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sexta-feira, novembro 20, 2009



Vem cá Totó, vem...

Gosto de caminhar em meus intervalos de trabalho. Me faz bem, respiro o ar da rua, e aproveito para pensar algo útil ou nada, talvez mais útil, gosto do meu trabalho, mas ele não necessariamente criativo, é repetitivo, natural e previsível. Informática tem glamour no nome, mas não passa de um martelo sofisticado.
É exatamente como vejo as pessoas, repetitivas.Nada me surpreende ou excita excessivamente, nada. Gosto que seja assim, é um pouco frio, mas me da paz. Sou assim.
Na rua me detenho a ver tipos, identifico com um olhar o tipo humano ali, como disse, as pessoas são previsíveis, dentro de uma esfera de comportamento humano e reações, tudo é possível.Todos somos capazes de fazer qualquer coisa. Gostamos de negar, é mais limpo e educado negar, negar nossa própria brutalidade e também negar nossa angelitude. Os detalhes me fazem pensar, o grosseiro não.
O detalhe é o tom de voz, o jeito de olhar,a maneira de andar. Voltava da minha caminhada, aquele dia nada havia me chamado atenção, havia um pouco de revolta por causa disso, pensava: realmente todos estão literalmente virando merda! Todos comuns demais, asco.
O que tirava um pouco minha passiva revolta, eram bundas, adoro bundas, todos os tipos,pequenas, enormes e gordurosas, essas ultimas em especial, adoro enfiar meu nariz entre as nádegas volumosas e ficar ali, perdido em um universo a parte de cheiros.Isso me faz bem, e as vezes me eleva.
Próximo ao meu trabalho um mendigo me chama atenção. Mendigo comum, sujo, jogado no chão, um irmão aos os de Deus, embora ele o tenha esquecido.
O mendigo chamava um cão, muito bonitinho de rua, mas parecia bem cuidado, limpo e jovem. O cão fazia festa para os transeuntes indiferentes. Diminui meu passo. O mendigo chamava, e o cão totalmente indiferente a ele. Os passantes indiferentes ao cão, que seguia latir, queria brincar.
Achei aquilo muito estranho,sucessão de indiferenças. O cão não percebia o mendigo.
Mas porque?
Um vira lata dá atenção gratuita a todos por nada.
Parei de andar disfarçando olhar uma vitrina tola, queria saber o final daquela historia. O cão começa a afastar-se, o mendigo, levanta-se, agora quer o cão. Em mim pressinto algo de mal, não sei, fiquei com pena do cão, pena antecipada talvez. Ele apressa o passo, e pega o cão pelo rabo, gritos do animal, então o mendigo agarra o cão, trás para junto de si, pelo pescoço, o cão não sente-se a vontade, quer ir embora, não suporta o mendigo chato.
O mendigo tenta seduzir o cão(a miséria também dá propina), dá a ele migalhas de um pão velho, comida sempre seduz.Não aquele cão. Assim que o mendigo aliviou a pegada, fugiu em disparada, deixando seu algoz para trás.
O mendigo, sentou-se novamente no chão, as pessoas passavam indiferentes, tentou esticar o corpo ali próximo a valeta úmida. Um silencio, vi na sua face um lagrima tímida, dessas que são espremidas de grandes dores. Alma corroída como os trapos imundos que usava. Indiferença até de um cão? Me parecia a gota d’água. Ficou ali, imóvel. Eu tinha a certeza que ele queria morrer, as pessoas não sabem lidar bem com indiferença. Sentem-se chicoteadas, as vezes fundo demais.Não senti pena .Era o que era,vivemos em muitos mundos, existem universos entre nós e os outros.Tentava lembrar se em algum momento da minha vida, se a indiferença me causou alguma tristeza.
Não lembro, não sou de me entristecer, nem mesmo quando vale a pena, conservo sempre a armadura polida.
Fiquei feliz pelo cão. Não queria carinhos forçados, afagos cheios de interesse, não. O bom sempre é espontâneo e livre. É horrível ficar preso a emoções ruins, a carinhos que não se quer, a beijos mornos ou um gozo sem vontade.
Fui embora ,deixei o mendigo e a miséria de suas lagrimas,o cão feliz por aí em algum lugar. Era preciso ir trabalhar,sempre é preciso fazer alguma coisa.

Paz profunda.
Luis Fabiano.

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