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segunda-feira, fevereiro 23, 2015

Abençoada fumaça e poluição



Abençoada fumaça e poluição

Creio que não suportaria um mundo limpo
Feito de pureza
Ordem plena
Eu não suporto nem pessoas assim
Curto esperanças tortas de algodão
Num espaço deformado de viver

Gosto do gosto imundo e do sebo
Depressões ruindo em noites sem fim
Noite engolindo com dentes ferozes
Venero a imundície que existe em ti
E em mim

Beleza fissurada dos teus piores defeitos
Como intenções mais límpidas falsificadas
Pra ti mesmo
Que não dizem nada
Que não fazem nada
Nem gritam quando o pior cavalga em teu destino
Gosto da tua poluição
Você não?

Dejetos de amor
Brisa de asfixia
Tua fumaça que afoga deixando resíduos enferrujados na alma
Tuas palavras não ditas
Minhas palavras tecidas de reticencias
E as malditas

Gosto da beleza das chaminés transformando o ar respirável
Fuligem de encanto escurecendo as estrelas
Em doenças silenciosas
Como vermes calados rastejando dentro de ti e de mim
Gosto do desenho que o cinza diluído faz no céu

Mesmo neste trágico
Existe paz e alguma harmonia translucida
Venero a sujeira que trazes em ti
Como semente mais verdadeira de tua essência

Pouco me diz o depois
Quando despidos das fragilidades
Aceitas o caos benigno
Nas caricias dos teus acertos
Mas de nada servirá
Se não achares o meio dia
Da tua fuligem


Luís Fabiano


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