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quinta-feira, março 08, 2012


Boxe e louça suja nos vapores da manhã


Ela despertou pela manha, sentindo que algo não estava bem. Sabemos quando algo esta fora do lugar em nossas vidas. Com um peso no coração, queria saber o que estava de errado. Onde... Era ela. Uma pena errante no pensamento, sentou-se na cama, esquadrinhando a parede.

Eu continuei deitado fingindo que dormia. Melhor assim. Não lido com suposições... prefiro coisas reais. Mais um erro, menos um outro, coisas que carregamos sempre em nós, mas que precisamos saber libertar. Abrir os portais do peito, inferno ou paraíso.

Ela levanta e fica andando pela casa, nervosa, ansiosa e seminua. Hoje não terá foda matinal. Não sei por que fico lá às vezes. Sempre tem algo acontecendo. Por vezes tento falar, mas é como falar com uma parede. Por vezes a vida é um cabo de guerra, temos de ir puxando sempre... sempre... força... Sei como funciona o jogo.
O quarto esta abafado, estou suando, um ventilador surrado tenta fazer algo... um vento quente, inútil... tudo certo...é melhor que nada.

Andréia vai até a cozinha. Faz barulho com panelas e louça. Ontem estava um caos lá também. Louça suja por todos os lados. Tem sido assim sempre. Não consegue se organizar. Não esta animada. Dificuldades financeiras, pressões dos parentes... Estigmas calcinados de coisas que se perderam ao longo do caminho, há deixam cada dia mais amargurada. Sente-se derrotada. Não se pode viver assim. Acabamos tingindo toda a existência de uma merda fulminante, merda sem poesia... e se seguimos assim, tudo acabará pior. Não importa o quanto... mas lute até o findar das forças, esmurre a parede... algo acontece, mudamos a porra da sorte assim, ainda que Deus jogue contra.

Sinto que uma bomba relógio esta armada, quando vai explodir? É melhor desarmar enquanto é tempo. A vida esta longe de ser algo perfeito. Temos ideias que tudo funcione como uma engrenagem sincronizada, lubrificada, mas por vezes nada ajuda.

Estou deitado, o pau esta muito duro. Tesão matinal me acompanha sempre, mesmo quando tudo esta horrível, não importa. O pau duro é uma certeza que ao menos o corpo esta funcionando bem. Não tenho mais como ficar deitado, barulho demais. Existe uma linguagem silenciosa por debaixo de todo aquele barulho.
Levanto.

A encontro na cozinha lavando tudo. Abraço-a pelas costas, apertando forte e como um copo que transborda, ela chora como uma criança. Sei toda a historia. Sente-se desesperançada, empregos que pagam miséria, tudo a sua volta cheira incertezas... contas que chegam e ficam sem pagamento, um filho abortado naturalmente, coisa que o tempo faz pesar.
Ficamos assim abraçados um tempo. Quero tirar toda a dor dela mas como?

O pior passa como uma tempestade que se acalma. A chaleira ferve no fogo. Sentamos a mesa tomando um café com umas bolachas. Tento relaxa-la, não quero que enlouqueça... já vi gente pirando assim... porra as vezes um caminho sem volta...

-Andréia, por vezes somos desafiados... a natureza esta sempre fazendo isso, é assim que ela faz as espécies evoluírem...
-To cansada... não sei se quero evoluir... quero apenas acertar minha vida apenas...
-Então acerte... ouse...faça a coisa acontecer... se ficamos parados toda a merda do mundo vem caindo despencando a cabeça... como uma chuva de meteoros...
-Será que isso passa?
-Passa... agora abandone as dores passadas... mergulhe nos fiapos de esperança e vá em frente...

Ela secava as lágrimas, e por um momento vi um brilho singular em seus olhos. Gosto daquele brilho. Veio pra cima de mim, sentando com as pernas muito abertas, seios expostos com bicos muito duros, estava com ótimo cheiro matinal, suor grudento, cabelos desgrenhados fedendo a cigarros... a vida não pode ser melhor. Fica roçando a xoxota com pelo muito denso e negro saindo pelo lado da calcinha minúscula, sobre meu pau.
Ficamos naquilo.

A esfregação que antecede a uma boa trepada, por vezes é melhor que a trepada. Entregamo-nos ao desejo. E por aqueles momentos de virada, onde ficaram as dores e a porra das lágrimas?

Na cozinha revirada em caos, louça suja... a mesa foi nossa cama, onde se come e come. Ela fazia sua opera e seja como por for... a vida por alguns instantes pareceu ótima.
Não sei onde tudo nos conduzirá, creio que não importa, o futuro é uma coisa estupida... o importante é termos a capacidade de virar o jogo sempre, como um bom boxer, round após round tentando acertar o nocaute, e vencer.

Luís Fabiano.

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