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quinta-feira, dezembro 20, 2012




Navalhadas Curtas: Velha má

O prédio onde moro deveria ser um asilo. A quantidade de pessoas da quarta idade é impressionante.
Abro a porta para ir pegar uma gelada no posto na frente... E me deparo com duas senhoras no corredor e uma arvore de natal:

-Para Julieta... Eu já ti disse, as bolas grandes são embaixo e as pequenas são em cima... Tem que colocar algodão depois... é neve...
-Mas me diz por que Dorotéia? Onde tá escrito isso? Tu tá velha cheia de manias... Aqui é o Brasil não cai neve...
-Tu tá me chamando de velha? Velha és tu... Que tem andar de bengala! Velha e chata...

Achei que elas estavam brincando, e fiquei parado na porta aguardando, o elevador.

-É... Tu bem nova mesmo!! Tu não consegues nem mais colocar as calcinha sozinha... A tua filha tem te ajudar em tudo...
-Mas eu não ando de bengala e não to coroca...

Fiquei olhando aquilo, e uma espécie de depressão me invadiu. Mas que merda, o ser humano não importa a idade, por vezes é muito ridículo... Agora elas estavam muito irritadas...

-Ta bem Julieta... Tu ta pedindo né?! Eu não tenho câncer viu... Não tenho... E tu tens... há,há,há...

A dona Julieta sentiu o golpe, foi como um mata-leão em uma luta mma. Baixou os olhos e foi embora sem dizer mais nada. Eu estava irritado com aquela velha maldosa. Então chamei o elevador. Ela sentia-se orgulhosa da sua vitória barata. Ela entrou comigo. Fiquei olhando pra ela e larguei:

-O infarto é uma doença silenciosa... Né... Quando a gente menos espera poft! Na rua, no elevador, fazendo xixi... A gente pode cair durinho...
Meu olhar estava firme nela... E segui:
-A senhora ta com esta veia ai do pescoço muito dilatada(não era verdade)... E vermelha... Hum...
-O senhor tá falando sério?
-Na minha profissão eu nunca brinco... Serio mesmo, quando chegar no seu apartamento... de uma olhada no espelho...

Ela agora parecia assustada. A porta se abriu e ela saiu rapidamente...
Eu havia ficado com pena da outra senhora... Era preciso equilibrar o jogo... Acho que consegui.

Luís Fabiano.


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