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quinta-feira, janeiro 22, 2015

Consequências - FINAL




Consequências

Final.

Ele queria sexo, mas Miranda traumatizada, não reconhecendo mais aquele cara que trepou com ela a luz e a sombra das estrelas...agora era um animal que empunhava uma piça suja que queria enfiar-lhe de qualquer jeito. Os pais de Miranda não se metiam, acreditavam que briga de casal ninguém deve se meter.

Maria cresce, fez o primeiro, o segundo e o terceiro ano... neste clima que só piorava, uma criança que conseguia sorrir mesmo que ninguém brincasse com ela. Um dia Dilam chegou mais bêbado que de costume, talvez esse seja o veneno existencial, acostumar-se com tudo, achar tudo tão normal, achar aquelas mortes de quem não conhecemos algo muito natural, afinal o mundo tem fome, tem peste, tem violência... tem tudo. E nos acostumamos para ser feliz... consequência.

Dilam quis abusar de Miranda, ela bateu nele, então ele como a crueldade natural dos perdidos, tentou abusar de Maria, a menina... bem aquilo foi demais para todos, mesmos para os indiferentes pais de Miranda. Dilam tentou violentar Maria, e foi agredido e expulso daquela casa.

Consequência. Dilam, viciado, bêbado, grosseiro, estuprador, enlouquecendo. Não tem para onde ir, e claro vai para casa dos pais. Os pais o recebem, mas claro não sabem da história toda. Felizmente Maria não sofreu nada.
Nada é tão fácil, a família de Dilam vai tirar satisfações, onde a verdade é vomitada na sala. Decepção, agonia, tristeza, e a imagem de filho desfeita e construída uma feita de um marginal que nem, digna de pena...
Consequência... desconstrução, devassidão, desalinho, a falta de algo que de um norte certo... um barco perdido, sem carta náutica, sem bussola tentando apoios que desmoronam.

Os pais de Dilam voltam para casa o filho não está mais, foi para o bar, mais bebida, Dilam transtornado pois a verdade tem um peso inconfundível.

Miranda em casa sente um alivio, mas o amor é estranho entre os humanos, mesmo sendo prejudicados, nos apegamos a dor e a dor faz falta resultando em uma outra tristeza. Ela queria aquele homem que havia conhecido, ela queria até que agora ele fosse um pai bom... mas nada era assim. Ela agora era caixa de supermercado, havia melhorado mas em seu peito um vazio algo corroía tudo. Maria crescia linda e feliz em um lar arruinado, com uma mãe que ainda não a aceitava, mas o tempo... bem o tempo vocês sabem, ele termina nos vencer de alguma forma. Nem tudo se esquece.

Passa muito tempo, Dilam agora é um bêbado completo e está doente porque existencialmente se agrediu muito... consequência. Miranda agora é uma mulher de 30 anos e sua filha tem 15 e começa a namorar... Um novo ciclo começa.
Miranda ainda é uma mulher amarga, se vê na filha e por incrível que pareça ela não deseja a filha um futuro melhor... ela não teve futuro.

Dilam adoece mais, e volta para o hospital dentro de péssimas condições, em que o atendimento é difícil, quase tão doentio quanto o próprio doente. Exames são feitos e ele está com câncer terminal onde nada pode ser feito. Quando o médico lhe informa as condições que ele se encontra, depois de muito tempo Dilam chora. E os segundos da vida passam a ter um valor que jamais teve... mas o tempo destrói tudo, o arrependimento... consequência.

Lembra-se de tudo que fez, até mesmo a tentativa de estuprar a filha, as bebidas e sente saudade de Miranda. Mas que tempo? Que quando? Que nada.
A família de Miranda fica sabendo do destino de Dilam e informam a ela e a filha, e Miranda chora e Maria não sabe o que sentir sobre aquele pai ausente que tentou abusar dela criança, que agora a morte estava levando. Consequência.

Todos vão para o hospital com uma sentença irrevogável de tristeza, afinal no final da vida o perdão redime pecados? Ou talvez nada disso seja importante, vamos nos livrar das culpas, dos medos e tentar seguir em frente apesar de... seguir sem frente porque não há escolha.

Chegam ao hospital, Maria e Miranda... então no quarto de Dilam, não existem palavras que possam conter, explicar ou justificar nada.
Miranda olha aquele homem destruído, vencido pelo tempo e derrotado por si mesmo, Maria aproxima-se do pai, não sabe o que fazer... ela precisa de mais tempo, de mais convivência, de mais tudo...mas tudo que não existe é tempo. 

Miranda aproxima-se de Dilam, ela balbucia algo e o abraça, no fundo ela não queria que terminasse assim, Dilam não queria que terminasse assim, mas que porra, vocês sabem que para a morte nada disso faz diferença. E aquelas horas se converteram em um tempo esgotado, Dilam fecha os olhos e nunca mais os abriria neste mundo.

A família de Dilam tem revolta, culpam Miranda pelo fato que seu menino virar um marginal, um bêbado e um abusador de criança... consequência.
Miranda e Maria foram proibidas de irem ao enterro, elas não foram no dia, mas no dia seguinte se despediram em definitivo. Consequência.
Miranda volta para o supermercado, a relação com a Maria pareceu ficar mais leve depois da morte de Dilam. Consequência. Então Maria apresenta o seu namorado para Miranda e pela primeira vez ela e a filha parecem mãe e filha, demorou apenas quinze anos isso...a felicidade parece entrar na vida delas. Consequência.

Rodrigo o namorado parece ser um cara bacana, eles parecem felizes excessivamente. Miranda percebe nos olhos da filha um sentimento e o natural desejo, mas curiosamente não diz nada a respeito. Não falam de sexo, não se comunicam totalmente. Consequência.

Dias passam rápido então, um dia destes Maria deseja falar com Miranda. Miranda chega a sala e Maria tem um lenço branco úmido lagrimas...
Consequência.

Luís Fabiano.




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