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quarta-feira, outubro 14, 2009


O tamanho da verdade.

Rugia em alta voz; ”...olha que vou dizer a verdade hein? - E ria meio que babando-se em um salivar abundante e espumava, de fato era a verdade literalmente cuspida a quem quisesse ouvir, isso era um nojo,naturalmente coisas, emoções que a “pura” verdade por vezes provoca.
Se disséssemos a verdade o tempo todo a todos que nos cercam, o mundo já se teria extinguido. Mas Honório, tinha-se por muito verdadeiro, desses que exageram a tudo, eles vêem uma borboleta e dizem que viram um Óvni, olha-se no espelho desnudo vê em seu diminuto membro, um colosso monumento mais rijo que a rocha e imenso, tão imenso que um jumento lhe te inveja. Esse era Honório, sujeito apalermado que como um inquisidor falido queria que as pessoas dissessem sempre a verdade, se alguém chegasse com a cara meio triste, lá estava Honório a questionar: que houve? Morreu alguém? Brigaste com o companheiro (a)?
Era indesviável, tinha para si que a verdade tinha que ser absolutamente chocante, então quando faltavam cores na dita verdade, ele as “pintava” com cores mais fortes, ficava mais bonito e cheirava mais a verdadeiro.
O exagero de Honório era patológico, porem não tão distante de nós, a simplicidade da verdade não nos aplaca o desejo, é preciso que tudo tenha uma cor berrante, formas esdrúxulas e que maquiado como uma apresentação teatral seja entendido. Olhavam todos para Honório com um ar de piedade Freudiana, nem sempre fora assim, era homem discreto e quase opaco diante das emoções existenciais, e isso sempre é um problema,ser opaco diante tudo é uma espécie de morte em vida. Sua vida, seu trabalho,os parentes e esposa, sim a esposa a bela, respeitada, amada e pura Zuleica.
Zuleica era uma dessas mulheres que os homens medievos dizem costumeiramente; mulher para casar. Recatada em todos os aspectos, era para Honório esteio de seu amor e paz, tudo ia bem, e isso quer dizer que tudo ia de uma opacidade baça,porem um dia Honório chega em casa e na mesa apenas o bilhete.
-Fui embora, não agüento mais tua insensibilidade, meu amor por ti acabou.
Adeus
Zuleica.
Aqui foi um choque, talvez verdade demais para nosso Honório que daquele dia em diante embirutou de vez e queria saber apenas a verdade, porque Zuleica que nunca havia reclamado de nada fora embora, daquele dia em diante achava que todos tinham algo a esconder, naturalmente ele não estava muito longe da verdade, porem exigir que todos digam a verdade era no mínimo anormal, a mentira esta tão entranhada que sempre que alguém quer saber verdade ele soara como doente.
Nunca mais Honório tivera noticias de Zuleica, anos já haviam passado, ele sempre daquele jeito, tentava arrancar todas as verdades das pessoas, ironicamente as pessoas mentiam para ele, afinal era mais fácil mentir que dizer algo simples que ele não acreditaria. Isso foi até algum tempo atrás quando subitamente alguém resolveu ressuscitar os mortos (não estou falando de Jesus...), mas uma companheira de trabalho de Honório, fofoqueira profissional e desocupada, que naquele dia estava com misteriosa inspiração, e pergunta queima roupa:
-Honório, e como vai a Zuleica? Tens visto ela? Vocês não vão voltar, não?
Honório ficou algo sem graça, aquela verdade nunca havia aparecido, aquele bilhete sem graça era como a sua vida tinha sido, sem cor, vida e brilho.
A fofoqueira olhava-o inquiridoramente e largou:
-Diz homem, fala alguma coisa, mas a verdade hein... e ria como entidade.
Honório queria inventar uma historia como de costume, mas aquelas palavras do bilhete ainda lhe ardiam no coração, uma pequena verdade com um estrago imenso.
Entendeu enfim o tamanho da verdade.

ps - tudo na vida é absolutamente simples, o que agregamos a maquiagem, os efeitos especiais, o brilho excessivo e as projeções de nosso ser em desalinho, criam monstros que não existem e emoções fantasiosas.

Luis Fabiano.
Paz Profunda.

Um comentário:

Dóris disse...

Muitas pessoas levam muito tempo para entenderem o tamanho da verdade, mas na maioria das vezes, nem entendem. Não se conhecem.
Um bom texto.