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segunda-feira, março 29, 2010


Falso Romance

Acho que ninguém gosta das tragédias da vida. Mas as vezes não se tem opção, a não ser nadar em rio de merda fresca e macia.Respirando profundamente e engolindo um pouco, um mar de delicias?
Pensava isso enquanto passava pela principal praça de minha cidade. Um chafariz de nereidas, cuspindo água pelos orifícios, enquanto outras nereidas, não sei se mais, ou menos ordinárias que o chafariz, ao menos estão vivas. Disputando clientes no tapa as vezes,são brutais. Putinhas de rua. Olha-las me dá pena.Tentando sobreviver.
Secas como galhos retorcidos , famintas, catando velhotes dispostos a gastar vinte reias para uma quase trepada! Será que esse será meu fim?
Talvez, nunca se sabe. Fiquei pensando apenas, já comi putas assim, melhoradas, ajeitadas, não cobravam vinte reais, um pouco mais o meu teto era cem reais, por uma hora de amor, carinho e uma gozada que me deixasse ao lado de Deus.
Sempre são historias tristes as delas. Filhos, cafetões, clientes filhos da puta que não pagam e ainda espancam. Entendo como ossos do oficio. A vida de ninguém é um mar de rosas.
Minhas saídas solitárias a noite servem pra isso. Ver o que a sombra esconde, ás vezes acontece que escuto historinhas que elas me contam. Nunca contam nada feliz, mesmo as que tem alma de puta.
Francisca naquele dia estava abatida demais. Um cliente havia dado umas porradas e comera seu cú como um cavalo, gozou e a jogou pra fora do carro em movimento. Algumas lagrimas ela:
-Tinha um carro maneiro, parecia educado, me disse que dava o que eu queria, teria de ser anal.
-Claro, sem problemas.
Ele me leva para um local escuro, foi me dando medo, mas já era tarde, quando se quer ganhar uma grana,é preciso arriscar, maior o risco, maior a grana. Mas eu me fudi.
Não continha as lagrimas, chorava fungava o muco.
Nos tornamos amigos, ao mesmo tempo que tínhamos um negócio, eu cliente, Fran a prestadora. Era muito boa no que fazia, mas definitivamente não dava pra aquilo.Era humana demais. Para fazer certas atividades na vida, é preciso endurecer. Ela era muito emocional, mole, parecia frágil. É natural que os lobos a espreita a devorassem. Eu não era um lobo. E naquela noite fatídica, não seria nada mal com ela.
Levei ao pronto socorro, estava machucada, o cara era uma sadista, tinha uma mão boa, a porrada acertou em cheio o olho,um grande hematoma. Fran toca em suas partes intimas, tem sangue muito vermelho, digo pra ela relaxar.
Ela é atendida, fico na porta do ps poderia ter ido embora,mas não sei, minha noite esta vazia, fiquei olhando a rua. Duas horas depois a Fran sai, com alguns curativos e mancava de uma perna. Sorri pra ela:
-E ai, quanto sai este corpinho assim, meio remendado ? Tem que ser baratinho...
Sorriu surpresa, achava que eu tinha ido embora. Na verdade eu me admirei comigo mesmo, não sou de gestos de compaixão, ao contrário, sou de uma crueldade silenciosa e elegante.
Nos abraçamos, ela diz:
-Esta é a ultima noite, a partir de hoje larguei essa vida.
-Mil é uma noites não?
Me comovi, parecia uma alma fatigada, uma ave que bateu asas em direção errada, queria paz agora.Disse:
-Então princesa, para onde tu vai?
-Vou pra minha casa, quero apenas minha casa.
Sorrimos em uma cumplicidade silenciosa. A deixei em casa. E nunca mais tornei a vê-la, não tinha como esquecer aquela noite. Uma alma se salvou do inferno. Mesmo sendo apenas uma amiga que eu comia, queria que ela tivesse encontrado a felicidade, acho que encontrou. Nunca mais a vi nas ruas.
Estranho sentir saudade dela. Tudo isso não passava de um flash mental, olhando putas decrépitas morrendo lentamente, afloram meus melhores pensamentos.Talvez nada esteja tão perdido assim.Senti vontade de abraçar alguém, não tinha ninguém para abraçar, então apenas segui caminhando.O entardecer na praça me faz bem.

Luis Fabiano.
A paz as vezes é só começar de novo.

4 comentários:

Anônimo disse...

Do teu texto: Talvez, agente nunca sabe.
No caso tu se refere a um agente de saúde, agente alfandegário, agente de polícia?
Ou tu queria dizer: Talvez, a gente nunca saiba.
Teus textos são ótimos, mas por favor, não cometa assassínio da lingua portuguesa.

Camila

Fabiano disse...

Corrigido.
Obrigado Camila.

Anônimo disse...

Fabiano, ja vivestes épocas bem melhores, agora precisas de prostitutas para receber um abraço?
Nem me refiro ao sexo pago, mas, quanta decadência meu amigo, que alma dispersa esta tua.
Grace

Anônimo disse...

Podes vir me abraçar quando e como tu quiseres,sabes disso to sempre aqui.

Bj.

Li.