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domingo, outubro 11, 2009



Dia da criança

Dizem sempre que é bom sabermos a origem das coisas, neste sentido a sua historia, a causa, para podermos avaliar e entendermos o porquê dos acontecimentos que marcam a nossa vida, confesso que as vezes a origem é indigna, e através de tal manifestação gesta-se bons acontecimentos ,deixando claro que por vezes a criatura humana é deplorável mas ainda assim abre espaço para amar, como seja possível, amor fraturado repleto de contrariedades, mas ainda assim amor.
Abro espaço em minha prosa vulgar para contar-lhes um fato, a historia de André menino comum destes que vemos todos o dias nas ruas a pedir trocados na ânsia de alimentar-se,comprar alguma bala e tentar sorrir como uma criança deveria sorrir sempre, porem a existência é por vezes mordaz e cruel , com oito anos sua vida não era nenhum mar de rosas não. Uma família sem família, mãe o colocara no mundo como uma cadela ordinária vira latas que pare cães e não tem como os alimentar, a lembrança de sua mãe eram gritos insanos,a lembrança de sua mãe eram os tapas incessantes, os cabelos despenteados dela com um olhar perdido e o vicio, sim a bebida, garrafa de cachaça vazia, não havia comida, aquele bafo de cachaça de sua mãe, lembranças dolorosas sem fim,destino cria-se, a rua recebera Andre de braços abertos,a selvageria de sua casa era tanta que a rua lhe pareceu um paraíso feito de nada, na rua ele não era nada,mais um só.
Sentado na beira daquela calçada imunda André lembrava, e seu pai?
Pai?
Não sabia quem era, sua mãe recebia homens estranhos em casa, e eram tantos, lhe usavam, compartilhavam da bebida e iam embora sempre em tempestade,sempre quis ter alguém para chamar de papai, mas quem? O pai não era ninguém, nem sequer um nome, uma foto sem rosto, um abraço que nunca veio, e um brinquedo? Nunca recebeu um brinquedo.
O berço da miséria não era apenas financeira, eram farrapos de alma, maltrapilhos sentimentos feitos de aridez, revolta e dor, porem André não era mau menino, queria apenas um ombro para reclinar a cabeça, e não a fria pedra que com o tempo ja estava se acostumando a dormir, queria voltar para casa e ser recebido pela mãe, mãe por favor..mãe me abraça...eram ecos de seu pensamento.
As más companhias sempre rondam a espreita com ânsia voraz de nos levar aos infernos, mas não gosto de referir-me assim, não eram maus, eram outros infelizes a busca de alivio imediato, André misteriosamente resistia aquilo, era o crack, as bebidas, a maconha e ele via seus amigos alucinados, não tinha nada a perder afinal, é sempre assim quando não se tem nada a perder tudo torna-se válido, mas não, via na alucinação de seus amigos a loucura de sua mãe o que lhe dava medo e asco, trocaria tudo aquilo para ter um lugar onde voltar, onde lhe sentissem falta ...o que lhe alegrava eventualmente eram os Raps que fazia de brincadeira, no brilho do seu olhar mesmo tendo tudo contra si, sorria com os poucos de momentos de felicidade, se o querer fosse tudo, Andre já conseguira, resgatava um pouco de céu na busca da paz.
O tempo passa muito rápido, que estaria fazendo sua mãe agora?
Será que ela sentia saudades? Não sei. Caminhava perdido naquele calçadão enorme, cheio de pessoas entrando e saindo das lojas, compras, consumismo, porque tudo aquilo?
Amanhã era dia das crianças, era isso, dia da criança para muitas crianças que ganhariam presentes, e seriam felizes e algumas até reclamariam do seu Playstation novo, eu nunca vi um Playstation, é legal né?
Sem milagres, nem salvação,nem Nossa Senhora Aparecida lembrou-se de André, hoje é dia das crianças,o presente não veio, sua mãe não apareceu, no destino incerto o abraço no vazio, eu preciso descansar um pouco, queria adormecer esquecer tudo isso agora.
Um presente, você dá um presente?
Lágrimas silenciosas, hoje é dia das crianças.

Entre o inferno e o Céu.
Paz profunda.
Luis Fabiano.

Um comentário:

Dóris disse...

Infelizmente, em todos os cantos do Planeta é a mesma estória sempre....Como aqui, e como aí, sempre vão existir crianças nas ruas....crianças que são filhos(as) do acaso....de pais e mães ausentes. E isto não acontece somente nas famílias miseráveis....isto também acontece em famílias com posses. Pois não é o dinheiro que dita a maneira dos pais educarem seus filhos.....crianças necessitam é de AMOR, CARINHO, COMPREENÇÃO e RESPEITO....sem isto não se vive....ou melhor, tentam viver, mas vivem mendigando, um trocado, um sorriso, um gesto de carinho.....
Esta é a realidade.

Parabéns....como sempre um bom texto...e um texto que nos abre os olhos para as coisas que acontecem em baixo dos nossos narizes.