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sexta-feira, junho 04, 2010


Eu, a drogada, uma doente e um gay. (titulo politicamente correto.)

Para viver é preciso uma dose e humor cavalar, porque simplesmente não existe possibilidade de levar tudo a sério. Venho desistindo de levar a sério tudo que me dizem ou fazem. Ainda mais quando me pego em situações estranhas, com personagens que parecem ter saído de um filme, as vezes acho que eu mesmo sai de um. Sou meu auto personagem.
Atualmente levo a sério no maximo duas pessoas, o resto é como diria Hank,o “fabulário do cotidiano”, fica muito difícil, quase ninguém é de verdade.
Já me disseram em tom de ofensa, que ninguém me leva a sério. Não me senti ofendido com isso, fiquei procurando em mim alguma emoção que se sentisse lesada com tal declaração, e o pior que não achei. Pouco me importa o dizem, eu sempre acabo escutando a única pessoa que interessa na vida: eu mesmo.
Aquele vinha sendo um mês terrível, envolvido em mais uma separação catastrófica, repleta de choradeira, ranho, ranço e mesquinharia. Quando tudo fica de mal a pior, vou me desligando, não dando atenção, desligando telefone e interiormente eu já mandei a tudo a puta que pariu.
Chego em casa muito cansado de tudo, é uma sexta feira, deito pra dormir de roupa, tênis, camisa e o resto para debaixo das cobertas. Gosto de deitar assim. Parecia que estava adivinhando o que vinha. Sou acordado as três da manha pelo telefone, olho é Luisa, uma amiga, puta, amante e mais alguma coisa que não sei definir. A um tempo atrás tivemos um lindo caso de amor, mas nem ela e nem eu fomos feitos pra amor, colocamos o ponto final no caso, sem drama, com elegância, mas eventualmente continuamos saindo, afinal quem não gosta de trepar de graça ?
-Alô, fala Luisa?
-Bah cara, tu tá dormindo, não acredito ?
-Agora não to mais.
-Faz o seguinte, levanta e vem aqui no Relíquia, to eu uma amiga minha, e o Dário o cara do teatro, estamos tomando uma cerveja aqui, vem aqui, to meio sobrando tá chato vem...
-Tá legal, chego em dez minutos.
-Ok, beijão.
Levantei da cama, olhei-me no espelho, eu estava pronto, perfeito até de tênis. Cheirei o sovaco, o cheiro não estava mal, fiquei tranquilo e peguei o carro. Cheguei no local. Para aquela hora tinha gente demais ali, mas eu fui e nem sabia porque tinha ido, tava tentando descobrir isso quando chegasse lá. Luísa me puxa e vamos parar na mesa que estavam.
Fui apresentado a Dario e Cacá, que também se conhecera através de Luisa. Não sei porque mas achei que aquilo tava com cara de suruba, bem, porque não ? Vamos ver onde esta porra vai dar.
Não havia assunto na mesa, então com a bebida, comecei a falar, eventualmente faço isso, viro animador informal, depois de beber é claro, meu humor melhora. Dario estava comportado, vestia-se com terno e gravata e tinha um lenço em tom rosado, quando finalmente abriu a boca percebia-se o tom afeminado:
-Nossa, este lugar tá fraco né ? E essas musicas?
-Isso aqui sempre é assim - digo eu.
-Cacá, Luisa e Fabiano, que acham de irmos para meu apartamento ? – diz Dario.
A tal da Caca parecia meio bêbada, tinha uma fisionomia cansada, olheiras negras, longos cabelos pretos sobre um corpo muito magro, apenas lhe sobraram as boas tetas que pareciam de silicone. Gostei. Concordamos sem grande entusiasmo, Luísa achou uma boa ideia. Eu não sabia se aquilo era boa ideia.
Que o cara do teatro iria fazer na sua casa? Um desfile de consolos? E se o viado ficasse violento? Bem, eu não conhecia aquele pessoal, tudo poderia acontecer.
Luísa me chama pra um canto e diz:
-Vamos todos trepar na casa do Dario. A Cacá gostou de ti, vamos fazer algo a três, o Dario quer ficar olhando é voyer, a Cacá é bissexual então já viu né...
Tudo bem, já trepei na frente de gente que gosta de ficar só olhando, não tenho pudores. Mas sabia que aquilo estava fadado ao pior. Quando você se mete em tais coisas é bom sempre ter um plano B, sempre tenho um plano B, afinal é preciso saber encenar na vida real.
Se tudo desse errado, inventaria uma dor no peito, cólica renal ou qualquer outra merda, afinal, as pessoas respeitam a dor alheia, seja ela verdadeira ou não. Muitas de minhas dores foram, são e serão falsas. Além do mais, comer Luísa e Cacá ao mesmo tempo parecia bom contraste, uma negra a outra muito branca quase vampiresca, perfeito.
Dario morava a quatro quadras daquele local, de forma que fomos a pé. Não tínhamos uma conversação de quem estava indo pra uma orgia, muito silencio, poucas risadas, parecia que íamos ao cemitério.
Quando chegamos ao apartamento de Dario, mais bebidas, Luísa veio para meu colo, Cacá sentou-se a minha direita e Dario, sentou mais longe no sofá. Enfiei as mãos nas tetas de Luisa, tetas que estou acostumado, a coisa ficou quente, Caca acariciava minhas pernas e Dario fumava um cigarro atrás do outro, parecia nervoso.
Mais bebidas. Então numa jogada errada, Dario inventou de fechar um baseado. Não tenho nada contra quem fuma, mas acho o fedor terrível. Que fazer, eu tava na casa do cara. Cacá inventou de acompanhar Dario naquela fumação. Minhas mãos acariciavam a molhada cheirosa buceta de Luísa, um cheiro forte que muito me agrada, um cheiro que mescla urina, sucos vaginais e um pouquinho de merda. Tudo isso torna a mistura perfeita.
Cacá vendo aquela função tira a blusa ficando com um sutiã que mal cobre seus enormes peitos. Ela tá muito bêbada e maconhada. Eu seguia me divertindo com Luísa. A Caca aproxima-se, beija Luísa na boca, então se abraça nela.
Um abraço estranho, parecia dolorido, então sinto suas lagrimas caindo sobre mim. Luísa pergunta:
-Que foi amiga? Que houve, tá tudo bem ? Tá sentindo alguma coisa? Fala pra mim...
Caca agora chorava convulsivamente, uma dor sem fim. Pensei comigo: ”a putinha tá arrependida, ou não sabe se drogar, que saco, ela vai acabar com a foda.” Mas era pior que imaginava, ela então fica em pé, seminua e diz em tom de discurso louco:
-Pessoal, eu to aids, eu vou morrer, quero que você saibam disso, eu to morrendo...
Eu penso comigo: “esse é um daqueles momentos que parece coisa de filme de quinta.” Dario que tava meio chapado, começa a falar alto:
-Então fodam-se todos, vamos todos nos comer sem camisinha, vamos todos morrer mesmo, foda-se a aids, vamos gozar agora...(ele gargalha, num acesso pirado e despe-se...) Que será que tinha aquela maconha?
Devia ser bosta de cavalo, porque tinha muita merda espalhada por todo lado.
Luísa de abraça amiga, tenta consola-la, falando do coquetel de drogas, Dario não para de gritar, eu com vontade de sair correndo dali, sabia que a tal suruba tinha ido pro saco. Dario tira a camisa, agora era uma mulher, fazia trejeitos de odalisca, que horror!
Pergunto a Luisa:
-Lu, que pretendes fazer? Fica ou vai comigo?
-Vou ficar com a Cacá, esperar ela se acalmar, desculpe essa indiada, é que não sabia nada...
Ao fundo Dario, dançava dança do ventre, requebrando-se e falando coisas que não entendia. Antes eu tivesse ficado em casa. Dario começa a dizer que ninguém vai sair de lá. Paro olhando-o, digo:
-Campeão, essa não é uma boa ideia! A noite já foi movimentada demais, não vamos complicar o resto. OK?
-Eu sou a rainha da casa, aqui é meu feudo...- diz Dario.
-Cara, abre a merda desta porta, agora!
Era como se a cortina ainda estava aberta, imaginem a cena: Luísa consolando Cacá que não parava de chorar, eu querendo sair, e o viado tentando dar uma homem. Fui até Dario, tirei a chave da mão dele, abri a porta e saí.
Lá embaixo, ainda podia ouvir os uivos de Dario, o choro de Cacá. Decididamente aquela não foi uma boa noite, nem foda, nem suruba nem nada. Saudade da minha cama.

Luis Fabiano.
As doenças da alma são infinitamente piores.

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