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segunda-feira, junho 21, 2010


300 quilos de carência.


A muito tempo atrás um grande amigo meu, o Alemão Angelo, me deu um apelido, disse ele com cara sorridente e debochada:
-Cara, tu és o pai das desgraçadas. Contigo todas as mulheres do mundo estão salvas, tu não repugnas nada.
Bem, não sei se isso é muito verdade. Gostaria de ter o maior pau do mundo, para que todas tivessem um bom aconchego nele. Como não é possível comer todas as mulheres do mundo, tento fazer o melhor que posso. As vezes dá certo, em outras é pura tragédia.
Como um bom trem que anda nos trilhos, tento ser assim, sou exatamente oque odeio nos outros, talvez isso seja uma boa explicação. Se vejo alguém exatamente como eu, tenho vontade de cuspir, sacudir, tirar dos trilhos, faço isso involuntariamente, é mais forte que eu. Nada de revolta, sou pacifico, é que não recomendo ao mundo o que sou.
Na sexta feira, inventei de sair dos trilhos, em vez de caminhar no frio, fui atender um cliente no meu intervalo. Maldita hora, ganhar dinheiro é bom, mas dinheiro é só dinheiro. Quando cheguei no cliente, ele havia saído, deixando apenas a empregada, que ainda fazia alguma limpeza e iria me cuidar, imaginei eu.
-O senhor pode entrar.
-OK.
Começo resolver os problemas do micro. Então Cris vem para perto de mim. Eu me senti um anão.
-O senhor vai demorar muito?
-Não me chame de senhor. Vou demorar nada, é rapidinho.
-A tá, eu preciso sair as 18:30!
-Tudo bem, em vinte minutos tá resolvido e saímos.
-Tá certo, que bom, é que eu preciso ir no super.
Era assuntinho de cú pra piça, mas na verdade percebi o que estava acontecendo. Cris se interessou, seus olhos e os movimentos denunciaram isso. As enormes tetas de bicos duros. Fiquei pensando: Ela deve estar na capa do Batman para se interessar.
Cris não é uma mulher bonita, na verdade ela parecia ser duas mulheres por sua dimensão. Quase dois metros de altura e mais ou menos cento e quarenta quilos. Porra, como será que ela conseguia limpar nos cantinhos? Não sei, tenho certeza algo que ficava sujo. Ela não entrava no banheiro entre a pia e o vaso. Olhei o tamanho da bunda dela, cara meu pau não iria alcançar a buceta jamais, era uma longa viagem até lá... Fiquei pensando essa merda toda, ela ali, me olhando e falando coisas caóticas.
-Tu és casado?
Que eu ia responder? Não, já fui varias vezes, umas oito ou nove vezes. Foi exatamente o que disse:
-Nossa, tanto assim?
-É, sou um cara chato.
-É eu também fui casada.
-Sei, e separou porque?
-Na verdade ele foi preso. Era traficante e viciado em drogas, quebrava tudo dentro de casa,ai não deu mais.
-Entendo, normal. Não deu certo o negócio dele.
-Tu acha?
-É, acontece, todo mundo tem um vicio ou dois. Uns bebem, outros fumam, outros se drogam, outros gostam de falar da vida alheia, e por ai vai. Tudo é vicio, agente só tenta evitar que de merda em nossa vida, o resto tudo certo.
-É...
-Tens filhos?
-Tenho sim, cinco.
Confesso que fiquei pensando, diz que a cada filho de parto normal, a vagina dilata-se alguns milímetros, com cinco, porra não era uma vagina, era um túnel. Sorri sozinho, ela pensou que fosse pra ela. Aquela merda de computador não ajudava. Ela estava quase em cima de mim.
A lutadora se sumô. Carente, sozinha, cinco filhos tentando se virar honestamente e um ex marido violento e preso. Trepar com ela era auto risco. As vezes é preciso arriscar. Mas não tava afim.
Terminei o micro, ela pede meu telefone , enrolei não dei. Acho que sabia o que ia acontecer, o terrível de uma mulher carente é sua sede de amor. Amor? O máximo que consigo dar é um pouco de prazer, e não estou disposto a pagar o preço de um coração machucado, de tantos que machuquei. Já vi o filme.
O melhor para ela, era não meter-se comigo, se tivesse a cabeça no lugar certamente nem se insinuaria. Mas quem disse a fome e a sede nos deixam com a cabeça no lugar? A carência não deixa de ser uma espécie de insanidade, que dói, que precisa, ás vezes de um simples olhar e nada mais. Beijo, carinhos e afagos, as armadilhas que seduzem e levam pensar tudo errado.
Ela já estava pensando errado. Fui embora, ela me abraçou na saída, abraço dolorido de quem precisa de um amor. Mundos tão diferente se encontram, assim casualmente, mundos se destroem.
As vezes penso, que merda de mundo, onde as pessoas andam assim tão sedentas, querendo receber tanto, e não dar nada. Era melhor parar de pensar estas porras,é sexta a noite vou beber algo e sentir este mundo ficando distante, as vezes é a única maneira de vê-lo como é.

Luís Fabiano.
A paz as vezes é pesada.

3 comentários:

Anônimo disse...

...Resolvi dar uma paradinha nos estudos e comentar o texto, achei de uma raridade extrema, apesar do aparente deboche tu demonstrou profunda emoção, com certeza o mundo está cheio de pessoas assim, que sofrem que anseiam por algo, que buscam alguma coisa, talvez um abraço, um carinho, emoções, a ti noto que isso não passou despercebido, você se expressa bem, e é notável tua sensibilidade quando falastes das desigualdades do mundo. Com certeza, tem sempre alguém assim por ai, alguém em que a vida não deu muitas opções de escolha e que talvez tenha visto em ti a oportunidade de vivenciar o que talvez nunca teve e sabe-se lá se terá. Bom texto, cheio de significados que não estão escritos, fica por conta do entendimento que as pessoas possam vir a tirar, nas entrelinhas.

Maria da Conceição

Alemão Angelo disse...

Deus deu um Dom para este "negão" que é um grande amigo meu. Ele deu o Dom de fazer as desprovidas de qualquer beleza felizes, ou menos infelizes vai saber. É o Pai das desgraçadas. Todo mundo merece ser feliz, então tu veio para alegrar esta parcela de pessoas. O Blog ta bem legal, sempre que posso dou umas lidas.. rsrs Abraços do Alemão Angelo!

Anônimo disse...

...tanto lixo que agente encontra na internet, é raro, mas volta e meia nos deparamos com pérolas!

É, este texto é uma pérola. Diria que é um retrato do mundo (por uma perspectiva é claro).

Que coisa, né?! Vivemos todos no mesmo mundo, mas nem todos sequer sabem que existem vários mundos dentro do mesmo....

Enfim, ótimo texto...e, mesmo que tu afirmasse que era ficção, eu diria que é realidade. A vida é assim, há 01 mundo assim (dentre tantos outros).

Ass.: Jonas, O Mouro