervosa pelo tema.
-Nada disso, eu apenas não estava com vontade de comer a tua maionese, será que eu posso? É democrático...
-Aí tem coisa – ela com o dedo na cara dele – ai tem coisa, de-repente tu mudas o teu gosto alimentar? Tu andas muito estranho...muito estranho...
-Nada haver, é que hoje eu to afim de maionese...

Eles perturbam meu almoço,não posso ouvir o jornal do almoço porque a maionese é algo mais importante...puta que  os pariu, fico pensando se deus existe, que ele pensaria destes merdas? Certamente o criador errou ao fabrica-los...

-Mas que merda João, tu estas fazendo isso para me provocar, quem sabe o que mais...deus...
João fica olhando para ela, não parece querer discutir mais mas ela está furiosa, João mantem o silencio quase digno.

-Agora vais me ignorar? É não tem ninguém aqui, ninguém mesmo.

Propaganda no Jornal do Almoço, perdi muitas noticias uteis, mentalmente já aniquilei ambos.

João fica olhando para o vazio...então eu olho para João e digo:

-João vai embora.

Ele fica pensativo por alguns breves segundos e sai porta a fora, deixando a faladora inquieta sozinha com a bolsa sobre a mesa do almoço vazia e naturalmente o silencio retorna. Ela fica abismada e fica me olhando, às vezes é o limite, sou bom concelheiro pra caralho.

Apenas sorri, o Jornal do Almoço havia começado novamente.

L.F.




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