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quarta-feira, junho 19, 2013



A festa

Algumas lembranças as vezes são um castigo da consciência. Morta a lembrança, morta a consciência. Creio mesmo que no futuro teremos um equipamento tecnológico que permitirá, amortecer por completo a consciência, e por sua vez excluir as más memórias do córtex cerebral... Puta que pariu.... Fabiano futurista? Sei lá... não importa, a humanidade já desenvolveu mecanismos para ajudar: drogas, bebidas e outros tantos vícios para aniquilar a consciência...portanto fique a vontade e escolha a sua dor e anestesia.

Aquela noite havia sido das mais caóticas. Estava casado nesta época, com uma das tantas mulheres que tive. Decididamente eu não sei por que tentei tanto... Talvez o destino... o destino que eu tinha, de tornar a vida de cada uma delas um pouco pior...ok. Fiz a minha parte. Sempre fui bom de tornar tudo um pouco pior. Eu nutria tolas esperanças como qualquer criatura.

Marta era bem mais velha que eu. Tudo bem... Nunca tive problemas com idade... pode ser vinte, trinta ou quarenta anos...até hoje não sei se tenho restrições. Acho que não. O que importa é o momento, é a instancia que a cosia vai se dar. No início, bem ou mal tudo é bom. Muitas conversas... Muitas fodas... É literalmente o paraíso de Adão e Eva. E depois Deus ou Diabos assinam a carta de despejo do paraíso... E a merda vem rápido.

Marta era muito bonita, morena, pernas e cabelos longos, uma xoxota grande e extremamente molhada, sorria fácil... Tinha arroubos de insanidade sexual, o que me deixava muito feliz... Ela tentava me entender dentro do possível. Apenas tentava. Mas confesso que eu próprio não me entendo. Sou um avião quinze mil pés de altura e sem plano de voo. Tudo sempre é iminente... Colisão iminente... Outro mundo iminente, perspectivas todas iminente... vida e morte, poesia e bolero, drama e gargalhadas.

Nesta noite em questão Marta estava tarada. Leoa no cio... E nesta noite decidimos sair para alguma festa. Ritual do acasalamento em publico, putaria escancarada talvez. A noite estava quente neste período, eu até gostava de aglomeramentos, hoje gente demais me causa náusea. Grupos se comportam como cardumes de peixes... Sem pensamento. Prefiro uma mesa solitária, uma musica leve... Talvez um sax refletido na valeta. Sim, boa vida.

Acabamos parando em uma festa nos arredores do Porto. Um bar que infelizmente não existe mais nos dias de hoje. A música era alucinante... Um metal violento, gente vestindo preto, cheiro forte de sovaco e perfume francês. Boa mistura.
Ali estávamos... Entre metaleiros outras tribos. Começamos a beber, a calibrar forte o espirito, como a poção do amor, tudo começa a ficar mais denso... Sim... como se a realidade tivesse algo diluída... O reflexo alcoólico, realmente torna qualquer ser humano melhor. Marta foi ao banheiro... Fiquei próximo ao balcão do bar, meu local preferido.

Então do nada, aparece uma mulher, estava algo descontrolada e sexy. Vestia jeans justo e uma camisa aberta no peito, expondo em um decote, seios lindos... Grandes e suculentos. Olhei bem pra ela e as tetas, ela riu:

-Gostou amor?

Adoro o jeito que putas falam, o jeito que olham, uma mulher deve realmente dizer inúmeros palavrões... Rasgar a moralidade, esquecer os anos de aprisionamento de suas próprias emoções, e mandar tudo se fuder. Raras mulheres, mesmo nos dias de hoje falam assim... Até mesmo putas as vezes não falam assim.

-Claro que sim... Impossível olhar para ti, e não ver estas tetas...

Então como um raio, uma flecha rasgando espaços, ela se aproximou de mim... Esfregando aquelas tetas lindas em mim... e me beijou ali mesmo... Puta que pariu... a vida é sensacional. Vivo pela surpresa, pela loucura, pelo inesperado. Sim vivo por isso. Uma realidade não anula outra, mas soma-se em mim. Puta merda, maldita consciência. O beijo repleto de saliva, cuspe, língua... A desconhecida era a vagabunda do amor livre, o berro estridente da paixão... e a maior merda que se pode fazer.

O beijo durou muito. Então quando abro os olhos, Marta estava atrás dela... Com aquele olhar... Você sabe? O olhar de uma mulher com ciúmes. Sempre considerei o ciúme um sentimento medíocre. Parecerá estranho, mas ao longo de minha vida jamais senti ciúmes das mulheres que tive. Isso me gerou muitos problemas e duvidas. Para não dizer que não senti ciúmes nunca, sim... Senti... quando tinha quinze anos, quando vi um amigo meu... Passando a mão na bunda de minha namorada... E ela riu... Aquilo me pareceu ofensivo. 

Depois... A vida me ensinou que sentimentos são coisas bem maiores... e mais importantes... Que ciúme não passa de insegurança e aprisionamento... E nada tem haver com amor... Nada mesmo.
O beijo estava maravilhoso... E agora viria o inferno. É o preço. Marta se aproxima:

-Então Fabiano... Ela beija bem?(tinha raiva no olhar)

Seria um bom momento para mentir. Mas a verdade é assim mesmo, um vomito que sai...

-Sim beija, e muito... demais mesmo.
-Ta certo... Então fica com ela filho da puta... Desaparece... Esquece que a minha buceta existe.

A estranha que estava entre nós começa a rir... E vai saindo de fininho.
Marta me dá as costas. Eu tentava entender onde eu havia errado?


Segue... talvez.

Trecho extraído da obra não publicada: Beijo Sujo
Autor: Luís Fabiano.



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