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terça-feira, fevereiro 23, 2010


O Felix de Camila.

Aquele deveria ser apenas mais um atendimento na área de informática. Mas quando la cheguei as coisas desandaram um pouco.Pra pior.Camila não é exatamente uma estranha para mim,sempre fomos colegas de escola e teatro.
Não amigos de cama, se bem a idéia de come-la não seria das piores, na época que a conheci eu preferi comer a nossa professora de teatro. Mais bonita, mais inteligente e mais ousada.E deu bola pra mim. Não se pode ter tudo, além do mais, depois vim a me apaixonar pela tal professora, tivemos um lindo caso de amor, adultério e putaria, com um final dramático repleto de clichês e dor.
Tornar a ver Camila novamente,despertou minha memória ,as vezes isso não é bom. Mas estava ali como profissional, queria a grana e ir embora rápido.
Quando cheguei em sua casa, pude notar uma quantidade exagerada de fotos de seu animalzinho de estimação, um gato persa. Belo bichano, gato castrado e meio apático e bobo. Até ai, tudo certo, afinal gostar de bichos é relativamente saudável. Porem cuidado ao gostar demais, isso nunca é muito bom, porque mesmo o excesso de amor, também mata como o ódio.Na vida se deve ter doses homeopáticas em tudo. Confesso que olhar a cara daquele gato nas fotos, não me passou uma boa impressão, ali tinha algo que não batia. Tenho a mente suja, as vezes até demais,passei a pensar o pior. Tenho para mim, que em algum momento todo mundo é, foi ou será filho da puta...
Para onde quer que olhasse, ali esta a foto do gato, no quarto, no banheiro,no computador,na sala, na cozinha,na biblioteca,uma camiseta com a foto do gato. Realmente algo não tava legal. Sou um tipo estranho, já comecei a olhar a Camila com outros olhos, investigativos. Existem pessoas que são um prato cheio a observação.
Comecei a fazer a manutenção do micro e instalar a rede conforme solicitado, entre uma coisa e outra, soltava perguntas contraditórias,aleatórias, despretensiosas para saber onde doía-lhe o calcanhar. Todos tem um calcanhar, as vezes tá bem escondido,doutras facilmente exposto. Desta vez minha intenção não era fazer maldade alguma, era apenas saber o porque do gato,que havia tomado tal dimensão. Não sou obsessivo com as paranóias alheias, mas as vezes na vida tudo tem o seu porque.Doutras, é melhor nem saber.
Quando perguntei pelo seu namorado, marido, noivo, pau amigo ou qualquer coisa, entre um riso suave, vi que sua cara havia ficado mais fechada. Bingo, era isso.O problema sempre é homem. Ela não sentia-se muito a vontade com o assunto, então adotei a idéia de contar primeiro minha tragédia.
Tenho um cardápio amplo delas, só escolher. Quando se conta algo assim íntimo a alguém, você pressupõe confiança, isso predispõe a pessoa a falar algo do mesmo naipe,forma de agradecimento inconsciente ou compensação. Psicologia muito barata, mas funciona em 99% dos casos.
Então Camila, começa falar de Marcelo, Celo como ela carinhosamente chama. Marcelo foi seu noivo. E embora tivesse passado já três anos, as feridas pareciam bem recentes, parei de fazer o que estava fazendo e fiquei escutando atento:
-Quando o conheci, era um advogado recém começando a trabalhar, mas a família dele sempre teve muita grana, tinham estimativa que ele casasse com alguém de posses. Eu nunca tive dinheiro, sempre trabalhei para comprar as coisas.(o gato foi para seu colo) Ele sabia disso, Celo parecia um príncipe, desafiou a família, disse que iria se casar comigo.Ficamos noivos, eu ganhei até um anel de família, que havia pertencido a bisavó. Eu achei tudo aquilo demais, amando aquele cara, ele fazendo mundos e fundos por mim, puxa eu era uma mulher muito feliz.
Ela falava tudo isso, eu já estava com uma impressão imbecil de quem assiste novela das oito, e pior, acredita!Decididamente a dor humana é cheia de clichês, todos sofremos pelas mesmas merdas, e isso é bom? Que porra.
Queria que Camila, falasse alguma obscenidade qualquer, para quebrar o clima desagradável. Que dissesse que havia dado para o seu chefe na mesa do escritório, que estava com uma dor anal de tanto sexo com o vibrador grande...sei lá qualquer coisa,mas não,nada.Mulher normais não falam assim.
Era complacente demais, este tipo não serve nem pra sexo, entedia! Meu pensamento divagou, então olhei para Camila e o gato, seguiu dizendo:
-Tudo estava certo para o casamento, então o cara me aparece aqui em casa, diz que não quer casar mais, que a família estava pedido o anel de volta ,que principalmente, ele havia conhecido uma advogada, que era mais bonita,gostosa, inteligente e rica. Foi tanta informação , que na hora nem consegui sentir raiva, fiquei triste demais. Meu sonho tinha sido desfeito em um piscar de olhos, por algo que não conseguia entender o porque.
Camila falava pelos cotovelos, mas eu queria saber onde o gato entrava em tudo isso? Maldita curiosidade.
Então...
-Por um bom tempo fiquei sozinha(até hoje,não quero saber de homem), estive deprimida, chorava sem parar, por todos os lados, nesta casa, solitária. Tive a sugestão de uma amiga genial, ter um bicho de estimação, foi aí que o Felix entrou em minha vida. Desde que ele chegou em casa, minha vida mudou completamente, foi ele, ele me ama e eu o amo .
Eu disse sim...
Mas é, ele dá muita sorte, me espera, me beija,dorme comigo...
Então notei que ela tratava o animal como se fosse hora um filho, hora um marido, alternava entre tratamentos, não percebia isso. Quando ele fazia cocô, ela chamava de filho e limpava a bunda do gato, quando ele estava na cozinha,ela chamava de Felix em tom mas seco. Não precisava saber mais nada, Camila tinha feito uma transferência emocional do Celo para o Felix, a grande diferença, que possivelmente Felix vai deixá-la apenas quando morrer, imagino por profunda falta de opção.
Terminei meu serviço, cobrei pela consulta psicológica também, afinal informática com direito a pseudo-psicólogo sai mais caro.
Sai pensando, em dezenas pessoas que tem tal apreciação exagerada pelos animais, existe algo de errado mesmo...

Luis Fabiano.
A paz é um felino fugindo da jaula.

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