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segunda-feira, outubro 24, 2011



Decisões, maldições e um pouco de merda

Quando ganhou a rua, a porta que se abriu explodindo seus piores pesadelos, aquela liberdade claustrofóbica das ruas, a solidão causava pavor, medo e uma sensação de espaço ilimitado. E nada para agarra-se.
Que faria?

Malditas liberdades que nos tornam cativos dos fantasmas que habitam nossas entranhas profundas. O não saber o que fazer.
Então como um naufrago é preciso agarrar-se ao que é possível. Raramente procuramos as respostas mais difíceis. Temos uma predileção pelo que é fácil, comum, esperado e nada original. O caminho que todos seguem é tudo que queremos, sem desviar um centímetro.

Não achava a historia de Cesar grande coisa... afinal quem não faz, fez ou fará merda na vida? Detesto ver homens arrasados por causa de mulher. São piores que cachorros abandonados. Sentados no bar do Paulo, um boteco de quinta, bebendo e falando dessa maldita liberdade que lhe fazia tão mal... acho que definitivamente não sou bom para conselhos. Tive mulheres demais, terminei relações demais, me endureci profundamente, e acho que este estado é uma boa pra mim. Deixa-me mais paz. Nada de amores arrasadores, isso é uma merda, nada de paixões sem freio, nada de sofrimento sem sentido e modorrento como leite qualhado. Não preciso disso, já sei como é.

É sempre a mesma merda. Você precisa aprender a sentir as coisas, a sentir tranquilamente e saber fazer a entrega deste sentimento mesmo sabendo que irá se fuder...hoje ou amanha...é natural, é a natureza. Quando você aprende o segredo, você tá pronto para começar a ser feliz. Mas isso não se ensina. É se ferrando dia após dia que se aprende.

-Cesar, você queria ser livre e esta... agora chora por saudade daquela vagabunda?
-Oôo Fabiano... não é vagabunda...não fala assim não...
-Cesar, vá tomar no cú... vai dar uma de passional? Desculpe a sinceridade Cesar, tu és um merda...

Cesar meio bêbado de cachaça, com saudade de Fernanda... era um elefante sem noção. Eu estava sem paciência. Não são todos os dias que gosto que meu ouvido seja penico. Afinal a ideia da separação foi dele. Fernanda apenas aceitou sem crise. Gostei dela, elegância emocional. Comeria a Fernanda. Era um tipo interessante, leve como uma gaivota, sorria com facilidade, usava bons decotes, e sua boca parecia uma vagina com dentes. Mas acho que era melhor não falar isso para Cesar.

-Eu sei... mas agora ela não me quer mais...
-Duvido que você se quisesse também Cesar... mulheres não gostam de frouxos...
-Mas eu não sabia que iria sentir tanta falta dela... foi no impulso...
-O melhor que você tem a fazer cara é se dar um tiro...

Sempre dou estes conselhos. Até hoje ninguém fez, toda a passionalidade tem limites afinal. Matar-se e deixar uma carta para impingir culpa na pessoa que fica, a responsabilidade por uma morte, ela não se consumirá de amor... mas de dor e culpa. Mas acho que no caso de Cesar, será apenas esquecimento.

-Não vou fazer isso cara, é besteira...
-Então o seguinte, vamos visitar umas putas... e lá você chama a que te agradar de Fernanda, trepa com ela...e depois paga e por essa noite tudo estará em paz.

Houve um silencio. Normalmente eu fico quieto, não sou bom de conselhos como já disse. Mas Cesar estava um saco, e nem ao menos era meu amigo. Um conhecido amigo de um outro amigo...

Fui ao banheiro, chego lá e uma surpresa, uma travesti no mictório, mijando em pé na trilha do mijo, muito caracterizada, erguendo um pouco a minissaia, seios grandes... fui mijar e vi que ela dava uma olhadinha para o lado discreta... queria ver algo... não tenho um super pau, pau normal. Fiquei na minha. Ficamos lado a lado.

Por um momento pensei em dizer a traveca que fosse à mesa e ficasse com Cesar. Mas era melhor eu cair fora. Chega um dado instante que é preciso jogar carga ao mar, para que o navio ande um pouco melhor. O papo com Cesar não iria leva-lo a lugar algum, ele era uma Madalena arrependida, que fosse até a casa de Fernanda e lambesse seus sapatos, que bebesse de sua urina e comesse de sua merda... e fosse feliz. No final é apenas isso que importa.

Sai do banheiro e passei pelo outro lado, deixei o Cesar ali com sua cachaça. Não sentia drama algum. É preciso entender, a natureza não arbitra em sentido de piedade ou punição. É preciso tomar uma decisão e não olhar para trás. É assim que faço, não tenho espaços para arrependimentos, culpas ou transtornos. Jogo ao mar o que fica demasiado, e vou vivendo um dia de cada vez... como um ex-viciado...ex-alcoolatra ...hoje eu não...

Luís Fabiano

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