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sexta-feira, março 26, 2010

Mãe Xiná



Mãe Xiná.

Tudo começa em nós, nos braços da miséria. No inicio de qualquer coisa em nossas vidas, é sempre assim, tateante, algo incerto até pegarmos o jeito, aí cumprimos nosso destino, seja no que for. As vezes dá certo.

Biologicamente começamos entre porra e óvulos, vamos recriando a escala evolucionaria, até tentar ser humano, a maioria não consegue, emula.
Mas não quero filosofar nestas colocações vazias. Nada disso. Sem devaneios, aqui são entranhas, fétidas repletas de merda, intestinos de braços abertos, como um amor vulgar.


Assim eu gosto, me sinto mais eu, algo frio como aço, respiro fundo, espanto pensamentos bonzinhos, chega disso.
Acabo me lembrando de uma época que estive a procura de ajuda espiritual. Não gosto de lembrar disso, prefiro a putaria de minha vida. Pensando bem não estava tão perdido assim, apenas relaxei, não queria nada de nada. Nem estudar, nem trabalhar, nem pensar ou tão pouco trepar, não queria nada. Era confortável. Fazia uma meditação, havia serenidade de espírito. Não era um desespero, o desespero era dos que me rodeavam.


Nesta época tinha alguns amigos, que ficaram preocupados demais comigo. Tiveram a genial idéia de me levar em uma mãe de santo. Nunca acreditei nelas, nem em nada assim, com todo respeito, mas cada um na sua.
Na minha visão não passavam de médiuns, normais, que em algum momento se acharam supra-paranormais, e o resto era previsível e parafernália. Foi assim que conheci Rute.


Ela se chamava de Mãe Xiná. Percebam que o nome já deixava a desejar. Foi exatamente essa a impressão que tinha. A contra gosto fui na consulta, entre búzios, cartas, santos,ciganos, defumações e outras coisas desconhecidas para mim, ela fungava, tossia, balançava a cabeça como se tivesse recebendo um santo.

Eu olhando aquilo tudo, feito pra impressionar, em alguns momentos quis rir. Mãe Xiná, parecia a Clara Nunes, uma bela morena cabelos crespos e longos, vestia branco, tinha colares e mais colares de miçangas no pescoço:

-Humm, o sinhô, tá carregado, zi fio!
-Hâ?
-Precisa fazê uns descarregos! Pegá,essas erva,e passá no corpo todo...hummm
-Sei.
-O trabalho vai custá cento e quarenta real !
-Então deixa, eu nem trabalho, não tenho essa grana,nem nada.

Ela muda o semblante imediatamente, agora já parece mais humana. Não tava gostando daquele assunto. Que merda, que eu vi fazer aqui? Parecia que os santos me olhavam desconfiados, tinha uma imagem de Exu no chão, assustador, aquele cheiro forte de perfume desconhecido. Me sentia claustrofóbico.
Mas algo havia acontecido, mãe Xiná tinha simpatizado comigo. Quando “desincorporou”, notei que tinha um sorriso de safada. O decote do vestido branco,mostrou uns peitos generosos.Porra a consulta estava melhorando.

Pensei comigo: acho que de santa ela não tem é nada, esse corpo é puro pecado. Estávamos nos dirigindo para porta, então perguntei:

-Quanto tu não esta ajudando as pessoas que fazes?
-Depende, sempre tem muito trabalho. Faço o que os espíritos me dizem.
-Acho que tu não entendeu. Tu gosta de sair, bater um papo essas coisas...
Sorriu aquele sorriso safado. Entendi tudo.
Paguei a consulta, vinte reais, quando estava saindo, posso te ligar?
-Sim, claro.

Mãe Xiná, era meio coroa, mas com toda certeza dava um caldo. Sempre gostei de tais experiências. Eu que andava tão sem vontade de nada, aquela consulta parecia que tava fazendo efeito. Não sei se foram os santos, a possibilidade de comer a mãe de santo. No outro dia liguei pra ela. Ela aceitou o convite, fomos parar em um boteco vagabundo que tinha na vila. Tomamos uma cerveja, um papo besta, mas um clima estava no ar.Não precisou muito, realmente ela tinha alma de vadia. Gostei disso. Terminamos a cerveja e ela dispara:

-Vamos lá pra casa?
-Claro.

O álcool me deixa mais sensível, o pau sobe rápido .Quando entramos em sua casa, na sala dos santos, nos abraçamos, beijos molhados, mãos exploradoras. Na mesa dos búzios Mãe Xiná, levanta o vestido e mostra-me seu sexo, molhada, peluda, algo raro, adorei. Os búzios começam a cair no chão, ela geme,chora, fala coisas que não compreendo. Daqui a pouco olho para ela, esta com os brancos dos olhos apenas a mostra. Fiquei sabendo depois que é a Pomba Gira tal de tal...

-Que porra é essa ?

Digo que esta tudo bem, ela quer que eu a possua,ali mesmo. Suas unhas cravam no meu braço. Uma dor forte,corre sangue,suportável. Fico com receio de mim, não queria tornar-me agressivo,já aconteceu umas três vezes,perco o controle.Machuco sem querer.A sala fica uma bagunça , roupas no chão, búzios, colares,santos derrubados. No auge da trepada Mãe Xiná, diz que eu precisava de um santo. A coisa só piorava.

Num gesto rápido, ela pega o primeiro santo que estava na estante, até hoje não sei que santo era. Me empurra, enfiava a cabeça do pobre santo buceta a dentro, aos berros, queria dor, amor e obscenidades. Ela fez um espetáculo para mim. Era uma possessão demoníaca, a linda Blair da vila(o exorcista). Adorei.

Na verdade fiquei impressionado ,o santo entrava pelo menos uns vinte e cinco centímetros para dentro dela. Ela gozava como uma cadela, berrava. Por fim, aquilo acabou como começou, muito rápido.
Ela parecia que havia saído do transe. Me olhou como se nunca tivesse me visto. Eu pergunto:

-Que houve?Tudo bem ?
-É ela, a culpa é dela.Sempre que me toma, fica louca,faz o que quer comigo.Salve minha mãe...
-Ela quem ?
-Esquece, não vou dizer o nome dela, ela volta. Ela gostou de ti, e é assim, se ela quer,ela pega. Saravá...
-Sei, achei que era você que tinha gostado...
-Gostei também, mas agora sei que foi por causa dela.

Aquele foi o papo mais estranho de minha vida. Mas tudo bem. Olhei para o santo agora sobre a mesa, sua cabeça, e auréola estavam meladas dela. Pisquei pra ele disse: “santo de sorte hein meu? Filho da puta...ta todo gozado.”

Me despedi dela, aquele lugar não era bom.Quando estava saindo, Rute ou mãe Xiná me diz em tom de confissão:

-Tu não acredita em nada né?
-Não, creio apenas na foda que acabamos de dar.Muito boa.
-Tu precisa tirar as energias ruins que cercam,vem aqui outro dia, eu te ajudo.

Nunca mais voltei lá. Talvez as tais energias ruins me acompanhem até hoje, chame de energia o que quiser, diabos em si quem não os tem?
Estes dias lendo os classificados do jornal, fiquei sabendo que Mãe Xiná, ainda é viva, e segue seu trabalho por aqui, porra será que vou lá fazer um descarrego??
Luis Fabiano.
A paz não mora fora,vem de si mesmo.



2 comentários:

Anônimo disse...

Gostei do teu blogger.
Contos marcantes, ecstilo skirts, mostrando a vida como vez por outra ela é. Ao mesmo tempo a narrativa é engraçada.

Maluco Beleza

Anônimo disse...

Fabiano,fala sério, tu comeu uma mãe de santo?Tu podes estar todo emacumbado!!Ainda mais onde ela colocou o santo...

Fada.