- Momento Mestre -
O irretocável Nelson Rodrigues
Alguém dirá que A vida como ela é... insiste na tristeza
e na objeção.
Talvez e daí?
O homem é triste e repito: - triste do
berço ao tumulo, triste da primeira a última lágrima. Nada soa mais falso do
que a alegria. Rir num mundo miserável como o nosso é o mesmo que, em pleno velório
acender o cigarro na chama de um círio. Pode-se dizer ainda que é triste A vida
como ela é... - porque o homem morre. Que importa tudo o mais, se a morte nos
espera em qualquer esquina? Convém não esquecer que o homem é, ao mesmo tempo,
o seu próprio cadáver. Hora após hora, dia após dia, ele amadurece para morrer.
Há gêneros alegres, eu sei. Fala-se em “teatro para fazer rir”. Mas uma peça
que tenha essa destinação especifica é tão absurda, como o seria uma missa cômica.
Agora o aspecto da sordidez. Nas abjeções humanas, há
ainda a marca da morte.
Sim, o homem é sórdido porque morre. No seu ressentimento
contra a morte, faz a própria vida com excremento e sangue.
Nelson Rodrigues.
Obra – Historias da vida como ela é – Elas Gostam de
Apanhar.
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