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quarta-feira, maio 23, 2012






Navalhadas Curtas:  Um beijo doce na miséria 

Gosto de caminhar no final tarde. Tenho um intervalo quase sagrado. Caminhar é fazer os pés treparem com a calçada, faz relaxar. A noite cai rápido, e próximo a praça do Direito ... vou andando devagar, penso em nada...
Olho entre as plantas ralas do local, dois mendigos animados, como vermes no cemitério... ou talvez nem tanto.
Ambos debaixo do um cobertor rasgado de esperanças, sujo, e com cheiro forte da imundície, urina e merda, invadiu meu nariz sem pedir licença.
Parei para olhar a cena, digna de um sorriso sarcástico de um prazer terrível. Dizia um para outro:
-Zé... ohhh Zé... vem aqui, vem... vem tocar no meu “beludão”... pega aí...
-Tá... já pego... to com uma coceirinha no cuzinho...
-Zé... Zé...deixa eu coçar pra ti aí...vem aqui... olha o beludo como tá...
-Tá... mas antes vamos nos esquentar né...
Eu parado na esquina, um voyeur do abismo... outras pessoas passavam, talvez quisessem ignorar aquilo, como se ignora um peido sonoro e fedido no elevador.
O cheiro ali, não era dos melhores, cheiro de vida, suor, merda e sebo adormecido de dias. Eles começaram a fazer um meia-nove dos mais trágicos... gemiam a luz do luar, e ouvia-se:
-Ahh Zé... como tu pega no meu “beludão”... Zé... to me gozando... Zé... é... é... ahhh.
-Já foi?
-É...
-E eu cara? Pergunta o outro...
-Depois eu cuido do teu Zé...
Começaram a juntar bitucas de cigarro do chão... a vida é algo... afinal os miseráveis também amam, os maus desejam ser felizes e os justos também se fodem ao anoitecer.

Luís Fabiano.


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