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domingo, janeiro 18, 2015

Consequências - Parte I



Consequências
Parte I

Um lenço branco esquecido descansa sobre a mesa molhado, tudo era lembrança, porque devia ser assim? Chorar é imprescindível ao viver...mas não somente isso.
Dilam começa o namoro com Miranda.
Eram adolescentes com os hormônios a flor da pele, tudo são desejos, tesão e genitais umedecidos, é a linda sinfonia da natureza dizendo... foda, foda, foda ou para ser mais poético, reproduza, reproduza, eu a natureza quero me perpetuar através de ti. Muitos acreditam nisso... e isso é consequência.

Naquela noite Dilam queria Miranda, mas local, sem dinheiro tiveram a ideia de ir para o Parque da Baronesa, ali naquela escuridão daquele verão belo, Dilam come Miranda com amor... ela perdeu o cabaço entre as arvores, no mato e grama úmida, com o céu repleto de estrelas cintilantes, numa apoteose romântica que só acontece na inocência, eles tinham dezessete e quinze anos.

Noite linda, paixão besuntando tudo de vida e claro a pobreza... mas a poesia acaba ali... naquela noite, Miranda estava ovulando e daquela trepada única ela engravida... consequência.
Ambos eram de famílias muito pobres para não dizer miseráveis mesmo, não estudavam, então agora teriam que trabalhar, porque a possibilidade de aborto sequer não passou mente deles... os pais eram religiosos ortodoxos, tudo se convertia em pecado diante de Deus. Um Deus que cria regras para fuder a consciência dos seres humanos...cara legal esse.

Sem dinheiro, agora trabalhando em um serviço miserável, para conseguir uns míseros trocados, assim neste clima cresce a barriga de Miranda. Os dois jovens sentem o peso da responsabilidade, mas que merda, embora em uma era de tanta informação, eles estavam cegos de desejo, porque uma informação não significa nada diante dos desejos, explique a um viciado que o vício é algo ruim? Ele até pode saber, mas jamais ira entender porque uma ideia é fria diante das emoções quentes que vivemos... ideias ficam, ideias se perdem, mas desejo...puta que pariu...desejo é um trator passando no teu peito te empurrando para teu objeto de desejo, é uma corrente estendida rompendo a moral, rompendo a ética rompendo as direções.

Naturalmente a vida de Dilam e Miranda se transformou uma merda, antes mesmo de começar...religião mal dirigida, preconceitos, pobreza, pouco entendimento, serviço de merda e um filho indesejado a caminho.

Começaram a brigar...porque o que sentiam romanticamente não era e jamais seria amor...era desejo puro simples, mas é de nossa natureza romancear o brutal, romanceamos tudo para tornar palatável a existência, para que ela não seja tão crua, adoçamos muito a merda do viver...para tornar melhor, porque viver a realidade pura e simples pode ser bem desagradável, se pensar bem...que motivos você teria para ser feliz? Pense rápido, e dirás, meus filhos, meu trabalho, minha família um amor talvez? Pois é..então você é feliz assim? Pouco importa o mundo, as merdas existências, a violência, a fome a doença... mas a verdade é essa, você é feliz porque é profundamente egoísta... mas relaxe não há mal nisso, isso também é da nossa natureza territorialista, ta tudo bem e justificado.
Sejamos felizes e foda-se o mundo, é saudável. Consequência.

Dilam e Miranda brigam, Dilam está pressionado, teve de parar de estudar, trabalha como escravo e seu padrão o trata como um bosta, porque ele não sabe coisa alguma, por outro lado Miranda, cresce e por um motivo natural, ela não gosta do que carrega na barriga, suas amigas agora não tão amigas debocham dela, ela perdeu as curvinhas de menina, esta inchada, sente coisas que jamais pensou em sentir... por muitas vezes pensa que gostaria de tudo acabasse rápido, que talvez a criança morresse ou que ela mesmo morresse, se sentia inferior, os pais preconceituosos não olhavam mais a filha como menina, era uma mulher...e portanto não havia mais incentivo de coisa alguma. Mãe, menina, mulher, perdida, aflita e querendo morrer... pura consequência.

Porque fim chega a hora do nascimento, em um hospital comum, sem pé natal, sem berço, e algumas poucas roupinhas e um milhão dúvidas sobre o futuro. Chegam ao hospital e a apesar dos péssimos atendimentos a criança sobrevivente consegue nascer, mas a família não aparece, o Dilam pai, desesperado, querendo beber com os amigos, querendo celebrar a liberdade, querendo viver e desafogar-se da merda que se encontrava, era um pai de 17 anos que não estava feliz com o nascimento de Maria. Sim mais uma Maria sem mundo, sem futuro, que iria tentar sobreviver ela era a consequência.

Mas que merda tudo tem consequência... e tudo tem mesmo. Nada é vão. Um simples peido tem consequências, uma decisão mal tomada e você é cativo das consequências...mande a merda, mande se fuder...mas isso pense pra caralho...sempre.

Eles vão pra casa de ônibus, mãe criança, a criança e o pai que se olham e não sentem felicidade, não sentem prazer algum, o amor de Dilam se foi, a criança pra ele representa um cativeiro que teria que se libertar, os olhos brilhantes de Maria é uma sonata feita de esperança, mas Maria não sabe nada, porque é assim, sempre sabemos como começa, mas nunca sabemos como irá terminar.

Chegam a casa dos pais de Miranda, a família está na culto, Miranda não consegue dar o peito para Maria, suas tetas estão secas, ela repudia a criança, ela repudia Dilam, e Dilam não é mais o mesmo. Afinal pensa mas que deu errado? Porque tudo tinha que ser assim? Então Deus havia virado de costas para ele? Talvez. Quando a natureza entra em jogo, Deus parece sair de cena.

Nem infância ou adolescência, Maria chorava muito, tinha fome, aquilo incomodava a todos, os pais de Miranda, Dilam e todos. Então arrumaram um litro de leite para dar para Maria. Miranda não sabe cuidar de criança, ela preferia quando eram as boneca, mas bonecas não cagam, não comem e são silenciosas.

Eu sinceramente achava que Maria não fosse sobreviver... mas para entender isso seria preciso um milagre. Ninguém ajudava, davam leite pra criança quando tinham...ela chorava muito. Dilam passou a estar mais ausente, começo a beber e a ficar nos bares. Que fazer, ele queria também fugir, se aliviar, aquela maldita criança chorando não aguentava mais. Curiosamente, grana para as bebida existia. para o leite faltava. Miranda tentava seguir sua vida, queria ser a menina novamente, queria voltar a escola, queria ver as amigas, queria a vida que perdeu. Coisas que Freud explica.

Saudade, subemprego, cativeiro, choro, fome, tristeza e vícios...consequência.
Dilam passou a beber como gente grande, e naturalmente se viciou, chegava bêbado em casa, discutia com os pais de Miranda, e mesmo no pequeno cubículo que a família fez para eles, Dilam mostrava que estava mudando. Agora Dilam falava mais grosso, chegava bêbado todos os dias e começou a dar empurrões em Miranda...


Luis Fabiano

Segue.


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