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quinta-feira, novembro 11, 2010

Lembranças de chumbo

Não tenho gostado de minhas memórias. Elas em se revelado surpreendentes e fatais. E tenho uma opinião clara sobre surpresas. Não gosto. As vezes pode ser, mas prefiro que as coisas sejam como sejam, como um mar ondulante ao amanhecer.
Mas desde quando a vida é um mar ondulante? Quase nunca o é. Tudo bem, que seja. Sempre tem algo acontecendo, algo que esta estertorando como um maremoto em minha vida, nas vidas das pessoas que me cercam e no mundo a delirar.
O exercício de lembrar, tem me feito desenterrar coisas que estavam mortas dentro de mim. Emoções soterradas. E algumas coisas ganham uma nova explicação, talvez a luz da fresca verdade. E o que era aparentemente muito bom, ora revela-se na verdade uma tragédia pessoal. Feita de abismos e derrotas que se sucederam. Fico tranquilo, as vezes eu mesmo sou um peixe no aquário.
Em um breve retrospecto, não me recordo de ter ganho nada. De ter sido um vencedor em alguma coisa. Nenhum campeonato de nada, sempre fiquei em terceiro ou ultimo. Nos primeiros anos de vida isso ficou muito claro. A escola, que foi uma espécie de aprendizado inverso. Entre as quatro operações matemáticas e letras do alfabeto, descobri a clandestinidade dos banheiros. Pedaços de minha inocência.
Íamos para lá fumar escondido. Muito cedo aprendi as coisas piores ou melhores da vida. Porem por uma qualidade, ou defeito de minha alma, sempre fui invulnerável a vícios. E tentei vários tipos. Estranhamente, meus colegas daquela época, a grande maioria já morto, se viciaram em cigarros, bebidas, drogas e outros tantos pecados da alma humana.
Meu corpo não aceitava dependência nada. Mais tarde ví que tal invulnerabilidade também era algo também emocional. Ficava claro pra mim, o quão era difícil ás pessoas me tocarem de alguma forma. Era impermeável a tudo. Como se minhas emoções, fossem feitas de matéria plástica ou silicone. Muito de mim é assim ainda hoje.
Não considero quase ninguém. E talvez uma ou duas pessoas me conheçam bem o suficiente. O resto deduz, ou como a grande maioria me chamam de louco, de fraco, de fudido e outros tantos elogios que sempre me ajudaram muito. Isso faz parte de não dependência. As ofensas nunca significaram nada pra mim. Não conseguia sentir raiva, ou olhava a pessoa dizendo tudo aquilo e me odiando. Olhava sua boca retorcida ofendendo e ficava em silencio, a emoção era tão rasa, que simplesmente não valia a pena revidar. Impermeável ao que era ruim e também ao que era bom.
Havia uma distancia entre minha pessoa e os vícios, entre mim e todas as pessoas. Não lembro de ter me empenhado por ninguém, de ter dado as tripas por algo, não existiu ninguém. E mesmo com tantos “amores” que tive, mesmo elas jamais conseguiram atingir meu centro. Tudo que fiz, e como fiz sempre representou muito pouco em relação ao que poderia fazer. Mas as pessoas sempre se contentavam com pouco, na verdade com quase nada. Ficavam felizes, e eu viviva a minha tentativa de normalidade, de felicidade. Até que tudo perdia o sentido.
Poderia mentir para todas as pessoas a minha volta serenamente, mas não para mim. Então, como um animal, saía correndo tentando respirar, como se o ar estivesse acabando, enchia os pulmões plenamente, voltava a floresta. E começava do zero novamente.
Claro, hoje estas coisas estão mais claras. Mas naqueles períodos, era como andar na neblina de meus labirintos. Tudo apenas uma idéia.
Tinha ideais, alguns até bem bonitos, eu lembro, mas ante a realidade humana, eles iam se desfazendo, perdendo a forma, convertendo-se em borrões. Hoje ideais são apenas ideais. Não espero que a realidade ordinária de minha vida seja semelhante a eles.
Creio mesmo que meus ideais, são vôo leve, e a realidade as asas. O ideal é brisa, a realidade o tornado. O ideal é emoção, a realidade as lágrimas. O ideal uma esperança perene, a realidade, é difícil, sempre dificil.
Não estou reclamando nada. É preciso estar em paz, onde for, como for, com quem for. Por que, mesmo tempestades possuem beleza. A guerra da embarcação com o mar bravo, tentando vence-lo, tentando tornar-se herói. A beleza esta ali, na intensão firme de sobreviver e chegar em segurança, de volta ao lar e dar o abraço,aquele quase perdido abraço.

Luís Fabiano.
A paz não é a pomba.

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