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terça-feira, julho 23, 2013

Convesa de Bar



Conversas de um Bar semi-vazio
 Por vezes você quer apenas estar só, encontrar um local qualquer e ficar ali... tranquilo, bebendo e observando a vida. Tudo bem, existem tantos lugares para observar a vida, mas quando falo de mim... É assim, gosto de ir a lugares que existam pessoas de verdade. Sabemos que depois da meia noite, o que é real é real... Esse é o mito da Cinderela, do lobisomem, dos vampiros e outras tantas criaturas do mal e do bem, que depois da meia noite surgem.

Talvez seja isso, depois da meia noite a vida é mais real, não há porque se esconder... não é mesmo? Tudo isso teoria furada... Eu não me escondo, sou boca do lixo, sou o caldo das sarjetas, sou paixão desenfreada, sou a sede de vida, e grito ecoando em uma noite fudida...

Noite fria... E Pelotas adormece. Bons sonhos Princesa do sul... Pois vou viver, enquanto dormes. São mais de meia noite, desço e ligo o Kadett, deixo o motor funcionando soltando vapor pelo cano... Tragando o frio e fazendo o calor surgir das entranhas. Puta que pariu, esta é a vida, estamos sempre precisando transformar as coisas... Gosto disso, tento transformar as coisas a minha volta... Sem pretensão, vivo.

Vou saindo devagar, o portão se abre, Pedro Lixo estava ali... Me olha com uma cara muito estranha, parecia com mais frio que ontem... talvez ele quisesse uma bebida como da última vez? Mas a vida não se repete jamais... nada é igual, o que você perde... Perdeu... E por isso sempre digo, viva o mais intenso que puder... Porque o depois, é sempre uma ilusão.

Avenida Bento é um deserto ártico, penso comigo: porra Fabiano, tais fazendo o que na rua? Hoje não tem nada cara... Te liga... Eram os demônios e anjos brigando no meu ombro. Geralmente não escuto o anjo e seus bons e sábios conselhos. Escuto o outro cara. Tenho sede, algo que dê aquele brilho nesta noite de merda. Vou subindo minhas ruas tradicionais, putas, travestis não estavam presentes. Descido voltar para Bento agora em direção ao Pássaro Azul, a igreja dos condenados esta sempre aberta.
Estaciono o carro e desço.

Poucas almas ali, era um lugar aprazível, as portas fechadas, o calor humano, álcool e cigarro. Uma das conhecidas frequentadoras do bar, estava por lá... Olhava a televisão aleia a este mundo. Ótimo. Fui ao balcão, fui saudado e pedi o clássico rum, dose caprichada. Fiquei por ali mesmo, também fiquei olhando a televisão, imerso em mim. Com uma igreja o local estava em silencio.

Porem a paz é algo assim, não demora muito e dois caras dão entrada no local, estavam agitados, chapados e dispostos a incendiar o local. A atendente olha pra eles de canto, e todos nós olhamos para eles.

-E ai pessoal... e ai... Isso aqui é um bar... Vamos tocar a musica... beber e se chapar...

Eles estavam certos... Mas o Pássaro é mais que um bar, e domingo... Bem...

-Certo pessoal... mas tranquilo hein...o bar tá calmo – disse atendente...

Eles se sentam, e pedem vodca. Estão ao meu lado... Um dele me olha:

-Tu que é o segurança?
-Talvez sim, talvez não...
-Qual é cara? Ta me tirando?
-Calma pessoal... calma... Tá tudo de boa, a noite é grande e tem espaço pra todo mundo...
-Tu é filósofo cara?
-Não sou merda nenhuma...

Esse é o problema dos sem noção. O ambiente estava calmo... e eles queriam incêndio... Naturalmente não gostei deles, mas se ficassem na deles... tudo ia dar certo. A velha frequentadora do bar, pareceu acordar com essa confusão... e ficou olhando para os caras, com algum interesse. Comecei a rir... Era lindo, a ilha dos desesperados a procura do ouro enterrado... pelo velho pirata. A velha começou a conversar com eles... E o mais agitado ainda estava na minha volta...

-Claro que tu és filósofo, vou te dizer cara... Nós somos a “Anarkia”... ta ligado mano?Somos do movimento...
-Sei cara... tudo bem , assim ó... Fica de bom ai... bebe e sê feliz...o resto não me importa...
-Tu não é filosofo de nada... tu és um merda alienado...

A voz dele agora começava a me irritar. Mas eu não brigo... Sou um derrotado por natureza... prefiro que você ganhe...prefiro que o tigre fique preso, prefiro ser o sebento adocicado das valetas...isso confunde um pouco as pessoas...pensam que sou fraco ou idiota. Por vezes é melhor ser fraco e idiota. Tudo bem, os derrotados sobrevivem... As baratas sobrevivem.

-É isso ai.

A velha chama o cara:

-Deixa esse idiota ai... Me diz aí... pra onde vocês vão, depois de sair daqui...hein...
-Vamos por aí... E ai queres ir junto?
-Opa... É claro... E qual será o preço?
-Isso nos “vê” depois...

Eles riam... Tudo que queria, que fossem embora... e fudessem por ai... Não demorou muito eles saíram porta a fora... Havia silencio e a televisão, por vezes Deus ouve alguma coisa. Que merda... A atendente do bar me olha... Sorri um sorriso sem graça... era apenas eu e ela lá dentro... Então diz:

-Fabiano... preciso fechar o estabelecimento... Tudo bem?
-Tudo bem...

Paguei a conta e sai. Existem dias que realmente nada acontece... Nada mesmo.

Luís Fabiano.



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