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segunda-feira, outubro 26, 2009



Ao som do morrer.

Desculpem-me o vocabulário chulo, mas tenho a nítida impressão que por vezes coisa oriundas de um verdadeiro filho da puta, eclodem na vida como espinhas na face de um adolesceste,explosão de hormônios que pipocam e tornam o rosto uma cratera lunar,aquela face de seda, da lugar a manifestação de poder da natureza brutal.
A natureza é por vezes hostil a nós mesmos, e Sonia viria a descobrir isso da pior forma possível, linda longos cabelos negros, sorriso de Monalisa, uma pele tão branca quando a lua, era toda contrastes, olhos negros e brilhantes e uma alma gentil, boa mesmo de um sorriso doce irresistível, atenta sempre as suas tarefas tanto profissionais como em casa, mantinha tudo em uma harmonia que era a sua musicalidade, sem gritos, sem alarde,passiva e flor do tempo.
Estranhamente, como que uma troça da natureza, veio a colocar a bela Sonia ao lado de Ambrosio seu truculento marido, se ela era arte, a beleza, a sensibilidade, Ambrosio era a antítese disso, tinha uma filosofia política que o levava a raias da loucura fanatica, convicção estúpida partidária que imaginava ter poder sobre o mundo, mas enquanto o mundo não se dava conta disso, quem sofria era Sonia.
Ela relevava dentro de sua inesgotável paciência, e Ambrosio chegava a noite e sempre aquela lenga,lenga partidária, seu discurso cheio de vontades, acreditava na revolução, o grande problema era a sua infinita chatice, Sonia ouvia aquilo e bocejava as vezes, aquilo era uma ofensa a sua convicção na hora do jantar.
Com grosserias, dizia que ela era uma alienada, perdida em um mundo em que tudo se compra, ela sorria, as vezes chorava, e doutras, a arte a salvava, entre tintas e pinceis, ou nas folhagens que tanto amava, sua alma buscava um mundo mais tranquilo, doce talvez.
Como seus alunos era mais que amada, todos a chamava de Sol, pois ela iluminava a vida por sua simples presença.
Porem, certo dia Ambrosio, xiita decide que iriam para uma terra distante tentar a vida, pois buscavam terras para famílias que precisavam trabalhar, um circo feito de vitimas guiados por lobos famintos que ansiam por poder. Chegou em casa e disse Ambrosio com olhos rutilos:
-Sonia vamos juntar nossas coisas, e vamos embora lutar pelo povo, já acertei tudo, larga o teu emprego que o interior do Paraná nos espera, é coisa mais linda deste mundo!!
Sonia assustada, rio aquele riso sem graça, ir embora assim, braços abertos ao desconhecido.
É nestas horas que questiono o sentimento, Ambrosio era um trator egoísta e Sonia fragilidade, galho quebra com o vento, gostava de Ambrosio é certo, um gostar cheio de dignidade, livre até de sí, cederia para faze-lo feliz...
Me irritei profundamente, uma tola irritação de quem não entende misteriosas emoções, que levam, que trazem que a tudo transformam.
Quando chegaram ao interior do Paraná, terra de barro vermelho, miséria infinda de tudo, de todos, de alma, a casa que o movimento havia conseguido a Ambrosio era justamente ao lado de um matadouro,havia o som constante da matança, o choro dos animais prestes a morrer, e Sonia que era toda luz, não conseguia fazer-se brilhar.
Dia após dia, Ambrosio feliz e realizado num projeto que não saia do lugar, mas que a seus olhos crescia muito, balão de vento cheio, vazio. Sonia dia a dia,e aquele som, aquele mugido, e o silencio, o mugido e o silencio, uma tocada que lhe levava a morrer um pouco a cada dia.
Fez de tudo para não ouvir, colocava a musica alta, por fim emudeceu também, pouco a pouco, a sua musica não mais se fazia ouvir, a cada morte, morria também, não teve forças físicas, só um sorriso sem graça, uma lagrima, silencio.


Ante a brutalidade que a vida nos propõe, as almas desarmadas fenecem,não por fraqueza mas por dignidade,parte de nós morre e parte vive.

Luis Fabiano.

Um comentário:

Dóris disse...

Alguns relacionamentos, ou te fazem querer viver mais a cada dia, ou vão te matando a cada dia.
Mas sempre se tem outras opções....se algo está tentando nos matar, sempre podemos escolher um novo caminho...e de preferência que seja a liberdade.