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segunda-feira, agosto 19, 2013

Rebeca Sharon





Rebeca Sharon agora uma mulher

A vida é uma metamorfose constante. Não há escapatória, você tenta fugir daqui e dali, mas como um vilão em uma rua sem saída... você acaba cedendo. Muda a Tevê, muda o tempo, muda o computador, mudam as merdas da vida por outras merdas... muda as vezes a felicidade... tudo muda, e nada tem mudez.

Tenho vontade de tirar o pé do acelerador... mas vivo freneticamente. E se assim não fosse, eu morreria de tédio. Deus... nem sempre tá na tua mão mudar o destino. Você é a um tempo o vilão e a lei, é a dor e quem fere. Não há distancia, tudo está ali.

Me sentia filosófico pra caralho, então era preciso entorpecer a vida. Nada de pensar demais, viver mais...mergulhar no fluxo existencial como um caracol desatinado, o vagabundo alucinado berrando asneiras existenciais, é o que basta. Sentia sede, estava em casa, não havia tomado banho, estava com meu cheiro natural, uma mistura de suor, camiseta suja e perfume italiano.

Gosto destas misturas. O atípico me seduz como uma puta de esquina, vendendo a buceta por uns trocados, buceta de caixa registradora.
Me olhei no espelho, cara amassada. Peguei a garrafa de rum e bebi uma golada no bico. Aquilo desceu como o leitinho de mamãe nas tetas dela. Boa. Vou até a janela do quinto andar. Puta que pariu pensei: a noite de Pelotas ai... como uma planta carnívora pedindo pra tu cair pra dentro, frio, estrelas...poucas almas nas ruas, é a típica visão que me faz bem, poesia dos malditos, eu e minha solidão. Não fico pensando muito, dei uma cheirada no “suvaco” e fui pra rua.

O katett estava imundo, um carro de Luís Fabiano mesmo. Gosto dele... é minha cara. Ligo na Rádio União, que tocava Chico Buarque, a música era Desalento, dizia: ai e diz, Diz assim como sou Infeliz, No meu descaminho, Diz que estou sozinho, E sem saber de mim...

Impressionante como as coisas as vezes parecem se combinar. Fiquei ouvindo a música. Liguei o motor e saí. Como um viciado filho da puta, fui aos meus caminhos, num zigue-zague pelas ruas onde a putaria acontece a noite. Você sabe, Deodoro, Barão de Sta Tecla, Osório e Anchieta... gosto destas ruas. Numa quebrada da Barão lá embaixo... encontro alguém na esquina cujo o rosto não me era estranho. Loira, muito alta, cabelos longos, peitão e minissaia curtíssima, echarpe branca e caminhava com pressa, as duas da matina, vou encostando carro do lado e bingo, era ela mesma, eu chamo:

-Ei Rebeca...ei...que pressa é essa? Pra onde tu vais a essa hora menina...
-O que? Luís Fabiano por estas bandas?É coisa de Deus ou do Diabo. Que isso... qual é cara...
-Qual é Rebeca... não fode a paciência... e ai?
-Aíiiii não fala assim cara... que agora eu sou menina de verdade...mais respeito hein...

Bem, apenas para situa-los, a Rebeca era ou é uma travesti sexy, enganou muitos caras dizendo que era mulher...(não sei como ela fazia isso) e ela tem um caso estranho o Sujeira do Bar(o dono). Ela sempre disse que um dia queria transar comigo, eu disse pra ela que só transaria no dia que ela fizesse a cirurgia de mudança de sexo...bem...

-Que menina porra nenhuma, teu nome é Francisco... então “Chicão” relaxa ai...

Então ela dá dois passos pra trás, olha para os lados e vai erguendo a minissaia devagar...bem devagar... expondo uma calcinha branca linda fio dental... e então ela arreda a calcinha para o lado, e ali estava como uma espécie de diamante lapidado por algum artista, um Michelangelo dos tempos modernos... uma bucetinha linda... pequenina lábios bem desenhados, uma bela surpresa.
Ela me olha nos olhos e diz: rapaz...tu tá com cara de tarado...essa é a minha buceta...e só assim que tu vais ver cara.

-Tudo bem Rebeca... to de boa. Vais querer uma carona ou vais seguir em frente...
-To indo no Bar do Sujeira...sabes como é...ele é meu homem agora.
-Ok, eu não ia pra lá...mas...
-Mas...
-É mas...

Ela se recompõe, ajeita tudo e entra na carro. Fomos ouvindo o som da rádio em um confortável silencio agradável. Gosto de silencio entre as pessoas. A noite estava boa. Chegamos no Bar do Sujeira e tinha uma merda acontecendo lá. Dois marmanjos brigavam... diziam que iam matar, fazer e acontecer. Que merda. Quem diz essas merdas não faz nada. O cara que fica silencioso, esse sim é fudido.

Lembrei que minhas ex-mulheres todas queriam me matar em algum momento...e aqui estou...muita loucura não significa nada. Sujeira tentava intervir, mas então quando viu Rebeca Sharon descendo do Kadett... nos olhou e...

-Mas que porra essa?
-Calma amor – Rebeca se adiantou – Calma...ele me deu uma carona...calma...
-E tu pagou a carona como?
-Que isso Sujeira? Não sou assim não...e outra me respeita eu sou uma mulher...ok? Tendeu?

Não tinha nada a dizer. Que porra, o ser humano é limitado, passional, burro e egoísta... poucos enxergam além do próprio umbigo. A exceção é raridade. Não queria dizer nada. Tava com sede ainda.
Desci do carro e fui em direção ao bar. Os caras ainda brigavam... as pessoas riam...eles eram ridículos... Rebeca discutia com Sujeira numa DR interminável, feita de casais que se amam...o mundo não era um lugar perfeito, então tudo certo, fodam-se e re-fodam-se.

Meu olhar de cão perdigueiro adentrou o bar, eu mesmo me servi uma cerveja. E fiquei ali não querendo nada. Quando você tem certeza que não faz diferença, você se sente em paz, não há com o que se preocupar. Aconteça o que acontecer tudo seria lucro. Mas devo confessar a você, que a nova xoxota de Rebeca Sharon não me saia da cabeça. Ela parecia uma virgem, lábios delgados, traço finos...e a textura parecia aveludada. Será que uma buceta brilhava assim? A bem da verdade Rebeca parecia mais mulher que muitas mulheres. Que merda.

Me sento a mesa, o bar parece denso. Bar cheio, muita conversa, uma mulher com jeito masculino pede licença para usar a mesa, colocar o copo, enquanto conversa com uma loira linda. Ela falava meio espanhol e meio inglês e meio coisa alguma. A moça masculina tava querendo muito a loira, oferecia coisas...drogas, dinheiro, bebidas, flores e carinhos... fiquei prestando atenção nelas. Gosto de mulheres que gostam de mulheres, as coxas da loira eram uma apoteose.
Então vinda do nada, Rebeca Sharon aparece...está furiosa...quer ir embora...me pergunta:

-Tu não vais embora agora Fabiano?

Avaliei a situação. Ela “tava” colocando em risco a minha amizade com Sujeira, eu não sou passional, mas ele era. Eu agora tinha que bater um pênalti. E ai Fabiano? Fazer o que? Olhei bem Rebeca:

-Seguinte coração... não posso sair contigo daqui assim... vai ter que rolar um esquema... tipo, vai andando pela Barroso que em uns cinco minutos eu saio... porque a vida não é o que tu sabes... mas o que tu podes provar, sabe como é...
-OK, mas não me deixa na mão...
-Nunca deixo ninguém na mão.

Ela sai...e o Sujeira vem até mim. Puta merda que noite...porque não bati uma punheta em casa?

-Fabiano... que a Rebeca te disse?
-Que queria uma carona...
-E agora onde ela foi?
-Pra Barroso...

Eu estava no limiar da verdade... não queria mentir...alias eu falaria a verdade, a verdade dói mas foda-se... mas existem perguntas que não se faz... Sujeira estava aborrecido, por fim voltou para sua trincheira...atrás do balcão. Dei uns cinco minutos e saí.

Então na Barroso estava Rebeca caminhando devagar, como uma puta desconsolada...e estava linda. Ela entra no carro...e vejo que tem lagrimas nos olhos. Afinal...afinal... é o amor. Certamente nesta noite eu não comeria a buceta de plástico de Rebeca. Me abraça forte, e tudo isso parece um pesadelo. Chora como uma criança, minha intensões se esvaíram pelo ralo. Agora eu estava cansado.

-Rebeca...qual é?
-Fabiano...eu sou um ser humano...
-A é? OK. Onde tu vais ficar?
-Me deixa em casa...quero ficar sozinha.

As pessoas fazem e vivem dramas que desconheço. Nunca senti algo assim... tantos problemas, tantas inseguranças tudo isso é um brinquedo com a própria limitação. Agora chegava.
Foi até a Guabiroba deixar a Rebeca, antes de sair ela me abraça novamente...e me beija.

-Desculpa...desculpa.

A tristeza tem seu lado belo. Rebeca estava linda... Ela desce eu volto para minha vida. Penso assim: por vezes uma vida cheia de promessas não te diz nada... nada acontece e em outros instantes o inesperado te atropela feito o destino com dentes afiados... por vezes quero ser atropelado pelo destino, quero fuder com o destino, quero que realmente um abalo sísmico estremeça a existência arrancando o trivial de suas raízes... como o tubarão que se dá bem, o tigre devorando a vítima a serpente engolindo o rato.
Mas não nesta noite.

Luís Fabiano.




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