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sexta-feira, fevereiro 19, 2010



Rosana, um chato coração

Não sou do tipo que se mete na vida alheia. Realmente não interessa a vida de ninguém, nem daqueles que me são “próximos”. Vivam sua vidinha, façam suas merdas, construa sua felicidade ou tragédia. Mas por favor, não me importune. Eis a minha fé no homem.
Rosana não era meu parente, mas de uma conhecida, que mais tarde veio a tornar-se minha amiga, amante, etc... depois, nos separamos, mudou-se para outra cidade, nunca mais nos falamos.
Não fiquei triste, gosto disso, uma espécie de conforto a distancia, fica a imagem de seu melhor, sorriso simpático, nos separamos sem conflitos, era necessário, ela foi embora tranqüila, eu fiquei em paz, um aceno e tudo terminado.
Na época Rosana já contava com cinqüenta e seis anos, casada com um bom homem. As pessoas são estranhas, ela o tratava como escravo informal, um capacho, ele submetia-se ,possivelmente submeter-se-ia ao infinito, não por amor, por costume, pelos seus filhos, pela estrutura familiar,por tudo.
Um bom homem, porem a vida requer compensações quando algo não vai bem, neste caso uma amante, bem próxima, a melhor amiga de sua esposa. Todo bom homem, tem alguma falha.
Eu sabia da historia toda, sua amante minha conhecida. Quanto a Rosana, eu entendia que merecia o tratamento a base de chifres, chata demais, deseducada, grosseira com o marido,ela o jogou nos braços de outra, carinhosa,atenciosa e mais bonita.
Detesto clichês, mas foi exatamente assim.
Mas a vida vez por outra gosta de sacudir um pouco a nossa existência, a ociosidade Divina precisa de divertimento. Então um dia destes mais normais, apáticos, Rosana tem um forte dor no peito, meio desfalecida foi levada ao hospital. La esteve entre a vida e morte, seu frágil coração parou de funcionar algumas vezes, esteve morta na mesa por alguns minutos. Mas pela graça de Deus, ou rejeição do demônio voltou a vida.
Quando abriu os olhos estava repleta de aparelhos, canos em todos os orifícios do corpo. Sentiu um alivio, estava viva.Renovada. Sua família que não era muito agregada, aproximaram-se pela comoção, mesmo seu marido sentiu culpa(não muita) por ter a amante,deu-lhe atenção redobrada,parecia que a vida de todos tomaria um novo caminho. Meus caros amigos, eis a minha profunda incredulidade. Ninguém modifica-se instantaneamente, não existe magia, bruxaria ou visão da própria morte.Não. Nos dias que se passaram, Rosana era toda delicada, quando seu marido aproximava-se,tornava-se mais frágil ainda, como uma criança fazendo manha e fingindo. Parecia uma pintura.
Mas nada como os dias que passam, Rosana torna ao lar, com o retorno, seu temperamento insuportável também. Antonio o marido,percebe a melhora, joga-se nos braços da amante, sem culpa. Rosana segue sua ladainha, dizia-se: eu sou cardíaca, sou uma mulher doente, muito doente...com alguma lagrimas.
Queria piedade barata. Mas nada aconteceu, Antonio inventava saídas a noite, estava feliz.Com o tempo, Rosana foi compreendendo que fora realmente rejeitada no inferno,que a felicidade não era possível da maneira que imaginava.
Queria ser o centro das atenções.Mas não agora.
Cinco meses depois do seu ataque cardíaco quase fatal, era exatamente a mesma pessoa. A amargura aumentou muito, quando encontrou um pequeno bilhete no bolso de Antonio, dizia: Amor, saudade de ti, sou toda tua.
Naquele instante Rosana desejou morrer. Mas o coração estava forte, nenhuma dorzinha, nem mostras de desfalecimento, nem falta de ar, estava muito viva, sentido tudo de bom e terrível que a vida pode nos presentear.Nada de morte.
Fui expectador desimportante desta tragédia, feita de clichês baratos, dor sob encomenda, e mostra dos mesquinhos pensamentos humanos.Nossa maneira de ser feliz é estranha,na maioria das vezes, é causando dor a alguém,não voluntariamente, mas naturalmente. Se hoje sorrimos, tenha a certeza alguém que você conhece ou não, chora por ai.
Rosana pensou em mandar Antonio para puta que pariu, mas faltava-lhe literalmente peito para isso. Calou-se em mutismo, inventou para si que o episódio do bilhete não havia ocorrido, não por dignidade, por mero egoísmo. Não estava em idade de começar uma nova vida solitária, agüentar uma cama vazia, chorar lágrimas sem fim, possivelmente depressão.Que era mais fácil de engolir, uma amante que estava em segundo plano ou a solidão com quase sessenta anos ?
Quando a pessoa não tem muito orgulho ou ego exaltado, deixa tudo como está,é mais fácil. Seguiu tudo como estava. A base de uma família “feliz”, quem se importa com essência?
Se aparentemente se está feliz, se está feliz e ponto final.

Luis Fabiano.

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