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sexta-feira, novembro 27, 2009



As flores de Amanda.

A gravidez a havia deixado horrível. Não lembrava em nada a mulher leve, bela e de sorriso fácil e fútil. Agora, ao final da gravidez, era um chumbo em todos os sentidos, mau humor e um pouco de arrependimento.
Deveria ter feito o aborto no inicio da gestação, mas agora, aquilo nadava dentro de suas entranhas. Não teve coragem, e agora o risco seria grande demais.Pensaria em outra solução depois.
Lembrava bem daquela noite, em que transou com um desconhecido, festa, muita bebida e tesão, entregou-se fácil demais, queria um pouco de prazer para aliviar distrair, como um escambo consigo mesma, o cara era tão bonito, valia a pena. Depois, sempre tem depois.
Preço alto demais, as vezes é assim,agora é tarde.
Nunca mais o viu.
Passou por ele uma vez quando estava na rua, a barriga enorme, ele fez que não a viu,para alguém fácil, isso tornava-se tão difícil.Gerou um bastardinho, sem pai e com uma mãe arrependida,segundos de prazer que se estendem para o futuro.Que esperar do futuro? Que futuro?
Os nove meses passaram muito rápidos,quando viu, estava a uma semana do nascimento, não sentia-se mãe em nada, nem sabe o que sentia. A questão não era dinheiro, tinha condições, seu trabalho como jornalista rendia bem, mas Amanda era uma mãe triste. Teve muitos planos em mente, e muito poucos realizados, agora este filho do destino,da burrice,do prazer e da dor.
Nasceu Marlon, deu este nome porque amava Marlon Brando,um nome que não havia escolhido antecipadamente, alias não tinha antecipado nada, o bebê tinha poucas roupas,e ela foi sozinha ter o filho no hospital, orgulhosa, não gostava de pedir ajuda. Orgulho demais envenenando sua maneira de viver.
Quando ouviu pela primeira vez o choro de Marlon, teve um tremor estranho, uma breve queda de pressão, desfaleceu, ouvia apenas ao fundo aquele chorinho que foi sumindo, sumindo...acordou, estava no quarto, o bebe dormia ao seu lado, olhar aquele rostinho pela primeira vez, dormia suave, tão pequeno, tão fofinho.Ali, Amanda virou mãe.
Aquele pequenino tão frágil, fez apagar todo o passado pesado, o descaso dela, o pai desconhecido, aquilo tudo nada mais significava, da desgraça de sua vida sem sentido até ali, o porto seguro de Marlon. A mente viajou, lembrou de suas violetas, esquecidas, secas e sem cor.
Gostaria de devolver-lhes vida , como a vida era importante, mesmo a sua.
Os dias que sucederam, foram de nascimento para Amanda, renasceu, entregou-se a maternidade, virou a melhor mãe de primeira viagem, dormia pouco, alimentava-se quando podia, e vivia um instante de todo especial.
Foi ficando com olheiras, não sei como vocês entenderão, mas ela não estava feia, seus olhos tinham o brilho de cintilantes estrelas, estava feliz, um esgotamento suave, um cansaço flutuante, palavras contraditórias que querem dizer que o corpo pesava, mas a felicidade não.
Marlon crescia, já fazia três meses, ele estava lindo, os bebês são sempre bonitos, talvez nem sejam tanto.Mas nossa esperança é tanta, amor, carinho e dedicação, são transformadores da realidade pessoal, por conseguintemente do mundo.
Mudamos pela beleza próxima a nos e pelas dores em nós.Talvez filhos alheios não nos digam nada, nem nos interessam, mas o rosto sereno e adormecido de Marlon...
As violetas de Amanda, voltaram a florir, cores diversas se multiplicavam. Ainda não sabia do futuro, não pensava nisso, vivia o momento, devagar e de cada vez, Marlon iria crescer, sabia que teria de dizer duras verdades para ele um dia.Queria apenas que ele não ficasse triste com ela, mas a seu tempo, não agora, não agora.

Paz profunda.

Luis Fabiano.

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