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sexta-feira, setembro 30, 2011


Navalhadas de um mundo Deformado:


Restos da abundancia – fragilidade da merda

O terrível engolfado em nossa modorra existencial, catapulta-nos as zonas infernais, onde os demônios dançam a macabra dança. Demônios regurgitados do espaço, que deixamos para nossas trevas pessoais.

Meu olhar descansa inquietudes afiadas. Enquanto tento fazer minha trajetória ordinária, no meu intervalo de sempre. É sempre o sempre, os passos que tentam destilar paz, puta que me pariu... que paz?

Na esquina da minha casa, enquanto eu tentava alçar esse voo num céu sem nuvens... um desconhecido. Um destes milhões de desconhecidos, que não fazem diferença irônica alguma para nós. Que morrem a pencas sem que notemos.

Abria a lata do lixo, dali pescava um saco furado de arroz nauseabundo e velho... lixo fétido, em acirrada disputa com ratos densos e caldo de esgoto...

Descobre-se a estreita distancia
A moldura dos devaneios sem raiz
Onde a sombra de nossas opulências brilhantes
Repousa sorridente emborcada sobre fragilidades tantas
Encanto em mar ao sabor do tempo
Enseada de destinos partidos
Ondas que vem e vão iguais
De desimportâncias que gritam em desespero lancinante
Enquanto o rascante é engolido como mel
Ilusões espremidas das necessidades plenas
Abortando anjos e filigranas luminosos
Chafurdando no asco a deriva
A procura de pedaços de salvação.

Queria fica indiferente aquilo... como ficamos anestesiados com as catástrofes do mundo, depois de repetidas um milhão de vezes. O vomito converte-se em licor, o nojo ganha suavidade, o desespero perde a cor... que merda. Creio que se tivesse ali, uma anestesia imediata, capaz de jogar tudo num mar de indiferenças, terreno confortável que conhecemos bem.

Fixei meus olhos nele, neste nada cuspido de Deus, olhei-o bem, para que sua visão me navalhasse as vísceras. Aquele arroz se desmanchando entre os dedos sujos, mas não havia tempo para nojo. Existem coisas maiores. Ele um nada, pessoas passavam olhando mergulhadas na normalidade patológica de suas autopenitencias. Eu o pior deles, sentindo meus caninos crescerem enquanto traço estes restos intragáveis...

Por do sol distraído
Procuro os recantos da alma
Onde jaz nossa quintessência enfraldada
O diáfano sem destino
Tentando iluminar a casca, a armadura
A seda de aço machucada
Impotência dos desvalidos da outra margem
Sementes ainda não rompidas do querer
Intenções riscando o céu
Pedaços a serem completados
Amor a procura de asas
Pólen ao vento
Vazio abraçado a beijos errantes
Quer um pouco de arroz?

Luís Fabiano.

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