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quinta-feira, maio 03, 2012

Xoxotas fritas e chá




Nunca fui inocente
Mesmo quando isso era algo normal
Hoje, inocência é uma doença... de preço alto
É preciso arranca-la como uma chaga da alma

Não lembro que idade tinha
Mas lembro que gostava de ficar debaixo da mesa... escondido
Uma grande mesa disposta na casa de minha vó...
Onde minhas tias, mãe e vizinhas sentavam todas as tardes
Para fazer o que as mulheres fazem com excelência: falar...
Eu nunca dava atenção a nada...
Mas gostava de me esconder ali... nunca soube porque

Um dia como um despertar malévolo
De sombras sussurrantes em fendas escuras...
Os traços mais vis de minha personalidade animal despertaram
Entrei embaixo da mesa... elas riam de qualquer tolice
E bebiam aquela merda chá... café ou qualquer porra destas...
Então como um vírus macabro...
Eu senti um cheiro... um cheiro bom...
Um lindo cheiro de esperança
Que mais tarde vim a perceber...

Um misto ácido... acre... forte... bom... que ardia os olhos...
Nas pernas abaixo da mesa... com aquelas saias que iam ate o joelho...
De uma delas vinha aquilo... puta que pariu...
Foi como ouvir Simonetti... a Ave Maria...
Fui seguindo aquele cheiro cego e cheguei aos joelhos... então entre os joelhos...
Cheiro bom, podre, viscoso, fértil... fantástico... vinha da fresta entre os joelhos
Então como um paraíso de Adão... o abre-te sésamo...
Ela abriu as pernas... e uma lufada maravilhosa me inundou...
Como uma cascata de bucetas sujas...
Lembro-me de fechar os olhos... e a vontade de colar meu nariz naquele aroma magico...

Das pernas da vizinha ou de uma de minhas tias vinha aquilo... não sei
Nem cheiro de chuva molhando a terra...
Café fresco ao amanhecer... mel... o pão novo...
Nada disso foi o cheiro de minha criancice...
Mas o olor afiado, o cheiro lamina... a decomposição do amor...
Ferindo minha alma... matando e me fazendo viver
Na apoteose de fantasias loucas
Que como sementes do mal...
Vingam em mim até hoje...

Eu o cravo da infâmia... o desejo sem fim...
A loucura bêbada riscando espaços do caralho celeste...
Jamais esqueci aquela tarde...
Eis o meu primeiro amor romântico
Nada jamais foi igual.


Luís Fabiano

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