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sábado, janeiro 01, 2011

Casca real


Amanheceu o primeiro dia do ano, ótimo. Sinto-me arrasado. Não existem motivos evidentes para sentir-me assim. Mas desde quando precisamos de evidências? O sentir caminha por caminhos subterrâneos. Ainda bem. As vezes como vermes, carcomendo por dentro.

Respiro fundo, sei que sentir-se assim não tem nada demais. Ao menos por enquanto. Se ficar mais grave e começar a sentir desejo de enfiar uma bala na cabeça, bem ai vou começar a ficar meio preocupado. Não é bonito sentir isso em tais datas.

Eventualmente é bom se pensar na morte. Não com um sentido de fuga, mas o pensamento de nossa finitude. Saber que na verdade não se tem controle algum sobre esse fato. Afinal a morte não tem compromisso com nada, nem idade, sexo, cor, justiça e etc...

Estranhamente tal pensamento me consola, como uma oração aflita. Não aconteceu nenhum sinal de Deus, mas os vermes dançantes em meu coração se acalmam. No fundo é isso, é preciso alimentar os vermes as vezes. Como é preciso alimentar certas dores. Agora que já morri um pouco, posso viver.

Fiquei lembrando dos inúmeros convites que tive para festejar a porra do ano novo. Não aceitei nenhum. Não estava com espirito de festa, alias raramente estou. Nada amargo, apenas não queria ficar rodeado gente , berrando, gritando, desejando, feliz ano novo e com musica horrível de fundo. Eu poupo as pessoas de minha presença, que seria muito desagradável a elas.

Preferi ficar eu e meus vermes adestrados. Uma espécie de sadomasoquismo consentido. Fico me agulhando com lembranças, e minhas lembranças em sua grande maioria são terríveis. Acho que lembro de apenas um ou dois momentos felizes, o resto foi tudo falso demais. Relaxo então. Ligo um Pink Floyd suave, na rua som dos carros em disparada para chegarem na hora, enquanto um cara muito sujo remexe o lixo a procura se sua ceia. A noite escura sem estrelas, amanha vai ser terrível, mas ao menos estarei sozinho outra vez. Puxa, estou sozinho a muito tempo, isso dá paz e agonia, atiça vermes, muito bom. A merda do telefone toca, não atendo, o som mistura-se ao telefone. As pessoas não deveriam ligar, nunca sabem o quanto atrapalham.

Volto a mim.

Decidi fazer um greve de fala. Ficarei eu meus vermes, trocando ideias. Acho um bom começo de ano, aliás, nada me parece mais real que isso.

Luís Fabiano.

Um comentário:

Dóris disse...

Já passei a virada de ano sozinha, e te digo, é muito bom, assim como estar junto de outras pessoas também é bom. Mas tudo deve ser ponderado.

Abraço cheio de PAZ.