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domingo, julho 04, 2010


Apologia inversa .

Nada irrita mais, que dias corretamente políticos. Cada vez que alguém me fala sobre tais atitudes, certinhas, bonitinhas e repletas de justiça, me causa engulho. Quando era um imbecil também tentava ser ou pensar assim.Hoje sou um imbecil diferente.
Deixei de mão tais idéias, quando um bêbado desconhecido me consolou. Em uma das horas mais negras de minha vida. Não estou sendo redundante, embora pareça. Lembro que aquele dia havia sido um piores de minha vida. Tinha a impressão que estava mergulhado na merda e alguém ainda chegou e vomitou em cima.
O meu chefe havia me dispensado.Alegava que eu era incompetente. Não me defendo, quando você teve muitos empregos na vida, não pode dizer que se é expert em tudo. Eu fazia de tudo. Já varri chão, limpei banheiros podres, foi estafeta, vendedor de carros. Estagiário de varias coisas. Por não me preocupar muito com o futuro, fui vivendo assim mesmo.
Naquele dia minha mulher havia me dado um ultimato no sentido de ter uma vida melhor. Por que ela resolveu fazer aquilo justamente no dia mais fodido de minha vida? Que merda.
Naquele dia Deus havia tirado férias. Sentia-me muito sozinho, a noite caiu, uma noite que estava em mim e fora de mim. Decidi caminhar um pouco. Gosto de fazer isso quando me sinto assim.
Caminhando dá-me uma impressão que as coisas estão passando. Fiquei caminhando a esmo. Nestas horas que se pensa: se tem uma arma na mão, já era. A idéia da bala atravessando a têmpora começava a ganhar sentido, ia deixando de ser uma coisa absurda. Teria colhão pra isso? As pessoas se matam por coisas banais assim, dividas,traições,problemas familiares.Eu viraria uma estatística.A idéia de dar um fim a aqueles problemas sempre é uma carta a mão.Não descarto.Não descarte.
Fui parar em uma praça abandonada, escura e com alguns eucaliptos velhos. Sentei-no chão, a cabeça parecia que iria explodir. Nem arma, bem bebida, nem consolo, nem amigos. Apenas eu e mais profunda solidão.
Então, curiosamente um bêbado trôpego, surge detrás de uma arvore. Pensei comigo: agora sim, to fudido, vou ser assaltado para completar. Por favor me mate no final. O bêbado tentava equilibrar-se, e então veio em minha direção quase caindo de cara no chão. Segurei o cara. Ficamos abraçados,eu tentava segura-lo. O forte bafo de cachaça vagabunda exalava dele. Mas não parecia ser um mendigo, um coitado.Mais um desgraçado. Tava melhor vestido que eu. Fomos sentado. Ele me olha e diz:
-Haaaa,valeu cumpanheiro...
-Tudo bem.
Ficou tossindo um pouco e cuspiu.
-Mas que tu ta fazendo aqui rapaz ? Quer morrer?
-Claro que sim.
-Não faça isso,não. Beba alguma coisa, e nãooo se preocupe.
-Parece fácil, em tese. Tudo é assim.
-Não queira morrer, porque a morte ta sempre por perto, ela cuida cada passo teu...
-Bom, hoje ela deve estar de folga.
O cara era legal, parecia ter alguma cultura, e bebia sei lá eu por que. Comecei achar estranho um cara bem apessoado, ali próximo da meia noite, numa praça escura. E aquele papo era surreal. Já me aconteceu algumas vezes, tais conversas estranhas.
Ficamos ali, no escuro. Conversando, fui me sentindo melhor. Então ele me fala:
-Vamos embora daqui rapaz, vamos para um bar qualquer.
-Tudo bem.
O ajudei a levantar e fomos parar em um boteco ordinário. Com bêbados bebedores de cachaça na porta. Nos sentamos, ele pede dois martelos.Cachaça não era a minha bebida predileta.Mas...
Depois do terceiro martelo, eu já não queria mais morrer. Sentia uma leveza, o cara que nem sei quem é, havia se tornado meu melhor amigo. Não pensava em ir pra casa, não preocupava com minha mulher chata com aspirações de grandeza. Queria que todos tomassem nos seus respectivos cús.
Não sei quanto tempo fiquei ali, o suficiente para me sentir vivo ou morto. Pode parecer mais estranho, mas bebida, a cachaça estava mais perto de mim que a mão Deus. Aquele dia foi um marco para mim.
Comecei a olhar a bebida com outros olhos e Deus também. Como Ele é o Pai de tudo, certamente ele estava no álcool e nos viciados incontroláveis, nesta gente estúpida que não consegue controlar-se diante de um vício.
Agora era preciso ir pra casa. Mas aquilo seria um novo capitulo. E foi mesmo.Não nos suportamos mais e fui embora.
Um dia conto a historia de Marisa,esta mulher a quem me referi. Mas posso adiantar, que ela casou com um cara rico como queria. E foi feliz eu acho, até o cara quebrar o braço dela...afinal tudo tem um preço.

Luís Fabiano.

A paz brilha no primeiro e no ultimo gole.

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