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sexta-feira, maio 28, 2010


Emoção, dobra a esquina.

O bom de se ter quinze anos, é poder ser absolutamente idiota. Tinha orgulho disso,acho que até hoje tenho. Ninguém leva a sério alguém de quinze anos, ainda que possam votar aos dezesseis, é apenas mais numero para que a máquina funcione,e outros tantos interesses secundários.
Eu ficava junto com meus amigos, idiotas naquela esquina, encostados na parede ou sentados no chão, falando, falando besteiras até altas horas da madrugada. Minha mãe não gostava daquilo, mas meu pai me defendia. Ele tinha suas razões, entendia que nesta idade é preciso conversar muito, se desentender, brigar com os colegas, namorar.
Na psicologia do meu pai, homem se fazia a moda antiga. Fumando, bebendo,brigando, dando e levando porradas. Aprendi muito na rua de bom e de ruim, exatamente como a vida. Talvez no fundo ele apenas não suportasse a musica que ouvia, bom pretexto. Rock é bom em doses homeopáticas, mas comigo nada era homeopático, eram horas de rock franco, e nenhum estudo.
Naquela esquina de desocupados falantes, passava sempre uma linda morena de olhos verdes. A única coisa que víamos nela, era a bunda generosa, grande apertada naquela calça jeans. Precisava ver outra coisa?
Mas de tanto ela passar ali, todos os dias no mesmo o horário, passou a nos cumprimentar, e a bunda gostosa dela passou a fazer parte de nossa atividade no final da tarde. Rosangela não era uma mulher linda, mas tinha traços interessantes, era baixinha e levemente gordinha, o cabelo muito preto, contraste profundo com sua pele branca.
Em nossas conversas de esquina, não se falava de sentimentos, porque tudo são hormônios em ebulição. Acabou ficando em minha cabeça o segredo e outros tantos. Desenvolvi um amor platônico por Rosangela. Ela passou a parar ali e conversar conosco, eu dava toda atenção. Fiquei feliz que meus amigos não achavam a mesma coisa que eu, não a achavam tão bonita, nem tão gentil, ótimo, minha vantagem oculta e cheia de significados.
Passei a acompanha-la, até em casa, depois que ela parava ali, eu não tinha muito o que falar, na verdade não falava nada, sentia-me constrangido, sempre fui tímido, essa é minha natureza, mas ela inventava algum assunto, eu sorria e me sentia super bem de acompanhar Rosangela até em casa.
Não preciso dizer que Rosangela tinha dez anos mais que eu. As coroas da minha vida, longe de ser a minha realeza.
Fazia aquilo todo dia, meus colegas me chamavam de otário,diziam:
-Desiste Fabiano, ela vai te chutar um belo como um cachorro podre.
Não respondia nada.
Talvez tivessem razão, mas eu não queria toca-la, sabia que ela não iria me namorar, eu tinha uma noção clara disso, mas que importava também ? Conversar com Rô, acompanha-la até a porta de casa tava mais que bom. Lembro bem disso, porque nunca bati uma punheta por ela. Era algo mais haver com a sensação de estar ao lado dela, subjetividade silenciosa, cinco minutos por dia. Que isso significaria ? Não importa, tudo acontecia em minha cabeça.
Um dia fui leva-la como sempre, era corriqueiro, quando chegamos a porta de sua casa, um motoqueiro a esperava. Ela mudou na hora, me deu um tchau rápido,indiferente, correu para ele.Fui parando de caminhar lentamente,o cão que não acompanha o carro, ela foi se afastando rápido,eu parei. Me senti descartado, jogado para escanteio. Um dia isso ia acontecer, mas quando? Agente nunca sabe. Não fiquei olhando ela nos braços dele, talvez para não apagar minha platônica imagem.
Quando cheguei á esquina de meus amigos, eu era outro cara. Sem ilusões,sem culhões, aquilo foi o primeiro degrau de uma escada que até hoje não sei onde me levara. É bom perder ilusões. Aquela esquina passou a não ter mais o mesmo brilho.

Luís Fabiano.
A paz em uma esquina, encostada na parede.

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