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terça-feira, março 30, 2010


Abrindo Covas.

Vez por outra o passado vem a tona. Mas não me sinto perturbado por isso, nem pretendo justificar nada. Não preciso justificar nada. Também nunca peço explicações. Uma conhecida me questiona em plena rua, se tudo que escrevo é verdade? Agora tornou-se apenas conhecida. Sorri pra ela.
É aquele momento que você avalia se a pessoa merece a verdade ou não? Um jogo irônico e muito pessoal. Deixei em aberto, apenas sorri. Ela deduziu qualquer coisa sozinha. Gosto disso, pensem o que quiserem, inventem uma merda de verdade qualquer, creiam piamente, e a verdade te salvará, seja ou não verdade.
Queria saber a respeito de uma narrativa que fiz, se tudo aconteceu exatamente assim? Foi verdade? Foi assim mesmo? Porque se foi, tudo não passou de uma mentira. Passaria a me odiar se eu confirmasse. Sugeri amigavelmente que entrasse na fila.
Na época, tivemos um caso curto,mas muito bom, boas trepadas e amor a curto prazo. E agora a encontrei na rua, fomos ao um café, queria discutir o texto que lhe perturbava, agora depois tantos anos? Que porra é essa? Queria detalhes, queria tudo. Não respondi. Mas perguntei:
- O que isso ira mudar agora? Esta casada, com filhos, uma família estruturada...não perca seu tempo comigo porque eu não valho muito!
Ambos sorrimos, afinal as pessoas adoram o que não vale muito.Olhou-me:
-Mas isso é importante...
-Não é, o importante é o que se vive hoje. O passado sepulta-se fundo no tempo, é totalmente ilusório. Agora, se ficar abrindo todas as covas de tua vida, prepare-se por que nunca cheira bem? Você já mexeu em corpo morto em putrefação? Eu já. O cheiro custa a sair das mãos.
Fez uma cara de asco. Destas pessoas que sentem nojo facilmente. Não sinto nojo de nada. Aquele papo era uma perda de tempo. Não iríamos transar ou coisa parecida, ladainha emocional barata, justamente o que detesto. Não me irritei.Verdade demais faz mal as pessoas.
Ela fica parada olhando-me. Dou-lhe um abraço, digo tchau. Não tem mais nada a dizer. Saí caminhando do café. Penso comigo: as pessoas gostam de estragar suas vidas, ela estava bem, feliz, com filhos uma vida boa. Pra que remexer na merda? Uma batedeira de merda?
Quando se vive algo bom, vive-se tranquilamente, não dê atenção ao pequeno demônio que fica no teu ombro esquerdo. As pessoas escutam demais esse filho da puta!
As ruas do Porto são tranqüilas, silenciosas, boas para pensar solitário, próximo a água, é bom sentir o vento fresco, fico entregue ao meu vazio. Gosto de ir lá, ás vezes fumo um charuto olhando o São Gonçalo. Não sinto falta de nada.
Não queria acordar nada em mim, apenas ficar assim, solitário em paz. Ironicamente penso: acho que eu não casaria nem comigo mesmo. Começo a rir. É verdade, fico apenas sentindo aquela paz momentânea de algo simples.
Lembrei de Lúcia e seu vestido decotado, peitos grandes, tentando espremer verdades de mim, estaria apaixonada ainda? Não interessa mais, lembrei de nossa última transa, após uma das tantas brigas que tivemos, a briga final. Escandalosa, aos berros, objetos jogados, não reagi, nunca reajo. Não grito, não bato, quando as coisas tomam este caminho é porque não valem a pena.
Naquela noite de reconciliação,Lúcia era outra mulher, gozou muito, mijou em mim e dizia em gemidos que me amava. Sempre amam. Tomei com desejo seu mijo, a primeira e última vez. Era uma pervertida, fez tudo que gosto no último dia, mas agora era tarde demais, ela poderia ter abusado muito mais. Perdeu tempo.
Meu tempo estava acabando, parei de pensar isso, era hora de voltar para o trabalho, sepultar pensamentos mortos novamente, deixá-los lá na eternidade, como se nunca tivessem existido.
Fiquei em paz.

Luis Fabiano.
A paz as vezes é um cadáver,cremado.

Um comentário:

Anônimo disse...

Obrigada Fabiano,cumpriste tua promessa,o texto ficou dez.
Beijo.
a Lúcia.