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segunda-feira, junho 18, 2012




Presas liquidas – Luzes de fumaça.

A vida por vezes pode ser um calabouço de ternura. Doutras, farpas afiadas de um amor esgotado. Não tenho em mim nada pronto. Tenho uma eterna mutação, gosto que seja assim, nesta dinâmica serpenteante, numa convulsão sacudindo intimidades, atenuando agruras e beijando o céu nos melhores dias.


Encerrado no apartamento, uma espécie de pele de pedra encobrindo a minha epiderme. Olhava a rua fria, esvaziando uma garrafa de um... a rua ficando vazia, abrindo espaços para que as aguas estagnadas das valetas e vielas, refletissem a luar... as estrelas, como bênçãos de esperanças malditas, nas promessas silenciosas.


O rum é um pote de veneno... ou um balsamo para feridas. Eu estava em paz demasiada. Queria que todas as serpentes do mundo me picassem hoje, e incendiassem minha alma. Eu gargalho em uma semiescuridão do quinto andar. Pressentido o caos... desejando o caos, sonhando com putas descontroladas, o descontrole fatal rompendo as cordas que sustentam a razão. Arrancando acordes pesados... sujos... fétidos, com o asco que olhamos os vermes existenciais...


Sorri como um doente, me vesti. Olho as horas, são 00h59min. Perfeito. Procurava uma caverna famigerada, sentia falta do cheiro existencial, mescla a brutalidade excitante da vida. A química do demônio, do animal existente em nós.


A porta bate atrás de mim.
Entro no kadett e Velhas Virgens faz o tom, a musica Siririca Baby, a vida é só bronha e siririca Baby.... 


O frio espanta as pessoas da rua, mas os bares são mais fieis que igrejas, os templos estão fechados quando a merda entra a rodo em nossa vida. Não precisei ir muito longe... pensei comigo: como um sou um navio... onde navios aportam? Desci em direção porto. Achei uma pequena porta iluminada, com algumas pessoas bebendo a frente. Todos estranhos, vestidos de negro... outros a procura de uma definição sexual, como anjos balançando entre a pica a xoxota, alguns se drogando, uma musica metalizada fazia o fundo.


Não demorou muito para que eu encontrasse um conhecido. Sempre tem alguém. Rodrigo estava muito bêbado, chapado ao mesmo tempo. A bem da verdade, eu sempre o achei um idiota que não tinha pra dizer ou fazer... mas por estas fatais chatices existenciais, ele não conseguia calar a boca. 


Ele fodia o silencio com uma piroca feita de arame farpado. Mas vejam como é a vida. Agora talvez pela força das circunstancias, eu um pouco mais bêbado e ele também... o que se dizia parecia um pouco melhor, uma coerência etílica:


-Fabiano... porra... tu por estas bandas?
-O porto é meu cara... há muito tempo... sou o dono...
-Porra... porra... porra...
-É, eu não conhecia este lugar aqui... existe a muito tempo?
-Não, abriu hoje... é meu cara...
-Parabéns só gente de primeira hein...


Nisso uma mulher muito magra como um bambu... com os peitos secos, feito uma cabra velha, vomita ao nosso lado... e fica tossindo com um cachorro podre. A vida as vezes é uma opera macabra. Rodrigo da risada e cospe dizendo: O Juh... que tu comeu hoje hein...há,há,há porra, deixa  ver, é macarronada bolonhesa?!


Juh fica muito aborrecida, grita umas merdas pra ele, tentando se recuperar.


-Fabiano – diz Rodrigo – to fechando aqui... e a festinha vai continuar lá em casa... vamos lá?
-Tudo bem, estou para os vermes mesmo...
-Porra... porra... boa essa hein...


Era um completo idiota, eu tinha razão.
O rum me deixa disposto... tinha ideias de beber um pouco mais... talvez dar um boquete pra Juh vomitona quem sabe... e depois ficar de boa, anestesiado deixando a vida escorrer pelas minhas veias.


O meu navio havia perdido o capitão talvez num infarto fulminante, agora os ratos saiam dos porões e assumiam o comando da merda toda. Em mim algo era corroído... como um queijo suíço.
Rodrigo fecha o bar... e lança um convite geral a todos que lá estavam: Pessoal a festa segue lá em casa, let´s Go...


Isso é o mesmo que fazer uma cerimonia para evocar o diabo. Todos, absolutamente todos seguiram pra casa de Rodrigo, num cortejo fúnebre as avessas, a casa ficava a sete quadras dali. 


Subi no kadet e tive uma vontade de encerrar por ali, no zero a zero as vezes é lucro... mas não... quando entro em um parque de diversões, quero ver até onde o trem fantasma leva nesta puta vida.


Cheguei na casa de Rodrigo. Bela casa, já havia muitas pessoas lá, a musica de rave tocava alto ao fundo, com eco dos graves. Uns caras, sem cara de bons amigos na frente, rosto amassado, cicatrizes sonoras, não tinham um bom olhar...


Entrei... bem o que se seguiu, eu tive a impressão que realmente o demônio estava passando férias na casa de Rodrigo. Muitos bebiam alucinadamente... outros já estavam em quase coma... outros muito chapados, dançavam gritando freneticamente, nos cantos mais escuros da festa... homens e mulheres se agarravam numa espécie de suruba informal... não havia fronteira, podia tudo, todos se comiam. Fui até o bar, tem coisas que somente bebendo pra ajudar. No bar tinha um cara...que olhou sensível excessivamente atencioso, sorriu:


-E ai “ preto ”... gostando da festinha?
-Ainda não sei... to vendo o que acontece... me consegue aí uma dose caprichada de whisky?
-Pra ti...tudinho...papito...


Ele sorria com todos os dentes. Qual o preço da gentileza? Foda-se, peguei o drink e sai caminhando, olhando tudo por ali. Precisava sentar um pouco. De alguma forma, eu já não sabia mais exatamente o que queria.


Beber é uma espécie de prece no silencio. Consegui achar um sofá e me joguei nele, enquanto duas minas se beijavam ao meu lado, boa cena. Gosto de cenas eróticas não programadas, estavam felizes, excitadas, se lambiam com graça.


Lembrei de Juh vomitona... onde andaria aquela maluca?
A profusão de cheiros lá dentro...era interessante quase nauseante, suor, perfumes variados, sexo, porra... mais suor. Todos pareciam muito desinibidos. Dois caras no canto, tiram o pau pra fora e ficaram se acariciando, esfregando os membros um no outro...em outro ponto, três mulheres entrelaçavam as pernas, erguendo o vestido... esfregando uma na outra, gemiam alto como gosto. Tive a impressão de estar num pesadelo. Eu estava sozinho...inapelavelmente sozinho. Um estranho naquele ninho... nada contra a putaria...ao caos, mas como a vitima, me entediei deles todos. 


Fodiam como uma maquina registradora...abrindo a gaveta...
Fui mijar...e la estava Juh vomitona. Sorriu mostrando os dentes... aquela magreza era uma piedade que a natureza consentia ao seus vícios.


-Vai mijar? Perguntou Juh.
-Sim vou...
-Deixa eu ver?
-Como é?
-É, so quero assistir... gosto de ver homem mijando...
-tudo bem.


Ela entrou no banheiro comigo... eu realmente estava com muita vontade mijar. Ela fixou o olhar...se ajoelhou e tudo. Um mijo grosso sai. Ela se delicia... masturba-se e ri feliz. Nada mais parecia estranho... quanto terminei ela lambeu aquelas gotinhas ultimas que caem... levantou e foi embora. O pau nem se manifestou... realmente quando as coisas são assim o melhor a fazer é dar o fora. Guardei a ferramenta.


O Rodrigo, o dono da festa havia sumido... mas não havia mais nada. O lugar havia se tornando um caos...um monstro de dentes ferozes atacando os incautos... minhas fantasias por vezes se satisfazem ao ver... sou uma espécie de carrasco saboreando o sangue alheio... fluindo da experiência com a mente... 


Quando finalmente sai a rua... o frio da noite me abraçou juntamente com minha solidão. Acho que fazemos um bom par. A noite avança rasgando a escuridão, enchendo de fantasiosas bailarinas de fumaça...esperanças preenchendo o nosso melhor. Como uma melancolia que goteja...senti saudade...mas de que? Acho que estava precisando de um abraço... mas naquela noite todas as portas estavam fechadas, todos dormiam o sono dos justos e dos injustos... e você o que fazia?

Luis Fabiano.


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