Carinhosa Indiferença
Gosto de algumas indiferenças que me invadem, aleatoriamente. Não tenho um bom controle sobre mim, mas emoções como argila mole, estão sempre prontas pra tomar uma forma. Nem sempre boas. Não tenho, entretendo, muito claro o que traduzem por bem ou mal. As coisas podem soar simples, demais para conceitos prontos e engarrafados.
Para um bom suicida, ao alcançar-lhe uma corda pode ser um bem, ou dar-lhe a arma carregada para que faça seu desejo, para que encontre sua amada morte. Neste momento se erguem os precisos do idealismo perfeito. Acho bonito. Porem muita gente que não é doente se mata.Tudo bem. Os motivos são inúmeros e não questiono apenas respeito.
Todos tentamos a todo préstimo evitar a dor. Muitos conseguimos, porem sem que isso tenha um profícuo entendimento. Entendimento? Foda-se o entendimento, quando seu dente cariado dói, foda-se todo o entendimento, me tirem esta merda, ou me matem!
Ás vezes a anestesia funciona. Como funciona para nossas convivências sub-sociais. Então a pressão torna-se pesada, a cobrança como um dinossauro a berrar, a porta de nossa caverna, bem ou mal sentimos o medo.
Disfarçamos bem, tentamos colocar um véu aparente, porem se pudéssemos nos ver por dentro. Cagados até os ossos. Não que não creia em corajosos autênticos, mas eles são raros, e normalmente possuem mais que mera coragem.
Falo por ser um destes cagões emulados de brilho pueril. Que me lembre, coragem nunca foi uma coisa que me atraiu. Nada de heroismo. Meus amigos de infância, sempre vinham com desafios, entrar em lugares assustadores, ou desafios físicos, corridas, queda de braço e outras merdas. Eu passava isso com uma indiferença tamanha, que todos pensavam que eu era um merda. Hoje eles têm certeza. Eu não achava nada demais ser um merda.
Porem isso acabou mal uma vez. As pessoas começam a confundir as coisas desde muito cedo. Achavam que eu não era de nada, debochavam largamente de mim. Isso eu considerei um bom treino. Um treino pra aguentar porradas da vida. Logicamente eu não sabia disso. As coisas vieram a se esclarecer ao longo do tempo. Quando minha solidão começou a tomar espaços, tudo ficava claro. Uma ilha entre tantas ilhas, recebendo acenos de embarcações distantes, nunca aportavam.
Um dia um dos meus colegas, amigo ou sei lá o que, deu uma cuspida na minha cara. E saiu rindo, dizendo que eu era um maricas mesmo. Lembro bem da cena, coisa de filme. Tirei o cuspe da face com as mãos, e quando ele ainda estava distraído rindo, dei uma sequencia de chutes fortes nas bolas e no rosto.
Ás vezes alguém tem quer ser o bode expiatório, para que o respeito se faça. Fiz aquilo sem raiva, apenas pra revidar e colocar alguns limites. Achei que era o momento.
Não preciso dizer que o estrago que fiz foi grande. Eu tive uma criação paternal exemplar. Meu pai achava que aquilo que acontecia na rua, deveria ser resolvido na rua como homem e ponto. Eu resolvi do meu jeito. Bem distante de pedagogas, psicólogas e educadoras, cheias de ideias perfeitas, criando pequenos psicopatas do futuro. Um futuro cheio de não me toques, onde tudo é dialogo afável. É bonito, mas pouco real como eficiência.
Poderá parecer brutal, mas homem nasceu pra dar e levar porrada, se tornar forte, decidido e eficaz.
No fundo as entendo. Tentam ludibriar nosso primitivismo natural. Queremos esquecer nossa origem a todo custo. Porem o macaco que existe em nós ainda grita feroz eventualmente. E não é preciso muita coisa para que ele berre e mostre os caninos, em nossa floresta de cimento e pó. Por hora esquecemos ou queremos esquecer. É mais estético.
Não gostei de ter machucado meu colega abusado. Nunca gostei quando a besta que habita em mim sai pra fora. Neste sentindo, eu acho que a melhor opção pra mim, é seguir sendo um merda. Sinto-me melhor. Já disse de outra feita, nunca se sabe quando um tigre esta domesticado. Tem coisas que é melhor não saber.
Por momentos gostaríamos de ter um coração tão grande, capaz de abarcar o caos. Mas nossas fragilidades são imensas, nossas lagrimas tão fortes, nossa voz se perde entre tantas, e a presença mais bela e profunda de em meio a isso, somos nós mesmos. A nau a deriva na esperança de um porto seguro, ou viver dos carinhos do mar.
Acho que fiz minha escolha, entreguei-me aos carinhos do mar, e vez em quando, eu realmente me sinto bem, ainda que seja por um breve instante. Já vale a pena.
Luis Fabiano.
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