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sexta-feira, novembro 12, 2010

Mais um demônio...


Vez ou outra o demônio vem me visitar. Foi exatamente o que pensei quando olhei para cara de Antônia. Os olhos estavam revirados, via-se apenas o branco. Um efeito especial natural. Ela berrava, dizendo que era uma deusa egípcia do passado. Não lembro o nome.
Não me assustei. Nunca tive medo destas coisas, possessões, incorporações, vodu, magia dos infernos e a porra toda. Antônia sempre tivera esses papos estranhos. Talvez a idade estivesse chegando e com ela alguma insanidade. Dentro dela, havia mais lixo atômico que Chernobyl. Tonelada de frustrações, filhos fudidos que esqueceram que ela existia, algumas internações no manicômio local, e nunca mais foi a mesma. Afinal merdas acontecem. E eu ali.
Nos conhecemos através de uma outra amiga minha. Que disse algo assim:
-Conheço a pessoa certa pra ti! Uma coroa muito louca vais adorar...
Acho estranho quando as pessoas dizem que vou adorar isso e aquilo, quando eu mesmo nem sei do que gosto. Pra mim as informações de gosto, dependem de contexto e outras coisas. O que hoje é bom, amanha talvez não seja. É assim que observo a vida, uma idéia flutuante.
Eu apenas respondi: OK, chame-a.
Nosso primeiro encontro não foi necessariamente um romance. Duas cervejas depois ela estava com as pernas abertas dentro do carro, e eu acariciava uma buceta completamente careca, o que não faz meu estilo. Gosto de pelos. Mas com cerveja, quase tudo na vida torna-se tolerável. Não se fez de rogada, e fomos parar em sua casa.
Na entrada casa, depois que entramos na porta, ela saca um punhal e diz:
-Isso aqui é a proteção da casa.
Concordei, achando a colocação uma das mais idiotas que eu ouvi. Era apenas um indicio. No quarto nos despimos rapidamente.
E comecei a trabalhar aquele corpo de sessenta anos. Até que não estava mal. Algumas coisas estavam firmes, tinha feito algumas plásticas. A pele muito branca e esticada, dava-me a sensação que algo não era verdadeira. Ela queria elogios, e eu uma boa foda. Ficou zero a zero.
Nos tornamos mais ou menos amigos. Ela dizia que me achava um bom papo. Eu a achava curisosa e louca. Porem ,o ser humano não demora muito a mostrar os dentes. Tudo é uma questão de qual o botão certo apertar.
Tenho por prática apertar vários, é proposital, gosto de saber o que incomoda, e geralmente fico ali, causando uma leve tortura repleta de mel. Posso até dizer que esse é o segredo da paixão e de alguns amores. Por que o ser humano é profundamente apegado as suas dores, e se você coloca uma pressão ali, o suficiente para lembrar que dói, e faz isso de uma forma carinhosa, os instintos fazem o resto acontecer. Quase uma arte da natureza. Puta merda, nossa tolice é uma coisa infinita.
Passei a frequentar a casa dela, em doses homeopáticas. Isso era agradável, conversamos um pouco, bebíamos vinho, ela se despia, eu não precisava pagar nada. Trepavamos trocando juras de amor eterno, ela se satisfazia, eu também.
Porem até que chegamos a este dia fatídico, em que o demônio apareceu por lá. Não estou fazendo trocadilho barato. Neste caso especifico o demônio tem forma de mulher.
Quando cheguei a sua casa, já a encontrei completamente nua e bêbada. Abriu a porta assim, falando com língua pesada. Achei engraçado. Ela não se escondeu atrás da porta, eu aproveitei e abri mais ainda, e algumas pessoas passaram, gritaram alguma coisa elogiosa como: e ai velha puta!!
Ela responde e eu entro. Naquele dia não teve papo. Fomos para o quarto fui tirando a roupa no caminho, por fim a cama. Subi nela e comecei a trabalhar leve. Ela gritava coisas caóticas. Então revira os olhos e começa a falar com uma voz rouca, dizendo que era a rainha egípcia. Não dei bola, ela poderia ser a puta que pariu. Então ela crava as unhas afiadas em minhas costas. Uma dor forte, digo:
-Hey baby, pare com isso, doeu.
-Eu sou a rainha, e tu meu servo, servooo.
Estou acostumado com situações sadomaso. A voz rouca dela, olhos revirados e aquelas unhas, a coisa estava um pouco estranha.
Ela diz:
-Agora tu vais morrer servo, eu te imolarei aos deuses, agora...
-Calma aí senhora rainha da porra, aqui não vai ninguém morrer, pode ter certeza.
Não preciso dizer que nessa hora, passei a crer que o demônio estava ali. Pelos motivos narrados. Ela me apertava forte. As unhas cravadas nas costas e senti um filete de sangue escorrer.
-Seguinte rainha do egito, para agora, ou a coisa vai ficar preta...(no meu caso pura redundância.)
-Tu és servo, servoooo...e morreraaaaas.
Achei que aquilo estava um pouco demais. Ela estragou uma bela foda. Então em um movimento rápido, a segurei pelo pescoço. O demônio ia ficar sem ar. Comecei a apertar de leve, tinha um certo controle, e fui apertando devagar, pra ver até onde ia o circo.
Sentia seu coração batendo nas veias entumecidas, e o rosto desfigurado. Não posso dizer que é uma cena linda, ela respirava agora com certa dificuldade, mas estava longe de morrer. Era tranquilo. Por fim os olhos dela voltam ao normal, e a voz parece ser dela. Alivei a mão.
-Então baby é você mesma ?
-Sim, sim, obrigada...sim..
Comecei a rir, do agradecimento. Eu sou agora um exorcista de demônio, eu sou da porra, eu pensei, agora:
-Você tem cerveja em casa?
-La na geladeira, pega lá. Mas eu não beberei mais nada, por hoje chega estou com dor de cabeça.
-Ok, você que sabe.
Pego a cerveja, volto ao quarto. Ela se cobre, sente-se envergonhada. No pescoço vejo um pequeno hematoma. Coisas do amor. Tomo aquela cerveja em silencio. Havia naquele momento uma espécie de ressaca moral, da parte dela.
Ressaca por ser fraca, por pensar nestas coisas espirituais e ao mesmo tempo não acreditar em nada, por sua loucura e carência. Sabemos quando fica uma tristeza no ar. Ela sentia-se constrangida da minha presença.
Juntei minha roupas do chão. Não queria explorar mais nada. Chegava de verdades densas. Tenho em mim um quê de loucura, e isso me aproxima tipos estranhos. Eu não sentia nada. Antes de sair, a olhei nos olhos. E pensei, muitas vezes as pessoas procuram as coisas nos lugares errados. Achar o ouro da existência nunca foi fácil, se queremos um pouco de amor, um pouco de autoconhecimento, um pouco de felicidade é preciso também estar disposto a sacrificar coisas.

Luis Fabiano.

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