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sábado, dezembro 12, 2009


Navalhada curta: Abraçada a esperança.

Eu estava saindo do templo, em certa paz relativa e espiritual. Olhar compassivo para com as fragilidades humanas, assim deveria ser sempre em minha vida. Mas não dá. O ser humano é anjo e demônio. Tiramos na sorte quem vamos ser, o momento, o instante decidem.
Olhei para frente no portão de saída. Uma senhora sentada,encolhida a porta de um bar fechado. Em primeiro momento pensei que abraçava uma criança, possivelmente dava de mamar.Cheguei a sorrir comigo mesmo.Veria uma teta enorme, com bico duro e rosado, gosto de seios.E seios que amamentam mais ainda.
Mas não, nada disso. Quando me aproximei para pegar o carro, percebi o semblante desesperado dela, e o que ela abraçava era um pequeno cão. Enrolado em uma coberta de criança.
Pude ver que chorava aquele choro espremido, abraçando o cão. Na hora meu coração se oprimiu, a paz fora embora. Via a dor dela.Tristeza a porta do templo.
O cachorrinho era a sua tabua de salvação. Baixei meus olhos, alguém se aproxima de mim e comenta com voz muito baixa:
-Viste essa mulher?
Concordei.
-Pois é, ela ta assim desde que o filho morreu em um acidente, tinha vinte anos. Foi uma fatalidade. O cachorrinho era dele.
Me calei. Procurei pensar algo bom para ela. A dor é uma ferida aberta.Desejei que o tempo passasse rápido para ela, que a dor passasse.
Era tudo que eu poderia querer.

Luis Fabiano.

Um comentário:

Dóris disse...

Quando perdemos pessoas que amamos muito, a dor apenas ameniza, mas nunca passa realmente, fica dentro de nós.