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sexta-feira, abril 01, 2011




Beijos e vômitos

Acordei com o vomito subindo pela garganta, é uma ótima sensação, a que você vai se afogar neste instante. O sobressalto, e corri até o banheiro, ali de  frente, no vaso depositei a cerveja que havia tomando no dia anterior, o vinho, a vodca e claro rum também.

O resto que saiu fora isso, foram fragmentos de minha alma, estava ajoelhado a beira  do sanitário como se tivesse me confessando a um padre, por fim acabou. Respirei aliviado e não lavei a boca, sou um tipo estranho sabe, gosto daquele gosto azedo que fica, como a última estrofe de uma poesia, as amargas lembranças, ao que ocorreu ontem? Mas o que foi mesmo?

Sim, agora eu lembro, a Gorda havia me carregado para seu covil novamente, começamos uma luta de sumô erótico ao som de AC/DC alto. O bom e velho rock in roll é ótimo. Gorda é uma velha puta amiga, em minha perambulação por ai, sempre acabo encontrando-a, isso pode ser sorte ou azar.

Chamo-a de Gorda, porque é enorme, menos um pouco que uma baleia, este é um dos meus prazeres mórbidos. Ela é sempre divertida, seu alto astral a leva para cama, a querer gozar por todos os poros. Começamos a beber em um boteco ordinário nas proximidades da Guabiroba. Tinha ido bater papo com alguns amigos antigos, quem estava lá naquele bar? Quando a vi, já sabia do desfecho, é como um karma inescapável.

Gorda se diz apaixonada por mim, realmente não sei por que, mas não é pelos meus dotes sexuais, uma vez que meu humilde membro não consegue, digamos chegar ao fundo dela, impedido por uma barreira de gordura, barriga e flacidez. Mas eu tento, e muito. Aliás muitos homens tentam, mas poucos se animam.

A conversa estava boa, as bebidas se sucedendo, fomos alternando, aquele pessoal gosta disso, ninguém tem grana pra comprar roupas, pagar pensões ou comida, mas a bebida é o néctar capaz de salvar da desgraça absoluta, um lubrificante da vida, uma espécie de buceta engarrafada, roubando a colocação do velho Poetinha.

A noite sempre é mistério, nunca se sabe como vai acabar, às vezes vira pesadelo ou sonho, é bom que seja assim, tenho muita disposição para ambos, venho aprendendo isso com o passar do tempo.

Meu desejo é paz, mas confesso que não sou muito exigente atualmente, conheço pessoas que colocam a felicidade onde jamais irão alcançar, a paz em coisas que estão distantes de si e das possibilidades, um balanço entre o passado e o futuro, enquanto a vida acontece aqui. Ou você é feliz agora, esta em paz agora, ou nunca estará.

Fiquei lá algumas horas, não falando nada de útil. Lembrei-me de Vanessa, uma de minhas ex, que ficava muito irritada, porque eu fazia tais coisas, quando eu chegava em casa tarde, sua cara era de uma cólica menstrual aguda, que durava horas sem alivio. Nem argumentava, sempre fui de fazer o que tenho vontad , por fim, eu a aconselhei a ter um Ricardão, isso poderia fazer bem para nossa relação. Diga-se de passagem, que isso já me aconteceu, uma terceira pessoa estabilizou a minha relação feroz, e tudo ficou bem.

Ciúmes não é meu dom, nunca senti, no final da história, Vanessa me dispensou e arrumou outra. Então a vida não é perfeita?

Estava ficando cansado, Gorda grudada em mim, queria ir embora, tentar transar. Fomos embora para seu pequeno apartamento na Guabiroba. Era algo aquele Ap, as paredes meio destruídas, caindo reboco, um cheiro de azedo no ar, como um esgoto entupido, creio mesmo que aquele cheiro já havia evoluído para estado de nuvem de tão denso. A cama quebrada que eu já conhecia, então deitei. Gorda já veio nua, e se atirou sobre mim, ela gosta de fazer isso, diz:

-Vou te amassar como bolo de carne há há há vou te afofar meu lover friend...

Conhecia aquele texto de cor. Ela começou a trabalhar bem com a boca, conseguiu erguer meu mondongo cozido, inverti o jogo. Fui pra cima dela, tentar fazer a coisa acontecer. Sinceramente, eu me senti muito macho naquela hora, poucos homens tem esse gabarito ou se animariam, as vezes isso é bom para o ego, sentir-se o mais foda das galáxias.

Fui abrindo caminho com as mãos, até que o olho mágico apareceu, redondinho, tímido e com alguns fiados de merda seca esquecida ali. Era a coisa mais linda, um por do sol do Guaíba, introduzi ,  fizemos alguns movimentos, ela guinchava como uma porquinha de estimação, respirava a profundos haustos, parecia gostar, por fim gozei, um gozo mixo, e tudo acabou.

Não foi uma super foda, é verdade, mas por favor, avaliem as condições de tudo. Depois disso, tudo que queria era ir embora dali, não aguentava o cheiro de esgoto, nem a sensação de claustrofobia que estava sentindo:

-Fica coração, vem ficar comigo, tu sempre vai embora rápido, tens nojo de mim?
-Gorda, não faça perguntas difíceis as três da manha, eu apenas quero ir embora, eu sempre vou...
-Um dia vais dormir comigo, a noite toda e deixar eu transar contigo ao amanhecer?
-Ok, mas não hoje.

Todos querem romance, todos desejam coisas sutis, que a mera dureza da realidade intrínseca, é preciso alento e talvez um pouco de amor, no fundo isso que todos queremos. De minha parte eu não sei mais, prefiro viver o que a vida me oferece, creio que ela tem me oferecido o melhor nos últimos tempos, uma paz construída de silêncios, afagos tecidos da intimidade, e uma musica perene, misseis que acariciam o coração.

Dei-lhe um beijo, e ela fica na porta me abanando como criança, detesto despedidas, creio ser minha principal fraqueza.


Luís Fabiano.

2 comentários:

Anônimo disse...

Bom texto também. Um pouquinho de revisão cai bem. Dea

Dóris disse...

"...uma paz construída de silêncios, afagos tecidos da intimidade, e uma música perene, mísseis que acariciam o coração." Isto daria um ótimo ensaio sobre o amor e a solidão.
Teus textos são sempre muito bons, parabéns.