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quarta-feira, junho 18, 2014

Rei das Bucetas - Verdades duras, falso amor e reconciliando-se com o diabo.




Rei das Bucetas
Verdades duras, falso amor e reconciliando-se com o diabo

A beleza as vezes é horrível. Penso sempre assim quando invariavelmente preciso dizer a verdade. Poucos toleram a verdade. Usamos eufemismos para disfarçar o gosto quase cruel da existência.
Todos achamos melhor assim. Julgamos menos e tomamos todos também por boas pessoas.

Eu cagava enquanto pensava isso. Tenho um jeito de sempre translucidar a minha merda. Acho que todos deveríamos fazer isso, isso pode ser a nossa redenção.

Apartamento vazio, silencio e uma bebida. Não esquento jamais, deixo a catapulta existencial me arremessar contra o muro e resisto, resisto, meu coração é tão duro quanto meu pau, você gosta do meu pau? Tenho necessidade de respirar o ar da noite. Nesta noite onde as pessoas de verdade estão, bêbadas, putas, cheiradores, fumantes, viciados de toda sorte. Esses caras são meus mestres, os perdedores, os que ja se fuderam muito nesta vida. Gente limpa fede.

Termino de cagar, me sinto preso, preciso de ar, preciso de putaria, preciso da pior verdade que você tem a oferecer... o amor insano de uma mulher carente no limite do suicídio.
Tomo um banho. Sirvo uma boa dose de rum sem gelo. Agora sim, sou super homem das merdas, sou a piroca de king Kong, minhas veias pegam fogo...me sinto bem e disposto, que venha a Pelotas soturna com ruas tortuosas brilhando violência e pragas.

Pego o Olhos de Gato (o gol )e vou pra noite.Quero ser engolido pela noite. No carro um samba de raiz antiga toca na rádio federal: ainda é cedo amor...mal começaste a conhecer a vida. Então lembro de um velho amigo. Fazia tempo que não ia vê-lo. 

Minha relação com as pessoas é assim, geralmente de quem eu gosto muito, eu me distancio visceralmente... eu aprendi a duras penas. A distância preserva as coisas... a distância te eterniza, preciso de distancias...

Dou a partida e me dirijo ao Navegantes.
Lembro de Jussara, lembro de Tonho, de Zé do cavaco, devo estar ficando velho. Nostalgia filho da puta me invade, tento não pensar.
Jussara me disse da última vez, se eu tornasse a desaparecer ela se casaria com outro, qualquer outro e me mataria depois. Eu só podia esperar o pior, eu sempre espero o pior vindo de você, estou preparado para morrer agora, neste minuto em que teus olhos percorrem as linhas... talvez eu já tenha morrido...

Chego no bar do Rei das Bucetas,é quinta feira dia só samba, o cheiro do amor no ambiente, o esgoto a céu aberto, a cerveja mais barata e trabalhadores relaxando com sua cachaça, algumas mulheres estão ali, rebolando a bunda gostosamente e o Rei eu não vejo.

Ninguém conhece o Olhos de Gato, desço do carro  o Tonho do balcão me encara, faz a típica cara de deboche e confusão... o samba segue, chego no balcão...

-Puta que pariu heimm Fabiano!! Porra cara achava que tinhas morrido...
-Vaso ruim não quebra Tonho... to vivo ainda e cadê o Rei?
-O Rei ta tratando de negócios  dele, sabes como é...
-Sei, deve ta tratando a xoxota de uma dessas coroas com grana que vem aqui...
-Isso ai... outra coisa Fabiano que cabe lembrar... a Jussara vai te matar.
-É to ligado...morrer pelas mãos de uma buceta é melhor que no hospital, entre agonias, tubos e seringas... Jussara me mataria rápido uma facada no peito...
-Tu é loco cara...
-Sou não... apenas sei como é perder.

Me sento junto ao balcão, preciso beber uma boa cachaça das boas, e me deixar levar pelo momento. O samba toca, olhar a bunda daquelas mulheres e deixar, gosto de bundas assim, felizes e grandes, me solto com a cachaça e fico com desejos saltando em minha alma, ainda que esteja calado, em meu coração eu grito: buceta, eu quero uma buceta!!

Mas não se pode relaxar muito... Não ali, sempre a alguma coisa prestes a te dar um bote, como uma serpente enrodilhada em um canto esquecido.
Tudo tranquilo, então chega os “homens da lei”, enquadrando geral todo mundo, já sabemos o protocolo, mãos na parede, pernas e braços aberto, gritos de ordem e silencio.

A lei se dirige a mim:
-E o senhor? O senhor tem algo com o senhor? Algum armamento? Algo ilícito?
-Não, estou limpo...
-O senhor já teve alguma passagem? O senhor tem documento ai?
-Sim senhor...ai está...

A lei e a ordem...
Ambiente fica tenso, mas que merda, eu querendo comer uma buceta... e a lei aparece devorando tudo, eles revisam a todos e nada mais aconteceu. Todos estavam limpos, parecia até a festa de bíblia! O Oficial se despede:

-Senhoras e senhores, obrigado pela cooperação e tenham uma boa noite.

Nisso chega o Rei...o mesmo estilo, a confiança plena em si, o respeito profundo em forma humana, o chapéu branco e pergunta a lei que saia:

-Senhores da lei, aconteceu alguma coisa em meu estabelecimento?
-Não senhor, é apenas rotina, mas seu bar está limpo.

O Rei me vê junto ao balcão, sorri e conclui:

-Meu bar sempre é limpo senhores... boa noite.
O Rei vem até mim.

Segue...





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